Monumento ao 16 de Março vai ser inaugurado no próximo ano

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Gazeta das Caldas
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JoanaGazetaCaldas da Rainha vai ter um monumento com cerca de oito metros de altura para evocar o 16 de Março de 1974. Aquela tentativa de golpe – que pretendia fazer a revolução que só viria a acontecer 40 dias depois – serviu, em termos operacionais, para preparar o 25 de Abril.
Passados 41 anos, o município encomendou a obra comemorativa a José de Santa-Bárbara, escultor ligado às Caldas. O monumento será inaugurado a 16 de Março do próximo ano, em frente à Escola de Sargentos do Exército (ESE). Junto à obra haverá um centro interpretativo, onde serão colocadas placas explicativas sobre o golpe.
Estas novidades foram anunciadas no passado domingo, 15 de Março, na cerimónia evocativa do 16 de Março onde também foram distribuídas maletas pedagógicas sobre este acontecimento aos responsáveis pelos agrupamentos escolares caldenses.
Essas maletas designam-se  “Levanta-te que é Hoje!” e, segundo a investigadora do PH, Joana Tornada, sugere a precipitação dos factos na sequência do golpe das Caldas.
O seu objectivo é divulgar e promover o estudo do 16 de Março de 1974 a nível nacional e internacional. A sua criação “nasceu da ausência de documentação histórica e historiográfica sobre o tema nos manuais escolares e da riqueza da riqueza deste assunto que permite uma abordagem interdisciplinar”, afirmou a historiadora, que foi a primeira convidada a intervir na cerimónia evocativa.
A maleta, que foi distribuída aos responsáveis pelos três agrupamentos caldenses e a uma representante dos colégios D. Leonor e S. Cristóvão, possui pastas temáticas que reproduzem documentos compostos por notícias, discursos, entrevistas e fotografias, num formato acessível para todos os alunos.
Segundo a vereadora da Cultura, Maria da Conceição Pereira, serão posteriormente distribuídas também para as escolas profissionais ETEO e EHTO. As maletas tiveram um custo de 500 euros.
Durante a sua intervenção, a investigadora Joana Tornada afirmou que hoje em dia celebrar o golpe das Caldas “é essencial para a democracia portuguesa e para a comunidade caldense”, referindo também que a História e memória deste acontecimento “anseia por novas abordagens ao tema, novas investigações e olhares, para alargar o seu conhecimento”.
Na sua opinião, “é urgente cimentar consensos e clarificar  equívocos”. Joana Tornada sublinhou também, em relação ao golpe, que é preciso recolher testemunhos dos protagonistas e familiares, fazer estudos de paisagem e desvendar os segredos das ruas das Caldas, ou conhecer os relatos estrangeiros.
A historiadora, que conhece bem os meandros do 16 de Março, considera ainda que a criação de um centro interpretativo é “a peça que faltava na sua História, uma vez que hoje passeamos pela cidade das Caldas e não reconhecemos o seu papel primordial na fundação da democracia portuguesa”.
Joana Tornada contou que quando se reuniu na Suécia com os professores responsáveis do mestrado, deparou-se com uma caneca do Partido Socialista Português em cima da mesa. E quando começou a conversar com um dos docente percebeu que “se tratava de um americano anarquista que em 1974 viera, então, para Portugal fazer férias e ver ao vivo uma revolução na rua”.
A investigadora diz que o 16 de Março, numa perspectiva macro, foi “uma aventura isolada, um golpe falhado, uma precipitação, um apressar dos acontecimentos ou uma marcha para o precipício”. No entanto, à investigação escapam outras escalas de análise mais local e daí a urgência da recolha de quem ouviu, sentiu e comentou os acontecimentos, incluindo os jornalistas estrangeiros que vieram dos países democráticos e que pretendiam “conhecer o motivo de certos boatos e comentários ouvidos na capital afirmando que desde Fevereiro algo mexia em Portugal”.
O presidente da Câmara, Tinta Ferreira, referiu que quer dar um âmbito nacional às comemorações do 16 de Março para que estas deixem de estar confinadas apenas às Caldas. Daí a maleta pedagógica que tem o intuito de “divulgar junto de 8000 alunos do concelho o que afinal aconteceu, constituindo uma semente para que a memória do 16 de Março não se perca”. Com o mesmo objectivo, “pedimos a um escultor consagrado para criar o monumento”, disse.
Presente na cerimónia, o escultor José Santa Bárbara deu a conhecer que a sua obra terá entre sete a oito metros de altura e que será feita em metal com placas negras de cerâmica que pretendem representar o “o negrume das décadas da ditadura”. Da peça fará parte um canhão de onde saem estrelas e que simboliza “uma explosão de alegria”, contou o artista que tem família nas Caldas, e que leccionou na Escola Comercial e Industrial e no Colégio Ramalho Ortigão. José Santa-Bárbara foi também um dos artistas que trabalhou no Estúdio Secla, nos anos 60 e afirmou que é com prazer que está a trabalhar num monumento tão significativo e relacionado com a  democracia portuguesa.

