Só seis militantes ocorreram à novíssima sede caldense do PCP – um espaço com 320 metros quadrados que a coloca como a maior sede de um partido político das Caldas da Rainha – numa noite em que este partido acentuou a sua descida a nível nacional, distrital e concelhio. Vítor Fernandes diz que o PS saiu-se bem porque aproveitou dos acordos à esquerda.
Sem tristeza, sem mágoas, sem desabafos. Afinal um comunista é um resiliente por natureza. Vítor Fernandes, responsável local do PCP, está sozinho num gabinete, em frente ao computador, copiando resultados para as folhas A4 com quadrículas que ele próprio desenhou à mão e onde vai fazendo as comparações com as legislativas de 2015.
O partido continua a perder votos. “Tivemos uma quebra que acompanha a descida do distrito e do país”, diz. “Não era previsível. Fizemos uma boa campanha, muito dirigida às pessoas e aos trabalhadores das empresas, no porta a porta, nas feiras e nos mercados, e a expectativa que tínhamos era, no mínimo, manter os resultados de 2015”.
Vítor Fernandes não tinha ilusões sobre a dificuldade em fazer eleger Heloísa Apolónia, mas esperava um resultado melhor. “Esta quebra explica-se por as pessoas não distinguirem que muito de positivo que este governo fez teve a mão da CDU”, comenta. A devolução de rendimentos, o aumento das reformas, a gratuitidade dos manuais escolares, resultaram dos acordos à esquerda, com o PCP (e com o Bloco), mas foi o PS quem veio a capitalizar com esses benefícios.
Vítor Fernandes diz que ainda é cedo para saber com quem vai o PS casar.
Na noite das eleições ainda não se percebe se a maioria que obtiveram os socialistas lhes permite governar com o apoio de um ou de dois partidos à esquerda. “O comité central vai reunir e analisar o resultado das eleições”, diz o responsável local do partido. Que não hesita em mandar umas farpas ao PS: “é um partido que tradicionalmente se tem aliado à direita e faz políticas de direita, muito por causa dos seus compromissos com a União Europeia”. Mas Vítor Fernandes acredita que António Costa irá procurar um novo diálogo à esquerda.
“Uma coisa é certa: o PCP não passa cheques em branco a ninguém”, avisa.
O centro do trabalho deste partido é agora na rua da Caridade, bem no centro das Caldas. O PCP vendeu a sede – uma casa com rés-de-chão e primeiro andar – no centro histórico e comprou um antigo armazém com 320 metros quadrados, que remodelou, transformando-o num centro de trabalho invejável para os restantes partidos com representação nas Caldas da Rainha.
O novo espaço tem uma recepção, um gabinete de trabalho e uma grande sala de convívio com cozinha e bar. É ali que estão, em frente a uma televisão que está ligada na RTP3, os outros militantes que acompanham a noite eleitoral. Uma sala de reuniões, uma sala para a juventude e dois pequenos armazéns, completam a nova casa do PCP caldense.
Ainda cheira tudo a novo e as paredes estão vazias, com excepção de uma onde figura um painel do artista José Santa-Bárbara, no qual ondulam bandeiras vermelhas. Pelo chão há ainda caixas e sacos com documentação, de onde espreitam as figuras de Marx e de Lénine.
Vítor Fernandes diz que, mal terminem as arrumações e a decoração da sede, esta será devidamente inaugurada. Lá por terem tido menos votos, os comunistas não desanimam e garantem que a nova sede será motivo para festa rija.