Acha que é viável a continuidade da Praça da Fruta? Se sim, qual a sua proposta para o seu futuro? Se não, qual a alternativa?

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O que pensam as várias sensibilidades políticas em relação ao futuro da Praça da Fruta, tanto para quem vende como para quem a visita

Não há campanha eleitoral que não passe pela Praça da Fruta. O colorido dos produtos juntamente com a concentração de vendedores e compradores fazem do local um cenário perfeito para a captação de votos e de imagens apelativas. Mas depois, que consequências tem para quem dela vive?
Nesta edição, Gazeta das Caldas retorna ao debate sobre a Praça, ouvindo os vários partidos políticos sobre a sua importância e o que defendem para o seu futuro. O CDS-PP lembra a proposta arrojada de criação de um túnel de passagem inferior que desviava o trânsito da superfície e permitia estacionamento subterrâneo, disponibilizando todo o tabuleiro para circulação de peões e instalação de esplanadas, que não se concretizou. A dificuldade de estacionamento é, de resto, um dos problemas levantados por vários dos responsáveis, que apresentam propostas que vão desde o reforço dos lugares para estacionar ao pagamento, após a primeira hora, permitindo uma maior rotatividade. Outra questão antiga é a possibilidade de cobertura do espaço, possibilitando um maior conforto a vendedores e clientes, que pode passar pela colocação de um material transparente, ou amovível, sugerem os entrevistados. Há ainda quem defenda a permanência da Praça da Fruta ao fim de semana (mantendo a sua atratividade turística) e a criação de um mercado fechado, com mais condições, a funcionar durante a semana.
A utilização do tabuleiro numa vertente cultural é também ressalvada por vários dos representantes partidários, defendendo com este uso, uma maior dinamização do espaço.
Unânime a todas as cores e sensibilidades políticas é a importância da Praça da Fruta e o seu simbolismo para a cidade, ainda que, para alguns, esta possa estar em causa devido à proliferação, e cada vez maior oferta, das grandes superfícies.
As respostas e soluções para os problemas que se colocam atualmente aquele mercado a céu aberto deverão ser encontradas depois de ouvidos os protagonistas, ou seja, os vendedores, juntamente com os comerciantes e consumidores.
Há também quem considere que não faz sentido o custo atual da montagem e desmontagem diária das bancas. ■

 

Sofia Cardoso
presidente concelhia CDS-PP

Sim. A praça da Fruta é um dos principais cartões de visita da cidade e funciona, até aos dias de hoje no local onde originalmente foi fundada. Mantém há séculos o propósito de servir, diariamente, a população caldense e permite aos produtores agrícolas venderem o que de melhor se cultiva na região.
É um ex-libris da cidade que atrai visitantes e agita as manhã do centro da cidade. É um dos legados deixados pela Rainha D. Leonor desde o século XV, segundo conta a lenda. Estas são apenas algumas das razões que justificam a sua continuidade e todo o esforço em investimento para a manter em funcionamento e ajustar às necessidades dos dias de hoje.
O CDS-PP apresentou ao público, por altura das últimas obras de requalificação do tabuleiro da Praça, durante um mandato na vereação da Câmara das Caldas, um projeto com uma solução para trazer a Praça da Fruta para o séc. XXI, mantendo a essência histórica, e que respondia às 3 questões fundamentais: mobilidade, estacionamento e otimização da utilização do tabuleiro da Praça. Em resumo, o projeto contemplava um túnel de passagem inferior que desviava o trânsito da superfície; estacionamento para comerciantes e clientes; todo o tabuleiro da praça ficaria livre para circulação de peões e instalação de esplanadas a par das tradicionais bancas dos comerciantes.
A sobrevivência da Praça da Fruta está em causa, a desigualdade com a oferta das grandes superfícies é cada vez maior e, infelizmente, para os caldenses parece que a abertura desses espaços tem sido prioritário na agenda do executivo em detrimento da preservação da identidade Histórica dos ex-libris da cidade. ■

 

Pedro Seixas
presidente concelhia PS

Sim, a Praça da Fruta tem de ter necessariamente viabilidade e continuidade no futuro, porque é um elemento identitário fundamental e insubstituível da centralidade territorial da cidade e concelho das Caldas. É o coração simbólico que deve bater sempre, sempre, impulsionando os fluxos sanguíneos do desenvolvimento económico e social das Caldas por todo o seu corpo concelhio.
O PS/Caldas está muito consciente do papel estratégico fundamental que os cinco mercados das Caldas têm na afirmação da sua centralidade territorial e, consequentemente, na sua atratividade económica e social. Foi por isso apresentou à Câmara, em 2020/09/28 uma proposta de criação e implementação do “Plano Estratégico dos Mercados das Caldas da Rainha”.
A modernização e consequente viabilidade da Praça da Fruta deverá ser estruturado em torno de cinco grandes objetivos políticos, sociais e económicos: Assegurar e garantir a sua viabilidade económica, mantendo e criando novos postos de trabalho e fomentando o aparecimento de novos agentes económicos e empreendedores; Valorizar, potenciar e maximizar a sua função social; Investir na modernização, renovação e transformação das infraestruturas da Praça da Fruta assim como na sua modernização tecnológica; Consolidar o seu papel como centro de referência na distribuição de alimentos frescos de máxima qualidade, nomeadamente produtos biológicos e certificados pela designação europeia de “Indicação Geográfica Protegida” (IGP), assim como no desenvolvimento do formato comercial das novas tendências e hábitos de consumo relacionados com a alimentação saudável; Contribuir para a sustentabilidade do meio ambiente. ■

