Um dia depois de estar totalmente formado, o governo reuniu em Óbidos, num conselho de ministros informal. Foram mais de três horas de reunião, que terminou com o primeiro-ministro, 17 ministros e 41 secretários de Estado, perfilados, no Largo de Santa Maria, para a primeira fotografia conjunta
Vinte anos depois Óbidos voltou a receber um conselho de ministros. Desta vez não foi uma reunião temática, mas um encontro informal, o primeiro com todos os 59 ministros e secretários de Estado que compõem o novo governo, liderado por Luís Montenegro.
Com a reunião marcada para as 9h30, a grande maioria dos ministros e secretários de Estado chegaram pouco antes, em dois autocarros, e à sua espera tinham um grupo de agricultores, com caixas e cestas de maçã e pera Rocha, que ofereceram a quem passava junto à Porta da Vila. “Queremos demonstrar que a nossa atitude é construtiva e é quase uma prenda de boas-vindas”, explicou Nicolau Félix, do Movimento Cívico de Agricultores, acrescentando que estão a preparar um caderno reivindicativo, nacional, que depois farão chegar ao governo. O objetivo é o de “facilitar a vida ao ministro da Agricultura e ao governo com um documento único, que aponte os problemas com que se debatem os agricultores”, explicou à Gazeta das Caldas. O primeiro-ministro, acompanhado pelo ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, recebeu uma peça de fruta e, ouvidas as reivindicações, o governante com a pasta da Agricultura partilhou a vontade de “envolver os agricultores” e combinou a marcação de uma audiência. O primeiro a chegar a Óbidos e também a falar com os agricultores, de quem recebeu uma maçã, foi o ministro da Defesa, Nuno Melo e, pouco depois, também o secretário de Estado da Agricultura, João Moura, se havia comprometido em reunir com os agricultores, enquanto comia uma pera Rocha. “Vamos marcar um momento mais solene para os receber com solenidade”, disse à Gazeta das Caldas.
Com o programa do XXIV Governo Constitucional debaixo do braço, Luís Montenegro seguiu caminho pela Rua Direita, acompanhado pelo presidente da Câmara de Óbidos, ministros e secretários de Estado, até ao salão nobre da Câmara, onde haveriam de reunir, de forma informal. Pelo caminho, e interpelado pelos jornalistas, o primeiro-ministro explicou que a reunião serviria para que todos os elementos do executivo pudessem estar juntos pela primeira vez e poderem tratar do programa de Governo, “que vamos apresentar à Assembleia da República na próxima semana”, explicou. Luís Montenegro deixou ainda a garantia de que “todos os compromissos assumidos durante a campanha eleitoral são para cumprir”.
Depois da reunião, que durou mais de três horas, os 59 elementos do governo voltariam a percorrer as ruas da vila, agora rumo à Praça de Santa Maria, onde posaram para a primeira fotografia de “família”. Luís Montenegro recebeu, depois, presentes das mãos do autarca obidense: ginja, chocolate e livros, ou não se tratasse Óbidos de uma Vila Literária.
Já no regresso à Porta da Vila e sem prestar declarações formais, o primeiro-ministro disse apenas aos jornalistas que o programa está adiantado e que, “no prazo que está estipulado, dará entrada no Parlamento”. Acabaria por deixar Óbidos perto das 14h00, de automóvel, enquanto que o restante elenco governativo regressou de autocarro.
Para ontem, quarta-feira, estava prevista mais uma reunião para a aprovação do programa do governo, que depois será entregue na Assembleia da República e discutido nos dois dias seguintes.
As reivindicações do autarca
Anfitrião da primeira reunião que juntou todos os elementos do novo governo, o presidente da Câmara de Óbidos, Filipe Daniel, aproveitou o momento de abertura do Conselho de Ministros para, além de dar as boas-vindas, reivindicar melhorias ao nível da saúde, num concelho em que 80% da sua população não tem médico de família. O autarca abordou também a questão do novo hospital, uma “infraestrutura fundamental”, também para a atração de jovens profissionais, e que defende que seja também um local de formação. “Expliquei que é necessário ter esta grande unidade e, em tempo oportuno, vamos convidar a ministra [da Saúde] a visitar o terreno porque acreditamos que a melhor localização é entre Óbidos e as Caldas”, disse o autarca, que entende que a opção do anterior ministro, Manuel Pizarro, “era mais política do que técnica”.
Filipe Daniel abordou também a questão da falta de professores, necessidade de reabilitação dos equipamentos escolares e também de respostas que vão para além do ensino regular. “Estamos a ter fluxos migratórios muito grandes e temos de ter outro tipo de respostas”, disse, especificando que Óbidos possui 12% de residentes estrangeiros e que não têm o Português como língua materna. A agricultura, o turismo, segurança e Linha do Oeste (e a sua importância para alcançar as metas de descarbonização) foram outros dos temas abordados pelo autarca, que aproveitou ainda a presença do elenco governamental para alertar para os problemas da administração pública, nomeadamente com a falta de recursos devido ao elevado número de aposentações.
No final do encontro, Filipe Daniel disse sentir que os elementos do governo estão “muito conscientes do tempo que não têm, as pessoas estão a reivindicar muito em pouco tempo, pois o governo tem ainda poucas horas de formação”. ■
“Momento importante para o distrito”
“A escolha de Óbidos foi uma decisão do primeiro-ministro, Luís Montenegro que, estando a terminar a formação do governo, lembrou-se de Óbidos como o local ideal para fazer uma primeira junção de todos os seus membros, para se conhecerem”. A explicação é dada pelo obidense, agora deputado na Assembleia da República, Telmo Faria, a quem o gabinete do primeiro-ministro contactou para saber da viabilidade da sua realização. O também ex-presidente da Câmara de Óbidos, que acolheu um conselho de ministros em 2004 (no governo de Durão Barroso), transmitiu a experiência da altura e deu “confiança” à sua realização, tendo as equipas da autarquia preparado toda a recepção e reunião em apenas um dia.
“A primeira fotografia deste governo foi feita em Óbidos, é muito importante para o distrito de Leiria e eu, como deputado eleito por este distrito, fico muito satisfeito”, concretizou.
Telmo Faria vai exercer as funções de deputado na Assembleia da República. Questionado se foi convidado para integrar o governo, lembra que, devido à atividade empresarial, “desde muito cedo que coloquei a minha indisponibilidade para funções executivas”, no entanto, reconhece que “houve a consideração de quererem perceber se havia essa disponibilidade”.
Referindo-se ao elenco governativo, Telmo Faria diz que são pessoas “altamente motivadas” e “cheias de vontade de fazer coisas”. Já os deputados eleitos pelo distrito vão participar nas diversas comissões parlamentares e estão já a trabalhar em algumas áreas que consideram prioritárias como a da saúde. “Há questões que nos preocupam, nomeadamente algumas decisões mais recentes de retiradas de serviços, como foi o caso da cirurgia do cancro da mama, do Hospital das Caldas”, exemplificou.
Na passada terça-feira decorreram as eleições para a nova direção do Grupo Parlamentar do PSD, que continua a ter o caldense Hugo Oliveira como um dos vice-presidentes. ■