CALDAS DA RAINHA
Caldas, por onde um dia passou
A caminho das Cortes de Leiria
A Rainha, de nome Leonor
Já cansada, e com profunda dor
Causada pelo mal que a afligia
Viu mendigos à beira de um riacho
Com feridas que lavavam na corrente
Indagou da razão porque o faziam
Responderam que eles apenas queriam
Aliviar os males a toda a gente
Pediu a Rainha, então à Aia
Que sua ferida lavasse para ver
Se aquilo era alívio para as dores
Dali não viriam males maiores
Também não aumentavam seu sofrer
O séquito seguiu na marcha lenta
Que o caminho lamacento permitia
E quando foi forçado a parar
A Rainha resolver observar
Porque razão as dores já não sentia
E
A ferida estava murcha, a secar
O mal desaparecia lentamente
Logo ela deu ordem p’ra voltar
E naquele local quis acampar
Até resolver seguir em frente
E enquanto se tratava e repousava
Preparando a viagem a seguir
Uma amostra da água recolhia
Mandou investigá-la em Leiria
E os físicos fizeram-na sorrir
A água tinha um cheiro esquisito
Sulfuroso, os Físicos diziam
Que muitos males, no futuro curaria
Ao reumático e fígado, alívio ela traria
E o futuro só os Deuses o sabiam
Feliz pela sua descoberta
Dela falou ao Rei e lhe rogou
Dai-me os meios, Senhor, p’ra um Hospital
Pois foi ali que eu curei o mal
Que durante anos, me atormentou
Desde então ali acorreriam
Rico e pobre, para lá se aliviar
Dos males que um e outro se queixavam
E a cura todos lá buscavam
Levou aquele local a prosperar
Cresceu o burgo, foi Vila e é Cidade
Que atraiu para si a Fidalguia
Vieram Nobres e burgueses de valor
Que ergueram estátua a D. Leonor
E assim a cidade progredia
Artistas atraídos pela fama
Que entretanto a Cidade granjeou
Alguns, na cerâmica formados
E outros, pintores afamados
E muito grande nome aqui morou
Foi Bordalo Pinheiro nas faianças
Malhoa e Columbano nas pinturas
E muitos outros por cá passaram
Sua marca indelével nos deixaram
Como Elias, e sua miniatura
Alguém, fidalgo, ou mesmo da realeza
Quis pregar uma partida a um amigo
Nas Caldas, um oleiro contratou
E um falo humano encomendou
E ficou entusiasmado com o artigo
O sucesso do falo, lá na Corte
Foi tal, que ia o oleiro enriquecendo
Falava-se serem damas, as clientes
Que de neurastenia eram doentes
E o tamanho do falo… foi aumentando!
Na Praça faz a venda o Zé Povinho,
Há trouxas e Cavacas que tem fama
E quem aqui vier, voltará sempre
E faz essa promessa tendo em mente
Que Caldas é cidade que vos ama!
João Rosa Pinto
RICOS ?
Afinal quem é pobrezinho ?
-Há a matéria
-Há “matérias”
-Há o Ser
-Há misérias .
Afinal quem é pobrezinho ?
-Aquele que julga ter tudo
Ou aquele que não tendo “nada”
Tem Tudo ?
Porque Tudo
Não é “muita matéria”!
Tudo é :
-Amor
-Sinceridade
-Honra
-Dignidade
– …
Afinal quem é pobrezinho ?
-Não é certamente quem tem estes valores !
-É sim quem tem a “matéria”
do poder …da sua miséria .
E da miséria , que há no mundo .
Rui Pina
INJUSTIÇA
A mim e a ti meu irmão
que hoje somos incapazes.
A mim e a ti que trabalhámos
desde pequeninos .
A mim e a ti que pagámos
o que nos obrigaram .
A mim e a ti meu irmão
que depois de uma vida de trabalho;
Não nos é permitido
Viver
Com merecida dignidade :
-Que culpa tenho eu e tu
que a economia não cresça ?
(em tempos crescia !)
-Que culpa tenho eu e tu
que não explorem
a potencialidades do País ?
-Que culpa tenho eu e tu
que “criem” ricos
em vez de riqueza ?
-Que culpa tenho eu e tu
da incompetência dos “dirigentes”?!
-Porque somos culpados ?
-Se estamos inocentes !!