 

Ricardo Lemos
coordenador núcleo territorial da IL

A continuidade da Praça da Fruta tem que ser viável, por se tratar de um ex-libris da cidade do qual não podemos abdicar. No entanto, não pode continuar nos moldes atuais.
O bom funcionamento da praça aos sábados, com espaço reservado a animação, com estruturas diferentes das barracas atuais e com seleção cuidada dos produtos ali vendidos, deve ser o objetivo da autarquia.
Durante a semana, os caldenses necessitam de um verdadeiro mercado municipal (de produtos hortícolas, mas também com peixe, carne e apoio de restauração) com condições de higiene, conforto, estacionamento e horário que permitam por um lado aos nossos produtores e comerciantes escoar os seus produtos e por outro lado aos consumidores ter acesso a produtos de qualidade e com preços mais acessíveis que os praticados nas grandes superfícies.
A experiência forçada da deslocação da Praça da Fruta para a Expoeste durante a pandemia demonstrou que, mesmo com os condicionalismos que advieram das condições apertadas de acesso, a população prefere esse tipo de solução.
Durante a semana, deve permitir-se que os estabelecimentos de restauração e bebidas ocupem o tabuleiro com esplanadas, naquele que é um espaço que deve ser para sempre de usufruto dos caldenses e de quem nos visita. ■

 

Luís Patacho
vereador independente Câmara

Evidentemente que é viável. A Praça da Fruta é o coração da cidade e, juntamente com o Parque, o seu ex libris, que temos a obrigação de preservar.
É uma âncora do centro histórico da cidade, potenciadora da economia local, em especial do comércio e do turismo.
Infelizmente vem a definhar há anos a esta parte, e se continuar sem uma intervenção de fundo e a perder paulatinamente a genuinidade dos seus produtos, agonizará até ao seu decesso.
A Praça precisa, quanto antes, de uma resposta ao nível do reforço de estacionamento nas suas imediações, de uma renovação das suas bancas, de melhorar as suas atuais infraestruturas e de dotar aquele espaço de uma solução que melhore as condições de venda para vendedores e compradores.
A solução que venho defendendo é a de uma cobertura (não o seu encerramento) com material transparente, de inegável qualidade arquitetónica, que conviva bem com a traça da Praça e permita preservar a sua imagem “rústica”.
O atual executivo camarário tem vindo a fazer diligências, nomeadamente junto da DGCP, com vista a sensibilizar esta entidade para a necessidade de uma intervenção, cuja posição tem sido de grande retraimento e conservadorismo. Porém, é preciso insistir firmemente, persuadindo quanto à absoluta necessidade de se encontrar uma solução que harmonize a preservação do património daquela Praça com a criação de condições de maior atratividade e sustentabilidade daquele que é, porventura, o mais relevante mercado diário ao ar livre no nosso país. ■

 

Carlos Ubaldo
coordenação concelhia BE

Tal como sucede com tantas outras situações nas Caldas, o tempo vai passando e nada de substancial parece acontecer que demonstre uma real mudança. O caso da Praça é paradigmático!
Antes de mais, importa olhar para a Praça como parte de um conjunto urbano muito mais vasto. Não basta a sua remodelação circunscrita, sem pensar na mobilidade associada, coisa que não se alterou, continuando o trânsito desnecessário a cruzar o centro histórico da cidade, com todos os inconvenientes associados. Basta ver a frequência com que as ambulâncias, que persistem em usar o percurso pela Praça, correm riscos de ficarem bloqueadas no trânsito. Para além da mobilidade, há aspetos relacionados com todo um processo de reabilitação (ARU) a concretizar.
Importa sem sombra de dúvida, dar a voz aos vendedores para saber o que pensam, e se as condições atuais, respondem às exigências de conforto e comodidade necessárias, para além da questão pura do negócio em si.
Não restam dúvidas de que é crucial dar vida às cidades, e as praças e mercados são parte fundamental das cidades vivas, centradas numa fruição plena pelos cidadãos. Importa pois, evitar tudo o que seja levar mais automóveis para o centro, algo que duvidamos venha a ser considerado, pelos sinais até hoje dados.
É, pois fundamental, uma abordagem integrada, considerando aspectos históricos, culturais, arquitetónicos, urbanísticos e sociais. A acessibilidade deve ser considerada em toda a sua amplitude, mas também a sua sustentabilidade ambiental, com a promoção da eficiência energética. Não faz sentido o custo atual da montagem e desmontagem diária das bancas… ■
Independentemente do que se pense fazer, se é que existem planos para tal, é fundamental a participação comunitária: envolvimento da comunidade local no processo de reabilitação, considerando as suas necessidades e desejos. Um processo efetivo de consultas públicas e feedback da população para garantir uma abordagem inclusiva é uma obrigação.■

