Festa do Avante: “faz cada vez mais sentido defender os ideais comunistas”

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Gazeta das Caldas
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No passado sábado, era este o grupo de trabalho na cafetaria que é gerida pelos comunistas caldenses

“Não há festa como esta!” é o que se ouve um pouco por todo o lado enquanto se percorre a festa do Avante, na Quinta da Atalaia que este ano teve lugar nos dias 7,8 e 9 de Setembro. A habitual celebração marca o fim do Verão e a reentré política do PCP. Gazeta das Caldas esteve neste evento e falou com militantes da região que dizem que ser comunista hoje é mais do que necessário pela defesa de uma sociedade mais justa, com direitos iguais para todos.

O Avante é o último festival da época e é bem diferente dos outros pelas suas características. Não vive só da música nem é exclusivo para os mais jovens, mas para toda a gente. E também todos são chamados a organizá-lo.
Mas ser comunista hoje em dia, continua a fazer sentido? Ana Rebelo diz que sim e hoje mais que nunca, pois o partido apresenta “propostas actuais e centradas nas preocupações do dia a dia da população em termos do trabalho, dos direitos, saúde e educação. Faz sentido continuar a lutar por tudo isto!”

No entanto, e apesar do Avante atrair milhares de pessoas, reconhece que é algo que não se traduz em votos. Porquê? “Eu própria também me questiono sobre isso… As pessoas gostam de aqui estar, mas depois não votam em nós…”. Acha que ser comunista “não é como ser dos outros partidos, em que mudam de opinião com muita frequência”. Acha que os comunistas procuram ser honestos e “quem se der ao trabalho de pesquisar a nossa posição, não muda sem razão”.
Ana Rebelo afirma que o seu partido não se coaduna com populismos e que ainda existem muitos preconceitos contra o PCP. “Dizem que nós criticamos as grandes empresas, mas só o fazemos quando os bons resultados são conseguidos à custa dos trabalhadores. Estes não beneficiam em nada e à mínima crise são os primeiros a ser prejudicados”, disse Ana Rebelo, acrescentando, que “vale a pena continuar a lutar por uma sociedade mais justa”.
Pedro Enxuto, por seu lado, também do PCP das Caldas, já há vários anos que vem trabalhar para o Avante. Para este militante, “faz cada vez mais sentido ser comunista! Sou trabalhador e isso basta para concordar com os ideias deste partido”. O comunista lamenta que o PCP não obtenha mais votos e acha que a população deveria ter mais consciência social na hora de ir às urnas. “Os outros partidos têm a comunicação social nas mãos”, queixou-se, explicando que a postura do PCP “é ao contrário dos outros partidos, que pagam os almoços e os autocarros enquanto que nós, militantes, contribuímos todos com trabalho para, por exemplo, organizar esta festa”.

“Não temos o mesmo tempo de antena”

Cristina Pejapes é de Ferrel e vem há sete anos seguidos trabalhar na Festa do Avante. Há oito anos que faz parte do PCP e, na sua opinião, faz todo o sentido ser comunista no século XXI “para lutar pelos direitos das pessoas e dos trabalhadores”. Agora, o que falta “é que as pessoas percebam que têm que votar no partido certo!”, disse a militante, que trabalha na fábrica de conservas Thai Union onde é também sindicalista. Mariana Rocha veio da Ribafria (Atouguia da Baleia). Já vem ao Avante há oito anos e o que mais gosta deste mega-evento é o convívio.
Na sua opinião, faz sentido ser comunista hoje pois o PCP “é o único partido que defende a liberdade, a transformação do mundo e uma sociedade mais justa”. Para Mariana Rocha, após o 25 de Abril ainda “há muita gente que queria voltar atrás, o fascismo ainda não acabou, ainda há muito trabalho a fazer, em nome da verdadeira liberdade”.
A militante, que pertence à Assembleia Municipal de Peniche, eleita pela CDU, acrescentou que os comunistas se sentem “muito descriminados” pela comunicação social pois a imprensa “não anda atrás de nós como fazem com outros partidos, nem nos dá o mesmo tempo de antena”. A militante acha que o partido tem boas propostas, mas que não consegue passar a mensagem e é por isso que não conseguem obter mais votos.

