Tudo por fazer

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Na última crónica manifestva-se o desejo que os actuais autarcas pudessem aprender a transformar uma localidade num destino turístico. Na actual cultura política da maioria dominante uma aprendizagem destas poderia operar pequenos milagres na transformação da cidade e do concelho. Como teimam em portar-se como donos do território sem qualquer capacidade de ouvir a oposição, ou a população. Para além de um ou outro truque de propaganda, que fi nge dar atenção a propostas vindas de fora do seu seio, a surdez é total. O PSD local comete a proeza de juntar contra si toda a oposição, da esquerda à direita. Fosse outra a cultura política desta maioria e até seria possível promover alguns consensos em torno de questões estratégicas para a cidade, o concelho e até a região. Aproxima-se o verão. Já se adivinham as conferências de imprensa do vereador do respectivo pelouro a anunciar Urbi et Orbi que este é um verão recordista para os indicadores do turismo local. Tal como fez no ano passado. Esquecendo-se de indicar quais os seus termos de comparação. É que o turismo em Caldas da Rainha está moribundo se o compararmos com um passado já razoavelmente distante. Os actuais indicadores esquecem, muito convenientemente que até ao encerramento do Hospital Termal só esta estrutura trazia às Caldas 10 mil aquistas por ano. E só por motivos terapêuticos. Com uma permanência média de três semanas na cidade com tudo o que isso signifi ca para a economia local. A actual maioria não tem qualquer estratégia para recuperar esta dimensão da nossa oferta termal. Por isso não está nada interessada em comissões da Assembleia Municipal onde fi que subitamente exposta toda a sua incapacidade com fragorosa estridência. A cultura política instalada, num misto de autismo e arrogância não lhe permite abrir vasos comunicantes com a oposição e com a população em geral, de onde poderiam sair muitas e boas sugestões para um esboço de estratégia que desse início a um caminho novo. Ao caminho da estratégia a maioria laranja opta invariavelmente pelo do populismo. Com um Orçamento Participativo (OP) que ameaça tornar-se num caso de estudo pelos piores motivos, estando à beira do precipício decidiu dar o passo em frente. Vários passos, aliás. Senão vejamos: Desde 2013 que anda com os primeiros projectos por concluir; não os conseguindo concluir, passa o OP a bienal; invés de fazer o esforço de concretizar os projectos aprovados, decide que todos os projectos apresentados serão para executar (?!?!) – o que levanta uma questão essencial: e os munícipes votam para quê? Se o OP é um mecanismo que estimula a participação exactamente por trazer à população a possibilidade de fazer escolhas pelo seu voto, se tudo é para executar, para que serve o voto?… Uma originalidade da nossa maioria, que não satisfeita, ainda acrescenta o OP Jovem – nunca tendo o OP em si qualquer limitação etária, de género, racial ou outra. Entre a desorientação total e o populismo mais demagógico, vale tudo, em nome do marketing político, que é a única fi nalidade que a CMCR encontra no OP. A regeneração urbana que tudo prometia e ainda nada concretizou, está bem ilustrada pelo actual estado do Mercado do Peixe. Toda a cosmética urbana acompanhada do habitual foguetório, fi ca exposta pelo buraco negro em pleno centro da cidade em que se tornou este mercado. A sua localização e condições à priori exigem um projecto integrado. É urgente recriar este espaço, dar-lhe um sentido colectivo e um papel social distinto. Faze-lo em articulação com a Praça da Fruta, mas também com o CCC. Ter o objectivo de qualifi car a oferta do comércio local e também da restauração, mais tradicional ou mais criativa. Articular isto tudo com a atractividade do centro histórico, a mobilidade em geral e o parqueamento de autocarros de turismo. Continua tudo por fazer.
Lino Romão