Edmundo Carvalho
presidente concelhia Chega

A Praça da Fruta é um ex-libris e um cartão de visita das Caldas da Rainha, pela sua originalidade e representatividade de todo o concelho. É o único mercado diário ao ar livre em Portugal e tudo deve ser feito para manter a sua primitividade, adaptada aos dias de hoje.
Reconheço que as condições para os vendedores e compradores não são as melhores, sobretudo no inverno. Por isso devem ser melhoradas, de modo a proporcionar mais conforto a quem a frequenta, sem pôr em causa a sua traça.
Existem soluções adaptáveis, idênticas às que são usadas em estádios de futebol e noutros recintos. Falo de uma cobertura amovível automaticamente, assente em pilares estrategicamente colocados no perímetro da praça e que, quando necessário, seja remotamente acionada. Os topos e as partes laterais mantinham-se abertas, sem ferir a visibilidade de quem frequenta a Praça. Porém, a cobertura protegia da chuva e de algum frio.
O estacionamento em redor da Praça seria pago após a primeira hora, de modo a permitir aos cidadãos efetuarem as suas compras. Como apoio à Praça, todo o estacionamento atrás do Chafariz das 5 Bicas ficaria disponível para funcionar da mesma forma.
Não manter a Praça é entregar aos hipermercados um mercado atrativo e deixar morrer ainda mais a economia local, que tanto tem sofrido com a inércia dos agentes comerciais e autárquicos locais. ■

 

Daniel Rebelo
presidente concelhia PSD

A Praça da Fruta é um marco histórico, mas também uma alavanca do comércio, turismo e vivência do centro da cidade.
As obras efetuadas na praça pretenderam proporcionar uma modernização, sem perder o seu cariz pitoresco e característico de um dos únicos mercados diários a céu aberto do nosso país. Se não fora as questões arqueológicas e o projeto poderia ter sido outro.
Tem havido ao longo dos últimos anos uma renovação geracional nos vendedores, mas que pode ser insuficiente pelas condições climatéricas que podem condicionar a permanência.
A Praça da Fruta é viável e naquele local, mas hoje sofre uma concorrência fortíssima das grandes superfícies.
Para pensar soluções só será possível se juntarmos, autarcas, comerciantes, vendedores e consumidores para avaliar o caminho a seguir.
Tendo em conta a realidade atual devem ser estudadas hipóteses como o funcionamento como Praça da Fruta apenas em dias de mais afluência, leia-se de sexta-feira a domingo, por exemplo e nos outros dias funcionar com outros mercados temáticos. Ainda assim são opiniões, e o que defendemos é a fundamentação de opções que se tomem com base no envolvimento dos atores já aqui indicados. ■

 

José Carlos Faria
CDU Caldas da Rainha

A manutenção do mercado onde está é um sinal identitário da cidade. A Praça como sinal forte da vida coletiva da cidade não pode ser apagada em nome de uma qualquer solução tecnocrata. Há problemas que passam pela melhoria da própria vida dos vendedores, relativamente ao estacionamento e condições de comodidade, sobretudo no inverno, e cujas soluções, minimais, acreditamos serem as mais eficazes. Há questões que, do ponto de vista técnico têm de ser resolvidas, como uma reformulação dos stands, que garanta uma maior comodidade quer a vendedores quer a compradores, e que pode avançar através de um conjunto de ideias.
Vemos com alguma dificuldade a aplicação de soluções, demasiado até intrusivas, como a criação de um estacionamento subterrâneo ou de uma cobertura. As coisas têm de ser pensadas por quem tem competência técnica para tal e ter em conta a zona delicada onde a Praça está situada. No caso concreto da cobertura, significaria que o telhado fica ao nível da janela das casas pois não há espaço nas laterais. Defendemos soluções integradas no que respeita ao estacionamento, que estejam articuladas com o resto do respirar da cidade e da própria vida urbana, com todas as suas implicações. A proximidade de instalações sanitárias também é uma necessidade e que o próprio planeamento urbano pode enquadrar.
Em suma, qualquer intervenção que venha a ser feita tem de ser a pensar no local e na sua importancia histórica. É uma tradição viva da cidade. ■