Militantes comunistas e simpatizantes voltaram a celebrar Abril. No dia em que se assinalou os 38 anos decorridos após a revolta dos cravos, cerca de 90 pessoas do PCP juntaram-se num almoço-convívio, no restaurante Paraíso, para debater o momento político actual e conviver ao som de músicas de intervenção. O director do jornal Avante, José Casanova, falou dos tempos difíceis que a democracia está a atravessar, apelou à luta e garantiu que os comunistas estão “sempre na primeira fila pela liberdade”.
“Há 38 anos, por esta hora, era um dia em festa, hoje vivemos um momento sombrio”, disse José Casanova, para quem foram perdidos muitos dos direitos conquistados com a revolução de 1974. O dirigente comunista disse que após terminado o regime fascista, o Movimento das forças armadas, em conjunto com o povo, fizeram da democracia portuguesa “uma das mais modernas da Europa”.
No entanto, essa “democracia avançada” que resultou de Abril apenas durou dois anos porque as alterações feitas à Constituição da República de 1976 têm vindo a perder direitos e além disso não tem sido cumprida pelos governos.
José Casanova realça que é preciso comemorar Abril pelo que teve de “progressista e revolucionário”, lembrando que uma das primeiras medidas tomadas pelo governo provisório foi a instituição de um salário mínimo nacional e o aumento das reformas.
“Entre 1974 e 1976 viveram-se os dois anos mais luminosos”, lembra o histórico do PCP, acrescentando que depois veio a contra-revolução, que teve sempre na primeira linha o PS, o PSD e o CDS/PP. “É a mesma família política que tem estado no poder ao longo destes 36 anos e a fazer a mesma política”, criticou.
O dirigente reprovou a posição de Mário Soares e Manuel Alegre ao solidarizarem-se com a Associação 25 de Abril e não participarem nas comemorações oficiais, estranhando que os dois políticos tenham esquecido que o “primeiro assinante do pacto da Troika foi o próprio PS”.
O orador pediu aos camaradas para lutar pelos valores trazidos pela revolução, especialmente no que respeita aos direitos dos trabalhadores, permanência do poder local e do Serviço Nacional de Saúde.
Referindo-se às Caldas da Rainha, José Casanova recordou o “ataque” que está a ser feito ao Hospital Termal e lembrou o bom exemplo da mobilização popular no abraço que foi feito pela permanência do hospital.
Também o futuro da Linha do Oeste preocupa os comunistas, que amanhã, 5 de Maio, irão participar no passeio de comboio entre S. Martinho do Porto e a Figueira da Foz. A 26 de Maio irão fazer uma manifestação em Lisboa contra a política actual e, no dia seguinte, será feito um piquenique no parque de merendas do Valado dos Frades.
UMA COMISSÃO UNITÁRIA PARA FESTEJAR ABRIL NAS CALDAS
O PCP das Caldas tem vindo a comemorar a data com um almoço convívio, mas também com exposições e debates. O deputado comunista na Assembleia Municipal, Vítor Fernandes, realça o trabalho das duas juntas de freguesia da cidade em manter as comemorações, mas considera que estas deviam ter uma maior abrangência, até pelo significado relevo histórico da cidade, ligada ao 16 de Março.
“Acho que devia de haver uma sessão solene na Câmara e a data ser assinalada com outra grandeza e significado que, ao longo dos anos, o PSD não tem querido”, disse o dirigente comunista, acrescentando que este partido, a nível nacional, “quer é esmagar o seu significado”.
Vítor Fernandes diz que já propôs por várias vezes que se retomasse a sessão solene e que fossem realizadas iniciativas que trouxessem o povo à comemoração, mas que nada tem sido feito nesse sentido.
“Acho que fazia todo o sentido criar uma comissão unitária para comemorar o 25 de Abril e chamar a população das Caldas para festejar o significado desta data, que cada vez é mais importante”, defendeu o responsável. O PCP está a pensar em avançar com uma proposta nesse sentido, onde espera contar com a participação de outras forças políticas, agrupamentos e associações.
Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt