Festa do Avante! vai entrar nos 40 e com uma “casa” ampliada

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Avante“Não há festa como esta”, dizem, e é difícil de desmentir. A Festa do Avante! junta milhares de comunistas, simpatizantes e pessoas que, sem grandes interesses políticos, aproveitam os concertos, exposições e mostra de gastronomia que se concentram, durante três dias na Quinta da Atalaia (Seixal). Caldas da Rainha voltou a marcar presença, este ano mesmo em frente ao palco principal, com a sua já famosa cafetaria e voltou a receber muitos camaradas da terra que, anualmente, não deixam de marcar presença no evento que assinala também a rentrée politica comunista.
A 39ª edição da Festa do Avante decorreu nos dias 4, 5 e 6 de Setembro e, ainda esta não tinha acabado, pensa-se já na seguinte, que será maior. É que o PCP comprou a Quinta do Cabo, mesmo ali ao lado, para ajudar a celebrar 40 anos do Avante!.

Com ponto de encontro marcado para as 10h00 de domingo junto ao largo da Rainha, os caldenses embarcariam minutos depois no autocarro que já trazia camaradas da Marinha Grande e que os levaria até ao Seixal, para passar o dia em mais uma Festa do Avante!
A grande maioria dos 36 caldenses que este ano foram no autocarro já lá foi dezenas de vezes. Lembram as primeiras edições na Fil, depois no Alto da Ajuda, mais tarde em Loures e agora na Quinta da Atalaia, num “terreno do partido”, que garante muito melhores condições para a realização da festa. É o caso de José Carlos Faria, que nos últimos anos tem ido de autocarro com a família. Sobre o Avante! diz tratar-se de muito mais do que uma iniciativa organizada por um partido político, mas uma “manifestação cultural de primeira grandeza!”.
Chegados ao local apenas importa saber o ponto de encontro e a hora para o regresso à noite. Cada um vai agora para onde lhe apetecer nos 21 hectares da Quinta da Atalaia.
Seguindo a via principal, que desemboca no palco 25 de Abril, entrava à direita (como que por provocação) o stand de Leiria, composto pela já famosa cafetaria das Caldas (um dos poucos locais a garantir pequenos-almoços no recinto), o espaço de Peniche com a sua sardinha assada, a ginja de Óbidos e Alcobaça, bem como o vinho do Bombarral e, ao centro, o restaurante da Marinha Grande. Espaço ainda para o Kakus Bar, dinamizado pela juventude, a venda de pão com chouriço feito na hora e a possibilidade de comprar objectos em vidro da Marinha Grande.
Um artesão mostrava como se molda o vidro e, pelas paredes, cartazes mostram os problemas por que se bate o distrito e a carta de compromisso assumida pelos candidatos comunistas.
Para que este mega evento corra bem, há uma organização de meses e milhares de pessoas, todos voluntários. Só do distrito de Leiria estiveram diariamente cerca de uma centena a trabalhar no stand, mas já muito antes começaram os preparativos.
Vítor Fernandes, da concelhia caldense do PCP, foi o responsável pelo abastecimento do stand de Leiria. Números consideráveis como 15 mil copos de imperial, 80 barris de cerveja, 30 quilos de café, 60 paletes de litro e meio de água e outro tanto de garrafas pequenas, iguais quantidades de cerveja e sumos, são apenas um exemplo da dimensão da festa. Muitos dos produtos já tinham esgotado e tiveram que ser repostos. Foi o caso do leite, café e manteiga, utilizados na cafetaria das Caldas.
E, porque a pesca é um sector importante na região, não podia faltar a sardinha, que é vendida assada no pão. Este ano compraram 150 quilos deste peixe mas, fruto da proibição da sua captura, ao triplo do preço do ano passado. “Este ano comprámos a sardinha a 7,50 euros enquanto que era costume ser a 2 euros”, disse Vítor Fernandes, acrescentando que o preço de venda do prato se manteve nos seis euros.
O sábado foi o melhor dia de negócio (se é que esta palavra fica bem reportada a um evento comunista) mas, de acordo com Vítor Fernandes, no geral foi uma boa edição. O facto de estarem mesmo frente ao palco principal e ser um local de bastante passagem também ajudou a que mais pessoas ali se dirigissem.
Também no sábado contaram com a presença do Rancho Folclórico e Etnográfico do Reguengo da Parada, que actuou pela primeira vez na Festa do Avante!, no Palco Arraial.
A participar desde a primeira edição, Vítor Fernandes destaca o convívio e a abrangência que a Festa permite. “Isto é um grande ponto de encontro, mas não é só dos comunistas”, destaca, acrescentado que alguns vão pelos espectáculos, confraternização e ambiente que ali se vive e não se encontra noutro lado. “As pessoas gostam de vir e nós fazemos os possíveis para que se sintam bem”, remata.