“Sempre lutei e trabalhei com comunistas”

Adriano Mesquita, 77 anos, da Marinha Grande, acha que faz todo o sentido ser comunista hoje pois ainda há que lutar pelos valores que o partido defende. “Sempre lutei e trabalhei com trabalhadores comunistas, apesar de algum anti-comunismo feroz que existia no distrito de Leiria”, disse o militante que trouxe o seu artesanato em vidro para a festa, algo que faz por convite há pelo menos seis anos.
Sobre o facto do PCP não conseguir obter os necessários votos para eleger deputados como acontece em Leiria, o vidreiro afirma que ainda há “muitos preconceitos contra os comunistas”.

“Sabem que nós temos razão”

“Claro que faz sempre sentido ser comunista e no século XXI cada vez mais!”. Palavras de António Barros, comunista caldense que acha que é preciso continuar a lutar contra “as dificuldades, cada vez maiores, que o grande capital e alguma comunicação social nos cria”.
Na sua opinião, os media têm uma acção “muito importante” no sentido “de desvirtuar os movimentos solidários e de esquerda e tentam silenciar-nos porque sabem que nós temos razão!”
António Barros diz que é necessário defender as conquistas de Abril e para tal é necessário “um PCP mais forte na Assembleia da República e nos órgãos autárquicos”.
Maria de Los Angeles Oliveira é professora no Bombarral e pertenceu à Assembleia Municipal local durante 16 anos. Acha que ser comunista na actualidade faz todo o sentido dado que “vale a pena continuar a lutar pela defesa dos trabalhadores, pela justiça social, por uma vida mais justa, solidária e mais humanista”. Para a docente, “há muita gente que infelizmente acha que os comunistas a mandar são um perigo”, mas, na verdade, quando trabalham com responsáveis políticos comunistas “constatam que somos bons” e sempre que há problemas relacionados com trabalho, “toda a gente bate a porta do comunista-sindicalista”. Reconhece, no entanto, que não conseguem traduzir em votos as suas políticas e valores.

Defender os que nada têm

Para Margarida Taveira, eleita vereadora pela CDU na Câmara de Peniche entre 1994 e 2001, faz todo o sentido ser comunista pois “nem sequer dá para pensar noutra maneira! Nós defendemos ideias e temos uma prática própria que vamos mantendo ao longo da vida”. Ser comunista no século XXI “é saber comemorar os 200 anos de Karl Marx com o mesmo entusiasmo, defendendo ideias de justiça social”. Por isso, é preciso continuar a defender “quem nada tem e quem nada pode e que são os mais marginalizados da sociedade”.
A simpatizante do PCP, acha que desde o 25 de Abril até agora, “houve uma intoxicação da opinião pública contra os nossos ideais” e é por isso que os comunistas não conseguem obter mais votos. No entanto, Margarida Taveira crê que o PCP “é cada vez mais respeitado”, rematou.

“Veja quem entra para a Câmara das Caldas”

Para o caldense Vítor Fernandes, deputado municipal eleito pelo PCP, faz sentido continuar a lutar “por mais justiça social, por uma sociedade cada vez mais ao serviço dos trabalhadores e do povo e não ao enfeudamento aos ricos e poderosos”.
Para o comunista, “a UE e outras forças do grande capital condicionam muito as pessoas, através da comunicação social e do poder económico”. Acha, pois, que ainda há preconceitos contra o partido e que a religião, em determinadas zonas, “também tem muita influência na opinião das pessoas”.
Vítor Fernandes acha que ao nível local também se condicionam os votos. “Nas Caldas da Rainha o PSD está no poder há mais de 30 anos… Veja quem entra para trabalhar para a Câmara… Há toda uma rede que o partido domina e que acaba por condicionar as pessoas, independentemente das políticas”, rematou.
Além dos vários militantes e simpatizantes comunistas, a festa do Avante contou ainda com artistas caldenses. Marco Telmo apresentou videomapping e Nuno Bettencourt marcou presença apresentando os trabalhos do colectivo Galdéria.