“Quero ser o ‘fiel da balança’ no próximo executivo na Câmara de Óbidos”

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O candidato do BE à Câmara de Óbidos quer lutar pela transparência e participação dos cidadãos, defendendo, inclusive, um departamento de análise de denúncias. Avesso a maiorias absolutas, ambiciona ser eleito e tornar-se no “fiel da balança”

O deputado municipal João Paulo Cardoso, que repete a candidatura em Óbidos de há quatro anos, acredita que, desta vez, poderá chegar à vereação.

O que o leva a recandidatar-se à Câmara de Óbidos?
O que me levou à política é a luta pela transparência e participação dos cidadãos, importa a educação cívica. Com isto, quero dizer que entendo um político como alguém que, em determinada fase da vida, se dedica à coisa pública, desinteressadamente. Defendo que é preciso acabar com a chamada partidocracia, a que uns chamam “boys” e que é um cancro que temos em Portugal. Sou uma pessoa moderada, o próprio BE sabe que sou social-democrata, mas não me revejo no PSD. Os critérios que entendo para a qualidade de vida são a consciência para a corrupção, confiança nas instituições e os apoios sociais, que são aplicados nos países do norte da Europa

Que propostas concretas tem o BE para apresentar ao eleitorado?
Fui eu próprio que elaborei o programa. Desde logo queremos dar aos munícipes a possibilidade de saber o que os decisores de Óbidos fazem, os cidadãos devem ter acesso às assembleias municipais. Pretendemos também implementar um departamento de análise de denúncias dos munícipes e será um vereador a ficar com esse encargo. Considero que é verdadeiramente inqualificável que em Óbidos continuem a ocorrer questões por falta de transparência, que as pessoas não saibam por que é que se decide de determinada maneira ou por que o vizinho teve um certo tratamento e eu não…

O BE nunca elegeu elementos para o executivo municipal. Acredita que poderá ser desta vez?
Acredito que sim. Não temos grande capacidade económica para fazer publicidade visual, temos aproveitado as redes sociais. Defendo que venhamos a ser o fiel da balança

Nunca houve tantas candidaturas à Câmara de Óbidos. Que significado político tem este dado? Vitalidade na política ou divisionismo?
Estou felicíssimo por verificar o aparecimento de tantas candidaturas porque mostra às pessoas que há muitas opções. Vai dificultar a permanência de uma maioria absoluta. Uma das coisas que quero ver implementado é o direito à oposição, que já está consagrado na lei portuguesa há muitos anos.

A Lagoa de Óbidos é um ex-libris do concelho, mas cujo processo se arrasta há décadas. O que explica estes atrasos? Falta de vontade política? E concorda com a aquisição de uma draga por parte dos municípios das Caldas e de Óbidos?
Acho muito bem que Óbidos e Caldas se aliem e façam alguma coisa pela Lagoa de Óbidos, mas há questões a montante que são inacreditáveis. Tiveram anos que não se deram bem, tiveram presidentes que nem sequer se falavam, acho que não é uma coisa natural para quem se dedica ao exercício do bem comum. Houve muito má gestão da lagoa de Óbidos mas acredito que possamos fazer alguma coisa. Gostaria que Óbidos e as Caldas tivessem uma associação ou organização que permitisse atividades náuticas.

Considera que a eletrificação da Linha do Oeste a tornará competitiva com a rodovia?
É uma questão muito complexa. Passados tantos anos, terá de haver um estudo estrutural e não conjuntural para analisar esta questão. Uma linha férrea desenvolvida é sinal de país desenvolvido e nós regredimos. É muito importante a linha férrea e tem de haver uma ligação entre o Obi e o Toma, relacionado com as paragens dos comboios. É necessária articulação.

Os municípios do Oeste têm feito o suficiente para reivindicar a modernização da linha?
As pessoas reagem e lá vão os políticos a reagir também, mas tem sido um pouco assim por todo o país porque as PPP facilitaram a existência da rodovia e isso veio prejudicar a ferrovia. Nós preocupamo-nos porque tem de ser tudo articulado e ambas devem desenvolver-se. Defendo que o Obi e o Toma devem aliar-se e que deve ser a OesteCIM a gerir ambas as redes rodoviárias municipais. O que me leva a lutar para que o Obi e o Toma tenham vias conjuntas é para irem a todos os cantos do concelho. Há quatro anos na Sancheira Pequena falei com uma senhora precisa de ir às Caldas todas as semanas por questões de saúde e não tinha transporte público. O Obi passa uma vez por semana e não é no dia em que ela precisa. A política é para ajudar as pessoas, para dar-lhes qualidade de vida. Esta medida seria também útil para dar apoio a um parque de campismo que, em termos pessoais, gostava imenso que existisse junto à Lagoa de Óbidos.