Rui Pina
Cavaleiro andante
Aqui estou por inteiro
Como cavaleiro andante
Correndo o mundo sem paradeiro
Como um eterno viandante.
Sou também um poeta menor
Sou poeta de causas e convicções
Sou igualmente poeta do amor
Alguém que quer no seu querer
Abalar muitas velhas convicções
Fernando Rocha
Minha Vida
Minha vida é como um pêndulo a balançar
Nunca, mas nunca pára de perguntar
Este cérebro embriagado que habita em mim coitado
Não para de olhar aquele que está a morrer
E o outro, ali ao lado que está a nascer…
Na mesa das sessões não importa o conteúdo…doutores.
Não peixe miúdo. Não se pode baixar o nível meus senhores!…
Vejo uma criança a roubar uma maçã para comer, é delinquente
Vai para uma casa de correção, para não incomodar a gente.
Os corruptos esses não. Ao cometerem uma infração
Foi uma distração de percurso, alguns até tem brasão.
Uma família ficou sem casa para viver… O que querem fazer?
Na vida nada fizeram para a obter!?
Depois há o banco alimentar ( coisa de louvar uma caridadezinha )
E, depois estão acostumados a dar a volta por cima
Emigrem, porque esperam? Vão nem que seja para a China
Coitados daqueles senhores, que lhes cortaram na reforma
Eles tem direito. Nasceram doutores, descontaram a preceito.
E os reformados com o mínimo? Arranjem ideias, programem-nas
Até ao milímetro. Tem que se reinventar tudo de novo…
Na igreja não se toca, é milenar…
E foi “Jesus” que aliás, nos veio ensinar a compartilhar…
Viveu no sei dos humildes ensinou a perdoar,
Reclamando os Direitos do seu povo.
Não no meio da pedofilia, do ouro…
A droga não pode acabar, nem a legal, nem a que escondida
Reina no seio dos desgraçados que caíram na teia ínfima
Dos negócios que faze bilionários todos os dias, não num dia
Por semana, como o euromilhões, por falta de sorte
Também nos engana.. e lá temos jackpot…
O pendulo embriagado, faz-me desespero nada é do meu agrado
Existo, penso fico triste, os valores se foram com o vento
Será que alguém resiste? Questionando, Sendo
Contínuo perguntando, até desaparecer deixar de pensar
Com o balançar do meu pêndulo…
Mena Santos
O À-Bê-Cê…
Conjunto de letras
que formam temas
debitam palavras
criam poemas
Tão poucas são
tantas frases constroem
livros dão
e os leitores dispoem
Das letras às palavras
da prosa aos versos
conjunto de sílabas
objectivos diversos
Palavras de crime
palavras de lei
temas de religião
e outras que não sei
Poemas de amor
versos de paixão
palavras de dor
e mais , que as letras dão
A riqueza vem do À-Bê-Cê…
aprendendo e sabendo.
Uns sabem porquê
outros “vivem”… desconhecendo .
Rui Pina
Vinho
Um grande amigo
companhia de tantos.
Prazer antigo
de maus e de santos.
Dizem que dá saúde.
Néctar de eleição.
Degustá-lo é virtude
com devida moderação.
Na mesa é alegre
define quem o aprecia.
Ao mauzinho faz febre,
ao bom dá alegria.
Bebida Sagrada.
Sangue do Salvador.
Por muitos respeitada,
é o sumo do criador.
Um copo, outro ainda,
muitos é que não.
Boa vinha, bem vinda,
pela brilhante criação.
O meu País é de vinho
do Alentejo ao Douro,
Ribatejo e Estremadura…
Não És só para o Povinho,
És para toda a Gente pura.
Rui Pina
A beleza é o sustento da Alma
Espelhos, espelhos, espelhos
Roupas novas, roupas velhas
Saias, vestidos, sapatos
Blusas, camisas, casacos
Trapos, trapos, trapos
Espelhos, espelhos, espelhos
Cremes, lápis de olhos
Perfumes, batons
Dos maus e dos bons
Espelhos, espelhos, espelhos
Colares, anéis, pulseiras
No colo, nos dedos fieiras
Brilhos, brilhos, brilhos
À vida sem atavios
Falta Alma
A Alma precisa de sustento
A beleza é o seu alimento
O ser humano persiste
Na busca da beleza
Mira-se e remira-se
Quer-se belo
Com tal desvelo insiste
Em dar Alma ao corpo
Até chega a causar-lhe desconforto
Espelhos, espelhos, espelhos
Brilhos, brilhos, brilhos
O corpo quer-se mirar
O corpo quer ser mirado
O corpo quer ser a Alma
O corpo quer sentir calma
O corpo insiste no Amor
O corpo quer ser amado
Amor que é o seu bem maior.
