Elias Soukiazis foi o convidado de mais um encontro “21 às 21”, organizado pela Associação Movimento Viver o Concelho (MVC) na passada segunda-feira, dia 21 de Setembro. O economista grego, que também é professor na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra abordou o tema “A primavera grega: vencedores e vencidos”, criticando as medidas de austeridade aplicadas durante a intervenção da Troika, tanto na Grécia como em Portugal.
As cerca de 30 pessoas que se juntaram na sede da Junta de Freguesia N. Senhora do Pópulo, Coto e São Gregório tiveram a oportunidade de assistir a uma lição de economia que colocou lado a lado o cenário grego e o português.
O orador Elias Soukiazis iniciou a sua apresentação com a avaliação dos valores da dívida pública: “Na Grécia a dívida passou de 112% do PIB, antes de 2010, para os 180% do PIB actualmente, enquanto Portugal viu aumentar a sua dívida de 93,5% para 130% do PIB”, disse o economista, que apontou duas razões para o aumento da dívida. Olhando para o caso português, Soukiazis afirmou que o saldo orçamental primário negativo, assim como o baixo ritmo de crescimento económico (inferior ao valor das taxas de juro da dívida pública) são factores que têm impedido a diminuição da dívida.
Concretamente, o saldo primário obtém-se subtraindo-se ao saldo orçamental global as despesas com o pagamento dos juros da dívida pública. Pois bem, sendo este valor negativo, dificilmente se reduz o montante da dívida, que em Portugal atinge os 220 mil milhões de euros. Por outro lado, explicou o professor grego, “as taxas de juro médias para o pagamento da dívida estão perto dos 4%, mas o país cresce apenas 1 a 1,2% ao ano”. Curiosamente, antes da entrada da Troika, tanto em Portugal, mas principalmente na Grécia, a dívida pública era mais baixa com taxas de juro bastante mais elevadas que as actuais.
Segundo o economista, outro dos erros que também contribuiu para o aumento da dívida grega e portuguesa foi o esquecimento do sector industrial, em detrimento de um investimento excessivo no sector dos serviços (transportes e telecomunicações, por exemplo). “Portugal e Grécia esqueceram-se que o argumento de que os países ricos têm os serviços desenvolvidos só é válido se esses países tiverem indústrias capazes de fornecer os equipamentos e materiais necessários”, caso contrário – e como fez Portugal – os produtos acabam por ser importados, aumentando assim o défice externo.
Para Elias Soukiazis o problema do pagamento da dívida pública não se resolve com as medidas de austeridade aplicadas pela Troika, pois estas promovem a recessão em vez do crescimento económico.
“Os gregos estão 25% mais pobres desde a intervenção da Troika, uma queda que também se verificou em Portugal, que teve uma recessão de 7%”, sublinhou.
A par da elevada dívida pública está igualmente o desemprego, que atingiu valores históricos nos últimos anos, quer na Grécia como em Portugal. Os 30% alcançados na Grécia, por exemplo, apenas se equiparam aos níveis atingidos quando a população nazi ocupou as terras gregas, durante a II Guerra Mundial. Embora a descida do desemprego seja um dos argumentos de Passos Coelho durante a actual campanha eleitoral, Soukiazis chamou a atenção para as medidas que estão por detrás dessa recuperação.
“Nunca houve tantos jovens a emigrar, uma parte da população com mais de 45 anos já desistiu de procurar emprego e o Estado financia cada vez mais estágios nas empresas. O facto de existir menos desemprego não significa qualidade no emprego”, salientou o convidado, que aproveitou para desmistificar a idéia de que os portugueses e os gregos são preguiçosos.
Na verdade, afirmou Elias Soukiazis, as estatísticas demonstram que a Grécia e Portugal trabalham mais horas que a Alemanha, no entanto, com menos eficiência. “Mais uma vez, a culpa não é dos trabalhadores, mas sim das empresas, que não revelam organização do trabalho nem capacidade de inovação a longo-prazo”.