O ponto de partida é Alexandre O´ Neill («O amor é o amor – e depois?»), o poeta do adeus português a Nora Mitrani: «O meu amor partiu para uma noite gótica / partiu a uivar aos mortos / bebendo directamente das veias / o sangue que nos corre até ao coração desarmado».
Entre canção e reflexão a poesia é o lugar do encontro. Para dançar são precisos dois – como Fred Astaire e Ginger Rogers: «Pode ser difícil de acreditar / mas a dança chegou-me / muito antes da coreografia / do corpo cadenciado ao ritmo da voz / dos passos marcados pela mágica de um sorriso».
Para perceber melhor as feridas do amor juntam-se Ernesto Sampaio e Fernanda Alves: «Não sei quem és. Não sabes quem sou / Somos apenas alguém à espera / fantasiando o absurdo da vida / crentes de que um dia o nada de onde viemos / possa tornar-se o tudo para onde vamos».
Jorge de Sena poderia ter dito a Mécia de Sena («Esta noite sonhei contigo») enquanto Fellini poderia ter dito a Giulietta Masina – «Ninguém dá flores às flores. / O que eu quero é um ramo de poemas / para oferecer à minha flor».
Não o sabendo de certeza, o poema aventura-se a adivinhar as palavras trocadas entre amantes lendários como Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, Rainer Maria Rilke e Lou Andréas-Salomé, Ulisses e Penélope, Sylvia Plath e Ted Hughes ou Humphrey Bogart e Lauren Bacall de onde vem o título do livro: «Não digas que foi um erro ficarmos / um dentro do outro / durante todo o fim-de-semana. / Não digas que em redor das nossas desavenças / se apagaram todas as lâmpadas».
(Colecção Insónia, Capa: Maria João Lopes Fernandes, Composição: Pedro Serpa, Impressão: DPI Cromotipo)