João Paulo Delgado: “O aumento para mil euros do salário mínimo nacional a partir de maio é imperativo”

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João Paulo Delgado elege as políticas de direita como o principal adversário
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Compromisso O combate às políticas de direita e a defesa dos direitos da população no acesso à habitação, à saúde e a melhores salários são prioridades assumidas pelo cabeça-de-lista da CDU pelo círculo de Leiria

Há muito que autarcas e deputados eleitos por Leiria se queixam da falta de peso político do distrito e falta de investimento por parte dos sucessivos governos. Concorda?
A falta de peso político decorre muito da capacidade de intervenção de quem tem sido eleito pelo distrito. Eu dou o exemplo claro do trabalho feito pelos eleitos no quadro da CDU e do PCP na Assembleia da República (AR), que, mesmo não tendo nenhum deputado eleito pelo distrito, fazem mais intervenção sobre o distrito do que todos os outros deputados eleitos pelo distrito. Isso é muito significativo, daí a urgência de elegermos um deputado por Leiria pela CDU.

Quais são, para si, as assimetrias mais preocupantes no distrito?
Temos claramente uma grande densidade populacional e uma grande ocupação do território na faixa litoral. Depois, quando andamos 20, 25, 30 quilómetros para o interior, verificamos uma realidade completamente díspar e um despovoamento muito acentuado, com consequências no abandono da agricultura familiar e de terrenos. O combate a estas assimetrias tem de ter em conta as suas diversas dimensões, como a mobilidade e transportes públicos, o acesso à cultura, que é também um fator de fixação de família, à saúde, aos serviços públicos e ao emprego. Também sabemos que o turismo tem uma grande força no litoral mas que tipo de trabalho tem vindo a criar? Tem subido sistematicamente vários pontos percentuais a cada ano que passa mas, do ponto de vista da degradação dos postos de trabalho, das relações laborais, dos níveis salariais, é de uma precariedade atroz.

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Tem defendido rapidez na construção do hospital do Oeste. Concorda com a localização indicada, no Bombarral?
Não sendo a localização uma questão indiferente, o que nós defendemos é a rapidez na construção do hospital do Oeste e no melhoramento dos hospitais existentes e dos centros de saúde, para continuarem a dar uma resposta de proximidade às populações. Aquilo que tem acontecido é uma degradação muito acentuada da oferta pública, muito pressionada pelos grandes grupos económicos. Estamos a assistir ao aparecimento de hospitais privados por todo o lado e muitas vezes muito perto dos hospitais públicos, quando nós devíamos ter o investimento do Orçamento do Estado (OE) canalizado integralmente para a oferta pública, melhorando as condições de trabalho dos profissionais de saúde. Já bem mais de 50% do OE dedicado à área da saúde vai para privados e isso é uma preocupação enorme.

Uma das medidas do programa do PCP é garantir que 1% do PIB seja investido na resposta pública da habitação e que sejam disponibilizadas 50 mil casas. É possível?
Se a memória não me atraiçoa, são mais de 720 mil as casas no país que estão vazias, privadas e públicas. A resposta da habitação não é unidirecional e há várias formas de dar resposta à questão. Temos a habitação pública em que o Estado investe fortemente com a criação de novas casas para serem arrendadas a um preço que a população possa suportar, mas temos outras linhas como, por exemplo, o modelo cooperativo em que as pessoas se organizam em nome de um desiderato comum, mas com condições vantajosas ao nível da disponibilização de terrenos e da própria construção. Temos, naturalmente, a denúncia do combate à especulação e de baixar os juros do crédito à habitação, impedindo esta loucura de os bancos ganharem por esta via cerca de 11 a 12 milhões de euros por dia. Isto é absolutamente inaceitável nos dias que estamos a viver e com todas as dificuldades que a maior parte da população está a sentir de acesso a bens essenciais, por exemplo.

Se for eleito, qual será a sua primeira iniciativa?
O aumento para mil euros do salário mínimo nacional já a partir de maio é uma questão imperativa, e não para 2028 como determina o PS e o Pedro Nuno Santos ou os 940 euros como o Bloco de Esquerda preconiza. Nós sentimos que há condições para isso e que, aumentando o salário mínimo nacional, pressiona os outros níveis salariais acima porque a classe média também tem de ver reforçado os seus salários. Portanto, o aumento geral de salários é aquilo que nós defendemos como prioridade máxima. A habitação está na mesma linha, assim como a saúde: o reforço do SNS é absolutamente determinante.
A CDU perdeu deputados nas últimas legislativas e em Leiria não tem conseguido convencer o eleitorado…
Estamos a trabalhar para que a população perceba que fica mais desprotegida quando a CDU perde força. Tivemos grandes avanços quando foi preciso travar a Troika e os governos do Passos Coelho e do Paulo Portas – PSD e CDS -, em que estavam metidos representantes que hoje estão divididos pela Iniciativa Liberal e pelo Chega. Saíram todos destes partidos e hoje dizem que querem devolver tudo a toda a gente, quando nessa altura cortaram tudo a toda a gente. O PCP e a CDU foram responsáveis por estancar essa deriva que estava a infernizar a vida dos portugueses e pelos principais avanços da designada geringonça que determinaram aquilo que hoje conhecemos por um programa de creches gratuitas, manuais escolares gratuitos, descida dos passes intermodais, defesa dos micro, pequenos e médios empresários, ou descida do IVA para a restauração de 23% para 13%.

Nestas eleições, qual é o seu principal adversário?
São as políticas de direita, sejam elas protagonizadas por quem for, seja pelo PS, PSD, CDS, Iniciativa Liberal ou Chega.

O PS também?
O PS, muitas vezes. tem governado à direita. Nestes dois anos de maioria absoluta tinha todos os instrumentos ao seu dispor para fazer uma política verdadeiramente de esquerda. Dizia que tinha o orçamento mais à esquerda de sempre e viu-se aquilo que se viu. Aquilo que forem políticas que se possam saldar por avanços e ganhos para os trabalhadores, para o povo português, podem contar com a CDU. O combate pelo esclarecimento é determinante para a democracia. Todos os votos na CDU contam para combater as políticas de direita.

Admite uma coligação caso o PS vença sem maioria?
Já está assumido pelo meu partido que tudo será assumido proposta a proposta. O PCP e a CDU não disputam o poder pelo poder, nem lugares no Governo só porque sim. Proposta a proposta, havemos de negociar aquilo que é bom para o povo e para os trabalhadores.

Perfil

Licenciado em Artes Plásticas, pós-graduado em Economia Social e doutorado em Sociologia no campo das relações de trabalho, desigualdades sociais e sindicalismo, João Paulo Delgado encabeça a lista da CDU às legislativas por Leiria. Aos 46 anos, o candidato nazareno, dirigente do PCP, conta ainda com 13 anos de experiência como pescador, mestre de embarcações de pesca e formador nas áreas da tecnologia da pesca, da marinharia, desenho e história da arte. Eleito vereador na Câmara da Nazaré à terceira tentativa, assume o cargo sem pelouros desde 2021. Foi membro da Assembleia Municipal durante vários mandatos e preside à Cooperativa Mútua dos Pescadores, entre outros cargos associativos.

Martine Rainho – Entrevista conjunta REGIÃO DE LEIRIA/GAZETA DAS CALDAS

 

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