Um novo ciclo

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Encerrado um ciclo eleitoral com as últimas presidenciais, em condições normais só teremos eleições em 2017 e serão as autárquicas. Com as legislativas de Outubro passado aprendemos que há ainda possibilidades de composições inéditas dos órgãos de exercício do poder. E se isto acontece a nível nacional porque não abrir caminho para outras possibilidades também a nível autárquico?
Nas Caldas já se percebeu que por mudar o protagonista do poder local, não mudou, todavia, nada de muito substancial no exercício do actual mandato. Apesar de algum folclore sobre as diatribes que volta na volta animam as hostes laranjas. O que é certo é a tendência para o imobilismo e para a inércia são de tal forma uma marca de água (morna?) do PSD local que os tiques lá se mantêm. Senão vejamos o último episódio relatado pela imprensa, o da visita dos autarcas ao Hospital Termal e aos Pavilhões do Parque. Aí se foi descobrir que o património está em muito pior estado do que se imaginava… Num hospital com serviços encerrados há cerca de dois anos e sobretudo nos pavilhões votados ao completo abandono, não seria espectável que as coisas estivessem em más condições? A surpresa dos insignes autarcas, que ficaram muito admirados, não deixa de causar alguma perplexidade. É caso para dizer que a surpresa do leitor é o facto de os autarcas ficarem surpresos.
Desde 2011 se percebeu que à Câmara interessava ficar com o Hospital Termal e todo o seu património. Era uma espécie de trofeu simbólico que o PSD local muito desejava exibir perante os seus apaniguados. Quando o anterior governo troikista quis abater o Hospital Termal ao efectivo do SNS nunca os protestos locais foram muito convincentes. Pelo contrário, nas celebrações do 15 de Maio foram convidados sucessivamente figuras do governo de então que estava justamente a “tratar da saúde” ao hospital. Passe a expressão. Do inenarrável Miguel Relvas, ao Ministro da Saúde Paulo Macedo, o tal que não tinha dinheiro para alimentar os pavões do parque… que nunca lá existiram… Ao secretário de estado que afirmou que o termalismo não fazia parte do “core business” da saúde… Uma expressão “hardcore” e reveladora da visão da saúde como qualquer assunto de mercado para esse governo, vieram cá todos com pompa e circunstância, munidos dos previsíveis discursos de satisfação e apaziguamento das reivindicações locais. O benefício local de tanta visita importante e ilustre é muito discutível e largamente deficitário para as populações em geral.
A Câmara exibe agora o Hospital Termal como troféu, mas à ambição de o ter soma-se o problema de não saber o que lhe fazer. Anuncia-se a intenção de lhe fazer obras e reabri-lo em 2017. Uma abordagem leviana para quem recebe património sem saber as condições em que se encontra nem a dimensão das obras e o respectivo orçamento para pôr o Termalismo a funcionar de novo. Que recebe este património sem um inventário que o acompanhe, que pelos vistos a administração do hospital não tinha nem se preocupou a fazer para acompanhar esta mudança de dono de tão importante acervo.
Pelo meio assistimos a um recuo na reivindicação de um novo hospital para a região. A Câmara desistiu do papel histórico de líder regional desta cidade. Por cobardia política. Deixou de ter um papel de liderança na exigência de um novo hospital porque os autarcas do PSD tiveram medo de ser preteridos por outro município. E em vez de se baterem pelo interesse colectivo das populações da região, preferiram o calculismo de agradar ao seu eleitorado local. Cumpre à oposição, e à esquerda por maioria de razão, encontrar as soluções que rompam com esta mentalidade num território que se quer cosmopolita.