Isabel Sá Lopes
Balada do Gato Preto
(Caldas da Rainha)
Gato preto a meio da rua
Do Hospital para a Praça
Memória que continua
Infância, estado de graça
Cavacas são mais duras
São macios os beijinhos
Se a festa fica às escuras
Vinho é luz dos caminhos
Taberna do Clementino
É paragem derradeira
Minha terra, meu destino
Eu espero aqui a carreira
Foi lá abaixo à estação
Apanhar a automotora
Nunca falha a ligação
E não se pode ir embora
Caldas na segunda-feira
O pai, a mãe, as crianças
Numa carroça ronceira
São décimas das Finanças
Ou as letras reformadas
No Banco de Portugal
Com colheitas queimadas
Em quinzena de temporal
Altifalante diz a viagem
Segue o desdobramento
Nunca chove na garagem
Quente abrigo de cimento
Gato Preto que resiste
Ao tempo, grande erosão
Mesmo num dia triste
Adoça o meu coração
José do Carmo Francisco
Sr. João Camilo
Sentado no seu lugar
Com aquele seu estilo
Nunca nos fazia esperar
Era o sr. João Camilo
Foi em 75 que o conheci
E registo com agrado
Já tinha aquele bigode assim
Mas era muito mais magro
Era ele que me atendia
Quando a Gazeta eu ia receber
E com aquela sua energia
Trabalhou até morrer
À sexta-feira vinha sozinho
Sempre alegre e contente
De manhã bem cedinho
Dar o jornal a cada cliente
Fez-se caldense este forasteiro
Natural de Portimão
Trabalhou meio século inteiro
Ao serviço duma população
Fui um amigo silencioso
Nunca lho declarei
Aquele seu jeito cuidadoso
Eu sempre apreciei
Até ao fim da vida trabalhou
Sempre atento e perspicaz
Foi mais um amigo que nos deixou
Sua alma descanse em paz
António Clemente Caetano
Liberdade
Não te censuro,
Porque dizes
Sempre a
Verdade.
Porque não insultas
Nem humilhas o
Teu semelhante.
Porque no teu conceito
De cidadania
Imperam valores
Como:
Ética
Respeito
Sinceridade
Sensatez…
Não te censuro
Porque sabes criticar,
Porque olhas o
Outro teu irmão,
Não p’lo que veste,
Ou p’los sinais
De riqueza material,
Que exibe,
Mas p’lo que é
Intrinsecamente.
Cumpres a
liberdade.
Estou contigo
Meu irmão.
Somos livres.
Rui Pina
As Mentiras
Mentiras são formigas tresmalhadas,
coloridas, ávidas, desgovernadas,
borboletas sem flor para poisar,
barco sem remos, sem água,
estacionado na praia dos catraios,
onde cada um arranca uma tábua.
São a arma dos fracos, dos lacaios,
e empurram-nos para desfiladeiros,
donde raramente saímos inteiros.
Na floresta das hábeis mentiras
vivem bruxas e caçadores de safiras,
onde os pássaros perdem o pio,
e o vento passa de lado, ao arrepio,
para não se identificar.
E ainda me dizem com veemência,
que dos filhos devemos esconder a verdade.
E se eles a procuram noutros quadrantes,
na forma de mentiras cintilantes?…
No dia, no tempo da benevolência,
abre a porta às formigas tresmalhadas
e converte-as em formigueiro.
Decerto o barco voltará a navegar,
e o vento regressa para abençoar;
os pássaros, a floresta, o mundo inteiro!
Júlio Vaz Gomes
Primavera
Desabrocham flores
Cantam os passarinhos
A mocidade com seus amores
Vai dando abraços e beijinhos
Mocidade, mocidade
A Primavera da vida
Tem a beleza da idade
Que não voltará a ser vivida
Todos querem que a beleza
Perdure p’ra sempre nos anos
Mas podem ter a certeza
Que ela trará desenganos
Desenganos e arrelias
Todos temos de viver
Também virão alegrias
Que a vida irá trazer
Os dias da minha vida
São flores do meu jardim
Vivos de forma sentida
Não tenham pena de mim.
