Este é um livro peculiar, especial e diferente porque, além de 111 páginas de texto, integra 16 páginas com 49 imagens a cores de estátuas, livros, ceptros, fontes, gradeamentos, báculos, brasões, lampadários, azulejos e outro material iconográfico antigo e moderno que responde à pergunta inscrita no título «A Persistência de um Culto?»
O que une, aproxima e explica quatro objectos públicos tão diferentes como o livro «O dia dos prodígios» de Lídia Jorge, a estátua de D. José I no Terreiro do Paço, o prédio nº 230 da Avenida da Liberdade em Lisboa ou os Certificados de Aforro (tanto os antigo como os modernos) é a presença em todos do dragão ou da serpe alada. Tanto na capa do livro como nos pés do cavalo da estátua, tanto no prédio lisboeta como nos Certificados de Aforro, lá estão presentes a cobra voadora, a serpente ou o dragão.
Fruto de um trabalho com mais de dez anos de viagens, conversas e investigações, o que as autoras deste livro procuraram foi chamar a atenção para um fenómeno arreigado na população portuguesa e que passa despercebido a muita gente. Só se pode perceber o que somos e quem fomos através de um outro olhar e de outra consciência. Nem a indiferença nem o desconhecimento nos ajudam a perceber as nossas raízes culturais mais antigas.
Já Fernando Pessoa (1888-1935) afirmava que «A Serpente é o entendimento de todas as coisas e a compreensão intelectual da vacuidade delas.» Este Poeta cedo percebeu que os Portugueses não deixaram de ser herdeiros da Lusitânia só porque são também (e ao mesmo tempo) herdeiros da Terra de Ofiúsa. Mas esse é já outro assunto que não cabe nesta breve nota de leitura. Apetece concluir com a Nota Editorial: «Tenho a certeza de que ao ler esta obra, muito boa gente irá trazer à memória histórias, imagens, costumes ou superstições há muito esquecidas».
(Editora: Apenas Livros, Revisão: Luís Filipe Coelho, Capa: Lara Peralta, Contracapa: Carlos Alberto Santos, Paginação: Jorge Belo)