“A maioria desconhecia o que se passava em Portugal”

Avelino Rodrigues, que tinha sido nos anos 60 padre nos Vidais e capelão no quartel das Caldas, era à data do 16 de Março, jornalista do Diário de Lisboa. E foi com essas memórias que fez o enquadramento histórico sobre o que aconteceu antes e depois do golpe das Caldas.
Contou em pormenor como decorreu em 1972 uma viagem até à Guiné a convite dos homens do general Spínola, então considerado o “enfant terrible” do regime. Dizia-se então que “o que ele fazia naquele país africano colocava em causa o que se passava na então metrópole”. Contou também o fascínio que aquele militar exercia nas suas tropas e nos seus convidados e o papel de gatilho que o seu livro “Portugal e o Futuro” teve no desenrolar dos acontecimentos.
“Ele falava consoante a audiência”, contou o orador, sintetizando que o general era de facto “um homem com um projecto, mas sem um plano” que percebeu que “não era possível reformar o Estado por dentro”, tendo-se por isso aliado ao movimento militar para derrotar o regime.
Como jornalista, Avelino Rodrigues teve também a oportunidade de estabelecer contacto com os jornalistas estrangeiros que vieram a Portugal naquela altura, tendo notado que a larga maioria “pouco ou nada sabiam do que se passava no país”.
O orador passou em revista o que foi publicado em vários jornais e revistas italianas, espanholas, alemãs e francesas numa altura em que a ditadura portuguesa estava a terminar. Muitos desses recortes fazem agora parte da maleta pedagógica que vai ser distribuída nas escolas.
O desconhecimento sobre o que se passava em Portugal era de tal ordem que, segundo Avelino Rodrigues, “nem a CIA soube do 25 de Abril”. Citando um relatório de 1974-1975, aqueles serviços “estavam a dormir quando se deu a revolução portuguesa”.
Entre as muitas notícias que saíram contam-se uma da revista espanhola Triunfo (nº 600) de 30 de Março de 1974, dando a conhecer que Caldas da Rainha era “um pueblo serrano, só conhecida pela sua cerâmica pornográfica”.

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Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt

Versões diferentes 41 anos depois

Após a intervenção de Avelino Rodrigues, alguns militares participantes no 16 de Março quiseram intervir para darem a sua visão dos acontecimentos. E mais uma vez ficou patente que não há acordo entre o que aconteceu pois os vários intervenientes mostraram diferentes pontos de vista sobre o desenrolar dos factos.
Gazeta das Caldas pediu à investigadora Joana Tornada a opinião sobre o facto de 41 anos depois não haver ainda consenso sobre o que aconteceu. Para a historiadora, a história vivida de períodos revolucionários, como o do 16 de Março, foi, “experienciada à pressa, intensamente, sem ordem ou clareza”. Por isso, “os sentidos e as direcções são definidos posteriormente na tensão nem sempre pacífica entre a memória individual e colectiva”.
A pluralidade de depoimentos é pois “essencial para clarificar a complexidade e ambiguidade do golpe das Caldas”.
A historiadora do PH afirma que esta foi uma aventura, “mas não estava isolada”, pois identificou que as ramificações mostram hoje que a tentativa de revolução não pode ficar limitada à oposição dos dois movimentos – MFA e Spinolistas.
O 16 de Março “foi uma precipitação porque existia um objectivo, um programa e um movimento”. Os oficiais das Caldas “não estavam sozinhos”. No entanto, “este “cadinho” e incertezas constituem a riqueza da história oral e um contributo essencial para identificar erros cronológicos e a linearidade de uma póstuma sequência. Mais, deste contexto brotou a Revolução de Abril. A memória não pode ser esquecida. Ela é plural e diversa”, rematou.

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1 COMENTÁRIO

  1. a propos du golpe du 16/03/1974, je voulais féliciter Armando Marques Ramos, mais je n’ai pas son mail ou téléphone . C’est bien de faire un monument pour rappeler au peuple le courage de certains pour acquérir la liberté ! Obrigada si vosse pode d’air me contacto de Ramos ( so uma velha amiga francese: téléphone 0613864820 ou mail: quairerenee@free.fr)