Rosa Maria
As moças das seis freguesias
As moças de Alguber
Andam quase sempre à toa,
E quando pensam em namorar
Só gostam de agradar
É aos pipis de Lisboa.
Não esquecendo as de Figueiros
Terra das bem empernadas,
Continuam sem enganos
Mas dos 13 aos 14 anos
Estão todas arrebanhadas.
Já as moças do Painho
São um pouco pensativas,
Mas são muito assenhoradas
Muito alegres e estimadas
E são muito divertidas.
As moças de A-dos-Francos
Nem todas elas usam xaile,
Mas quando vão a passear
Só gostam de se apresentar
É só à noite no baile.
Já as de São Gregório
Vivem lá no alto trono,
Já não têm tanta vaidade
Dos 12 aos 13 anos de idade
Todas elas já têm dono.
As moças de Santa Susana
Lugar onde se fazia uma feira,
Com as suas ideias simpatias
São muito reinadias
E amigas das brincadeiras.
Ai meninas vós sois a árvore
Com os seus frutos de fama,
Onde se enxerta o amor
Quem vai cedo colhe a flor
Quem vai tarde colhe a rama.
Silvino Inácio
“Nunca desistas de um sonho”
Nunca desistas de um sonho
Continua sempre a lutar
A vida é feita de barreiras
Que vais conseguir enfrentar
Para isso só tens de acreditar
Acreditar que irás conseguir vencer
Vais ver que não é difícil
Só basta mesmo querer
Mas tens de querer com muita força
E nunca empregar a palavra desistir
Porque realizar um sonho
É das melhores sensações que se pode sentir
E quando o teu sonho se tiver realizado
Vais sentir que foi missão cumprida
Porque nunca baixas-te os braços
E deste algo de bom à tua vida
E em tudo na vida devemos ser assim
Lutar para sempre conseguir vencer
Assim seremos muito mais felizes
E uma vida melhor poderemos ter
Daniel Silva
Alvorninha e os seus belos lugares
Santa Marta que bonita
Na sua alta colina
Na minha bela mocidade
As festas eram a minha rotina
S. Clemente ainda me lembro
A noite o terço ir rezar
Grandes festas se faziam
Todos a cantar e dançar
Trabalhia vem de trabalho
Que esta gente sempre faz
Quem trabalha sempre come
E sinal de haver paz
Vale do Forno é excelente
Pela sua localização
Em tempos havia muitos fornos
Onde se cosia o saboroso pão
Venda da Costa
Palavra que vem de venda
A sorte de grande aposta
Foi o mercado uma prenda
Venda da Natária tu és bela
Com as tuas gentes boas
Cada um tem a sua courela
Por isso fazem as lavouras
Vale Serrão com teu vale
Eras uma terra esquecida
Com a tua bela estrada
Assim já fostes protegida
Vila Nova estás em progresso
Na meia colina vistosa
A tua gente é unida
E bom ser orgulhosa
Zambujal terra encantadora
Dos tempos de então
Onde a festa do chouriço
E homenagem a Sto. Antão
Quero aqui pedir desculpa
Se alguma frase os ofende
Eu nestas quadras simples
Sempre procurei ir á realidade
Américo Marques
A Universidade Sénior das Caldas da Rainha
Nos meus tempos de estudante
Não dei valor ao saber.
Mas como diz o ditado!
Nunca é tarde para aprender.
Hoje já não sou a mesma!
E até não uso sacola.
Mas foi com muito interesse.
Que voltei de novo á escola.
Às aulas de informática
Vou sempre com curiosidade
Tenho gosto de aprender
Apesar da minha idade.
Ao bordado das Caldas
Dou especial atenção
Pois foi a nossa Rainha
Que nos deixou a tradição
A classe de inglês
Começou com aeiou
E agora que interessante
Já se diz: How are you?
Através destas quadras
Deixo um obrigada sentido
A quantos se dedicaram
A esta iniciativa.
Só espero que continuem
Este projecto de valor
Pois é muito importante
Estar na “Universidade Sénior”
Rosa Melo