“Se fosse preciso eu até pagava as análises pessoalmente”. “Se não houver verbas na Câmara eu vou fazer um movimento para arranjar dinheiro para pagar as análises”.
Estas duas frases foram ditas pelo presidente da Câmara das Caldas depois de ter sido confrontado com a possibilidade do Hospital Termal poder encerrar a sua actividade por causa da falta de verbas para a análise semanal obrigatória das suas águas.
O CHON comunicou a Fernando Costa, a 8 de Março, que necessitava de apoio financeiro para manter o Hospital Termal a funcionar, tal como noticiámos a semana passada.
“O administrador colocou-me o problema com todo o dramatismo, de que estava impossibilitado legalmente, com a nova Lei dos Compromissos, de contrair as análises porque não tinha verba disponível e porque havia dívidas que os outros lhe deixaram”, contou o presidente da Câmara aos jornalistas, no final da reunião da Assembleia Municipal de 13 de Março. Em resposta terá dito a Carlos Sá que podia encomendar as análises para que o hospital termal não fechasse.
O autarca divulgou também que o CHON tem uma dívida de mais de 40 mil euros ao Instituto Superior Técnico pelas análises realizadas desde há dois anos. “Foram as anteriores administrações do centro hospitalar que levaram a um endividamento que rondavam os 60 milhões de euros e é esta situação que está a condicionar a vida dos hospitais”, comentou.
No dia anterior tinha sido aprovado na reunião de Câmara desbloquear uma verba inicial de 2000 euros para pagamentos das análises, que custam semanalmente cerca de 600 euros.
No futuro o presidente da autarquia pretende, através da Liga dos Amigos do Centro Hospitalar, transferir uma verba anual de 50 mil euros para fazer face a esta e outras despesas.
Fernando Costa acha toda a situação criada “muito estranha e algo absurda” porque não entende muito bem que o CHON não tenha verba para este pagamento.
Por outro lado, também referiu que “aquilo que ouvi dizer é que se não for encontrada uma solução sustentada para os dois hospitais, estão os dois sujeitos a fecharem”. O que acaba por contradizer todas as críticas que tem feito à oposição por insinuarem que o hospital das Caldas poder fechar.
“Quando o país está falido estas coisas acontecem, para surpresa de muita gente”, afirmou.
O presidente da Câmara está a equacionar a hipótese de uma candidatura ao PROVER (Programa de Valorização das Estâncias Termais da Região Centro) para reabilitar os pavilhões do Parque e outros espaços. “Foi-nos dito que há óptimas condições para nos candidatarmos”, disse.
Fernando Costa garante que a autarquia caldense terá disponíveis as verbas necessárias para pagar a comparticipação nacional dessas obras (cerca de 15% do valor total, que poderá ser de sete milhões de euros).
Nesse caso, será a Câmara a ficar com a tutela dos dois maiores espaços verdes do concelho.
O Conselho de Administração do CHON não se alongou em explicações sobre este caso, tendo emitido um comunicado a 14 de Março, no qual refere que a instituição, tendo em conta o contexto actual, “tem vindo a adoptar uma estratégia que visa canalizar os recursos disponíveis para as áreas de actuação prioritárias, tais como os serviços de urgência, internamento, bloco operatório e consulta externa, entre outros”.
No comunicado, sublinha-se que esta opção nada a ver com a possibilidade de cedência de património termal ou outro à autarquia “assunto efectivamente em análise, mas sobre o qual não existe ainda qualquer decisão”.
DEPUTADOS MUNICIPAIS PREOCUPADOS COM AS TERMAS
Embora os deputados municipais nem sequer se tenham apercebido realmente da gravidade da situação, houve algumas intervenções de políticos preocupados com o futuro do Hospital Termal na reunião de 13 de Março.
Pedro Marques (PSD) fez questão de deixar algumas perguntas no ar, nomeadamente qual foi a administração que decidiu acabar com o internamento no Hospital Termal e “como é que se chegou aos 1500 aquistas por ano”, depois das termas terem tido um pico de 8000 frequentadores. O deputado salientou que isso aconteceu num período em que houve maioritariamente ministros da Saúde de governos socialistas. “Há responsáveis e há que tirar conclusões”, afirmou.
“As termas das Caldas definharam ao longo do tempo. Agora os tratamentos já são ao mesmo preço do que noutras, com muito melhores condições. É mais uma desvantagem”, disse.
Para Jorge Sobral (PS) a forma como o Ministério da Saúde está a destituir-se da sua missão no Hospital Termal “é extremamente grave”.
Lino Romão (Bloco de Esquerda) referiu que Conceição Camacho, directora clínica do Hospital Termal (que ali trabalha há 27 anos), terá afirmado junto dos deputados que este estabelecimento poderia ter um laboratório próprio para a realização das análises à água.
O deputado aproveitou também as explicações que foram dadas nas reuniões realizadas pela comissão da Assembleia para salientar que há um grande potencial nas termas caldenses na área de tratamento das doenças reumatológicas.
De acordo com os números que foram apresentados, se o Hospital Termal atingir de novo os 8000 aquistas por ano, consegue garantir a sua sustentabilidade financeira, incluindo a manutenção do seu património.
Pedro Antunes
pantunes@gazetadascaldas.pt