“A minha passagem de ano é no Avante!”

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Há 30 anos que Mónica Baptista é presença assídua na Festa do Avante. Começou a ir tinha 11 anos, acabada de regressar de Moçambique com os pais. Mas aos 15 já ia sozinha das Caldas para a festa com os amigos. Desde 2004 que vai com o marido e com a filha, que é também presença assídua no evento.
“Gosto muito do espírito que aqui se vive e da quantidade de coisas que há para ver e fazer”, disse à Gazeta das Caldas, destacando ainda a forma gentil como todas as pessoas se tratam. “Há um espírito de sintonia que nunca consegui encontrar em mais lado nenhum”, revela, destacando que a ali a cultura entra pelos olhos adentro e enche o coração.
Mónica Baptista destaca também a boa organização do evento, o que lhe dá segurança para ali levar a filha desde que nasceu. “Não há conflitos, mesmo estando tantas pessoas juntas. Não conheço outro sítio onde isso aconteça”, conta.
E é por gostar tanto que recomenda a Festa do Avante!. Por isso, já perdeu a conta às pessoas das Caldas que levou pela primeira vez ao evento e garante que é para continuar. “A minha passagem de ano é no Avante!”, diz, realçando que encontra pessoas amigas, tranquilidade e um conjunto de eventos culturais a que normalmente não tem disponibilidade para ir.
Para além da grande mostra gastronómica de todo o país, esta edição deu destaque, no Espaço Central, à grande exposição “A Força do povo – Soluções para um Portugal com futuro”. Foi também ali que se realizaram alguns dos cerca de 30 debates sobre temas da actualidade nacional e internacional.
No Espaço Internacional, no ano em que se assinalam os 70 anos da vitória sobre o nazi-fascismo e o fim da 2ª guerra mundial, era dado destaque à resistência e luta dos povos, nomeadamente dos cubanos e palestinianos.
A luz foi o destaque do Espaço Ciência. Havia diversos espaços expositivos e, pelos vários palcos espalhados pelo recinto, actuaram dezenas de grupos. Teatro, cinema, feiras do livros e de discos, assim como a venda de artesanato e produtos relacionados com o partido, como as t-shirts e boinas, também compuseram o evento.
Tratando-se de um partido cuja luta já conheceu grandes adversidades, o antigo tipógrafo na clandestinidade, Raul Costa, de 88 anos, fez questão de estar presente com um equipamento de tipografia rudimentar que era usado, às escondidas da Pide, nos tempos da ditadura para imprimir o Avante! e propaganda.

Críticas ao PSD, CDS e PS

Mas este ano, a um mês das eleições, a intervenção politica foi mais marcada. No tradicional comício de encerramento, o secretário geral do PCP, Jerónimo de Sousa, defendeu que votar nesta coligação é votar contra as maiorias.
O dirigente comunista acusou o PSD, PS e CDS-PP de entregarem o país às “mãos do estrangeiro e ao seu programa de saque e terrorismo social” e de terem imposto uma política de “exploração e empobrecimento dos trabalhadores, do povo e o saque do património do país”. Disse mesmo que os governos destes três partidos são os responsáveis pela crise que alastrou a todos os sectores da vida nacional, incluindo a justiça, o poder local e o próprio regime democrático.
“É a sua política que é preciso derrotar e não apenas o governo de serviço”, disse, destacando a importância das próximas eleições de 4 de Outubro e a necessidade  de ruptura com a política de direita, com um reforço da CDU.
Jerónimo de Sousa diz que cada voto na CDU conta para retirar deputados ao PSD/CDS e derrotar o governo e a coligação, mas também para impedir que a “política de desastre nacional que PS, PSD e CDS prosseguem há décadas seja agora prosseguida pela mão do PS”. Informou, optimista, que a campanha que têm levado a cabo permitiu a adesão de 2000 novos militantes, sobretudo jovens e mulheres.
Jerónimo de Sousa deixou ainda uma saudação à juventude e JCP que trabalharam na construção do evento e que são a “prova provada de uma Festa carregada de futuro”.

Mais sete hectares de Festa em 2016

“Mais espaço, mais festa” é o slogan da campanha nacional de fundos para a aquisição da Quinta do Cabo, um espaço de sete hectares contíguo à Quinta da Atalaia, que custou perto de um milhão de euros.
Nas Caldas a concelhia tinha a meta de angariar 3600 euros, que já foi atingida. No entanto, a campanha continua. Mónica Baptista ainda não participou, mas pretende fazê-lo e em nome da filha, Adriana, para que ela “sinta também que o Avante! é um bocadinho dela”.
Já o secretário geral, Jerónimo de Sousa, destacou, na sua intervenção, que “só um partido que tem uma confiança inabalável na sua luta, no seu projecto e num Portugal com futuro tomaria esta decisão audaciosa!”.

Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt

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