O Bloco de Esquerda candidata-se pela primeira vez à Câmara e Assembleia Municipal de Óbidos. João Paulo Cardoso e Fábio Capinha são os dois candidatos, que no passado dia 25 de Julho, se apresentaram publicamente com o objectivo de “mudar a política” em Óbidos e dar “primazia” às pessoas.
“Uma alternativa para restaurar a democracia”, foi como se assumiram perante uma plateia de cerca de 30 militantes e simpatizantes do bloco.
“Em Óbidos, mais do que trabalhar para aparecer em notícias, é necessário, em primeira mão, buscar o que de melhor os munícipes possam oferecer e dar protagonismo ao capital intelectual dos nossos concidadãos”. Esta é uma das premissas da candidatura bloquista, liderada por João Paulo Cardoso, que quer implementar o Orçamento Participativo também neste concelho.
O candidato, que se desvinculou recentemente do grupo parlamentar do PS na Assembleia Municipal, sublinhou o trabalho já conseguido pela Plataforma Bom Sucesso na contestação pela desmatação daquela zona junto à costa para a construção de um empreendimento turístico e garantiu que, caso seja eleito, irá “apurar responsabilidades” sobre aquele processo. Relativamente à Lagoa de Óbidos, defendeu uma intervenção conjunta com a edilidade das Caldas, uma cooperação que se deverá estender à limpeza e acessibilidade das praias e à articulação das redes do Obi e Toma.
O candidato do BE quer aproximar a política do cidadão, com a implementação de um sistema de transmissão online das reuniões e com a garantia de “acesso livre, universal e inclusivo ao espaço público”. Promover uma política de apoios sociais, reduzir a taxa de IMI, apoiar a agricultura e criar um centro de interpretação da vila e concelho de Óbidos são outros dos seus objectivos.
João Paulo Cardoso referiu que irão colaborar num estudo para o levantamento das reais necessidades e potencialidades do concelho, de modo a depois tomarem decisões, nomeadamente ao nível da educação e cultura.
Já o jovem candidato à Assembleia Municipal, Fábio Capinha, referiu-se a esta candidatura como um “rasgo de mudança e frescura que vem mexer com a habitual táctica tácita dos partidos do concelho”. Num discurso irónico, o estudante e músico, falou dos “donos disto tudo” e de como gostava que o seu concelho fosse diferente. “Gostava que Óbidos, para além de vila de eventos, fosse também o município de turismo do ambiente, onde pudéssemos passear ao fim da tarde por um belo pinhal, onde esse pinhal oferecesse espaços de convívios gratuitos sem desconto da ticket line”, exemplificou.
“Em vez de políticos, elejam activistas”
Fábio Capinha gostava que Óbidos fosse percursor das energias limpas e que se tornasse num concelho livre de organismos geneticamente modificados, num bastião contra as alterações climáticas. Defendeu ainda o combate à precariedade no trabalho, com o exemplo a ser dado pela autarquia, e o pagamento a tempo e horas dos agentes culturais, assim como a requalificação da biblioteca municipal.
Fábio Capinha considera que muitas destas ideias poderão ser concretizadas se os cidadãos, nas próximas eleições, “em vez de políticos, elegerem activistas”, como é o seu caso.
Também presente na apresentação pública, que juntou cerca de 30 pessoas na Livraria da Adega, esteve o deputado na Assembleia da República eleito por Leiria, Heitor de Sousa. O dirigente bloquista destacou como um dos aspectos centrais desta candidatura a democracia e o exercício da cidadania em Óbidos. “Só se as pessoas se envolverem directamente na resolução dos problemas e construção das soluções, é que o nosso futuro comum será melhor”, disse, defendendo que a criação do orçamento participativo será o principal contributo nessa mobilização.
Heitor de Sousa disse que, caso seja eleito, o candidato do bloco irá defendê-lo com muita insistência na Assembleia Municipal, que é o órgão que tem que decidir sobre o regulamento e verba a incluir no orçamento participativo.
O dirigente bloquista criticou ainda a “mercadorização do ambiente” que tem sido feita pelo executivo de Óbidos, ao “olhar para o ambiente como um negócio”, disse, referindo-se à aprovação dos empreendimentos no Bom Sucesso. Referindo-se concretamente ao Falésia d’el Rey, denunciou a forma como foi conduzido o processo. “É mais um mono que vai nascer ali, que progressivamente vai sendo abandonado e que, em vez das árvores que lá estavam, vão crescer ervas daninhas”, alertou.
Heitor de Sousa considera que a autarquia tem sido “cúmplice com os atentados ambientais que têm sido cometidos em nome de empreendimentos turísticos que, a continuarem desta forma, vêm criar mais problemas do que aqueles que resolvem”, disse, destacando que não criam emprego nem distribuem riqueza local.