João Pedro Tormenta
Neto Francisco
Historiador
Exibindo uma paisagem singular, a Serra do Bouro está localizada entre o mar e as várzeas da antiga lagoa de Alfeizerão. É um território de aglomerados dispersos, com um legado identitário comum, construído ao longo de gerações.
Das elevações da Serra do Bouro, vislumbramos um panorama magnífico, que se estende desde as colinas até à linha de horizonte no mar. A visão da vastidão do oceano, em harmonia com o verde exuberante das encostas, convida a desfrutar a beleza da paisagem que une a grandiosidade das montanhas ao encanto do mar. Uma brisa salgada mistura-se com o aroma das plantas e da terra, proporcionando um ambiente fresco e revigorante.
Não obstante a sua beleza, a Serra sempre apresentou desafios significativos para aqueles que a habitavam. O seu terreno acidentado, assente numa grande colina rochosa, não muito fértil, fez predominar a pequena propriedade. Com um clima frequentemente húmido e pouco ensolarado ao longo do ano, a Serra tornou-se num território árduo para quem precisava de cultivar a terra e dela retirar o sustento para si e para a sua família. Esta condição conduziu muitos dos seus habitantes na procura de outras paragens, na esperança de uma vida melhor.
No início do século XX, Portugal enfrentava uma profunda crise económica e financeira, alimentada por uma permanente instabilidade política e social, agravada, ainda, pela devastação ocorrida na Primeira Guerra Mundial. A fraca industrialização do país contribuía, em muito, para a degradação da situação e para a falta de trabalho fora dos campos. Muitos tiveram de buscar uma melhor oportunidade de vida no longínquo continente americano, onde a procura de mão de obra era elevada nos vastos territórios plenos de recursos, ou nas grandes metrópoles em crescimento.
A Argentina dos anos 20 do século passado era um desses países, que em pleno crescimento económico absorvia centenas de milhares de emigrantes oriundos de toda a Europa. Também os da Serra para lá rumaram há 100 anos.
Nesta foto de grupo, tirada na Argentina, nos anos 30, provavelmente em São Fernando, no norte de Buenos Aires, encontramos um grupo oriundo da Serra do Bouro. Nela identificamos: À esquerda, sentado, Júlio Maia (avô de José Amadeu) – Cidade; Também sentado, terceiro a contar da esquerda, Joaquim Martins – Casal do Celão; Levantado, terceiro a contar da esquerda, José Francisco (meu avô) – Cidade; também levantado, sexto a contar da esquerda, Pedro Teófilo – Casal do Celão; Entre outros que, pela distância temporal, não conseguimos identificar. ■