Politicamente Óbidos teve apenas dois ciclos de poder. 24 anos com o PS, 21 dos quais com Pereira Júnior e agora 20 anos de PSD, oito dos quais com Humberto Marques. Acredita que se pode iniciar um novo ciclo político com estas eleições?
Claro que acredito e daí voltar a candidatar-me. Dou a cara pelas minhas ideias e espero que os obidenses se revejam nelas, como fiel da balança e contra as maiorias absolutas. Creio que não pode haver a noção de partidocracia. Não tenho pudor em afirmar que há gente competente nos vários partidos e que serão chamados se eu conseguir entrar. Mas o objetivo para este combate eleitoral em Óbidos é que o BE funcione como o ‘fiel da balança’.

Ao nível da saúde, Óbidos tem um grande défice ao nível dos cuidados de saúde primários…
Sim, a melhoria na área da saúde é uma das nossas bandeiras. Faltam recursos humanos e uma melhoria das instalações. Pergunto como é possível a degradação das instalações chegar a tal ponto que ninguém se sente bem no centro de saúde de Óbidos, cujo prazo de validade há muito de expirou, e também as extensões de saúde devem ser reformuladas. O mesmo acontece com o hospital das Caldas.

E relativamente ao novo hospital do Oeste, este é necessário?
Sim, claro que é preciso um novo hospital, o mais próximo possível da autoestrada. Há quatro anos afirmei que isso era algo que só o governo central podia decidir, hoje entendo que os munícipes, se se unirem podem fazer alguma pressão para a escolha da localização…. que deve ser junto a um acesso da autoestrada, da A8. O atual hospital está afastado e é uma dor no coração ver uma ambulância a tentar passar pela zona da Praça da Fruta.

O BE elegeu um deputado para a Assembleia Municipal de Óbidos. Considera que as suas propostas têm sido ouvidas e implementadas?
Ouvidas sim, implementadas não sei. Conseguimos que as propostas sobre a eletrificação da Linha do Oeste, a Lagoa de Óbidos, hospital e a criação da Unidade de Cuidados Intensivos tenham sido aceites. No entanto, há quatro anos propus que fossem aproveitados os meios tecnológicos para permitir aos cidadãos o acompanhamento das sessões da assembleia municipal e a maioria votou contra. ■
redaccao@gazetadascaldas.pt

“Defendo um orçamento participativo para os artistas”

Um Orçamento Participativo para artistas locais e um Centro de Interpretação histórico são algumas das propostas avançadas

João Paulo Cardoso defende a criação de um orçamento participativo para todos os artistas locais e “que são muitos”. Para além disso, considera importante a implementação de um centro de interpretação histórico, adiantando que em Óbidos há “ferramentas e pessoas qualificadas” para a sua concretização. “Temos coleções museológicas muito boas, é pena não estarem bem divulgadas”, disse o candidato que se questiona sobre a razão pela qual o espólio das invasões francesas oferecido à Câmara não está exposto.
A cultura poderá ser descentralizada pelas freguesias, também como forma de atrair turismo a essas terras. Por outro lado, a realização de eventos de qualidade permitiriam uma permanência de mais dias na região, ao invés do “excursionismo”, que é de passagem.
Para o futuro museu etnográfico, que João Paulo Cardoso gostaria de ver concretizado, indica uma das várias casas que a Câmara de Óbidos possui dentro da vila. “Deve ser a maior proprietária de casas na vila… já vi salas vazias…há concerteza um local para o museu”, sublinha.
O candidato do BE é crítico das construções em madeira que servem de cenário aos eventos na cerca, destacando que descaracterizam o património. “Se entrar [na Câmara] vão abaixo com certeza”, avança. E também a Óbidos Criativa “tem de se refundar”, aproveitando para dinamizar eventos por todo o concelho. Defende também um maior critério na realização dos eventos. Se, por um lado, considera que o Mercado Medieval ou o Folio – Festival Internacional de Literatura de Óbidos, devem continuar a ser feitos na vila, outros cuja temática não se relacione diretamente com concelho, deverão passar para a alçada da OesteCIM.
O ciclo de entrevistas que está a ser promovido pela Gazeta das Caldas em colaboração com a 91 FM prossegue na próxima semana com o candidato do Chega nas Caldas, Edmundo Carvalho. ■

O atual membro da Assembleia Municipal defende a existência de um museu etnográfico no concelho