Um Ontem & Hoje de uma leitora de Alfeizerão

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Francisco Polónia, oficial da Marinha Mercante Portuguesa, com larga permanência nos quadros da Marinha Brasileira, regressou a Alfeizerão, em 1897 para casar e não mais voltar à vida marítima, dedicando-se à família e à agricultura.
Fazia parte da casa agrícola deste fazendeiro, uma casa térrea onde residia com a família. Cercado por altos muros encimados por ameias, era um quintal com a adega cheia de tonéis de grande porte, mais algumas dependências cobertas, cavalariças e currais do gado.
Em 1901, Francisco Polónia, a par da agricultura pensou dedicar-se ao comércio e para tal mandou construir um edifício de dois pisos destinando o primeiro andar para habitação e o rés-do-chão para comércio.
Tendo verificado, que a sua vocação não era o comércio, resolveu o Sr. Polónia trespassar este espaço comercial em 1913 ao Sr. Joaquim Mota.
Em 1929, o Sr. Mota foi contactado por Francisco Polónia para uma possível sociedade com o filho José, na altura com 21 anos, mas não se chegou a concretizar.
Depois de umas obras de adaptação ,veio este a abrir num dos armazéns contíguos um outro comércio misto.
Assim passaram os anos de 1929/30, mas a continuidade da loja não foi duradoura. Também o Sr. Joaquim Mota foi abrir outro espaço, na mesma rua, mas mais para poente.
A loja Sr. Joaquim Mota – chamava-se já na altura “ A Pérola de Alfeizerão “
Não sei por quanto tempo, mas também ali funcionou uma oficina de reparação de calçado do Joaquim Ladeira, enquanto o piso de cima era habitado pelo Professor Lousan e sua família.
Em 1946 Francisco Polónia propôs o negócio de venda do imóvel a Manuel Simões.
Ávido para negócios e a pensar no futuro dos filhos logo fechou negócio por 30 contos.
Nesta data reabriram a loja com a Sociedade Comercial Simões & Simões, Lda, com a gerência dos irmãos Manuel e o José Simões.
Vendiam de tudo, mas os irmãos comercialmente não estiveram juntos muito tempo. Em 1949, José Simões casou com Maria Rosa Rodrigues, também ela filha do comerciante António Rodrigues,  do Valado de Sta. Quitéria, ficando a viver no andar cima. Foram estes jovens comerciantes que vieram a ser os meus Pais.
Pouco tempo tinha passado após o casamento e já o meu avô materno estava a negociar todo o espaço restante com o Sr. Polónia.
A primitiva casa térrea do Sr. Polónia, foi logo alugada aos Correios de Portugal, para ali abrirem a primeira estação dos CTT com uma funcionária e um carteiro. Os armazéns contínuos foram adaptados para comércio – com o Alberto Latoeiro, o Joaquim André das bicicletas e logo depois o Jorge Caiado, com os Móveis de Alfeizerão.
Em 1985 os Correios de Portugal inauguram uma nova estação, do outro lado da rua.
Maria Rosa Pessoa abre neste espaço uma boutique com roupa jovem e de marca – Boutique Foshine
Na casa grande continuava a loja de aldeia gerida pelo meu pai e com a minha ajuda desde a morte da minha Mãe em 1976.
Dez anos passados e o meu Pai deixa o Mundo dos Vivos. Já com o meu marido a trabalhar comigo, algumas remodelações aconteceram. A loja das mercearias deu o lugar a duas secções distintas de utilidades domésticas e de construção, com o nome de Casa Simões.
Uma grande construção surgiu em 2001 nesta zona e um prédio para novas lojas e serviços substituiu os anteriores espaços comerciais – atualmente nem todos os espaços estão a funcionar, mas temos a Lavandaria Bolha de Sabão Azul, a Pastelaria Delícia, a Boutique Foshine (desde há 28 anos) e a Casa Simões (com ferragens e drogas). No andar de cima há seis espaços estando três a funcionar com um Cabeleireiro e um Centro de Estética.
Em 2010 e atendendo às dificuldades atuais, decidi encerrar a Loja da Janela que em 2004 tinha remodelado e onde se podiam adquirir desde as grandes utilidades domésticas até às pequeninas ofertas, abrindo ali o Posto de Ánálises Clínicas Beatriz Godinho.
São estas as memórias que guardo deste espaço na minha rua, que já foi a Rua Principal, Rua D. Afonso Henriques, Rua Dr. Oliveira Salazar e agora é Rua 25 de Abril…

Graciete Simões Machado