Os deputados municipais na oposição (PS, CDU, MVC e CDS-PP) são contra o corte de árvores na Mata Rainha D. Leonor e não querem o alargamento da antiga Rua dos Loureiros, preferindo que seja feita a estabilização do muro e que aquela via passe a pedonal. Estas posições surgem na sequência de uma visita técnica à Mata realizada pelos deputados no passado dia 13 de Janeiro e na qual não esteve presente nenhum membro do PSD da Assembleia Municipal.
A visita foi pedida pelo CDS-PP à Assembleia Municipal e o motivo principal era o de ver in loco o muro da Mata, que está em risco de cair, e inteirarem-se das soluções previstas. O presidente da União de Freguesias, Vitor Marques, explicou que as alternativas existentes são o alargamento da Rua dos Loureiros e consequente construção de um novo muro (que implica o corte de árvores) ou a correcção do muro actual, arranjo do piso e colocar mais iluminação. Existe ainda uma terceira possibilidade, que passa pela criação de uma estrada paralela, no terreno onde actualmente está um pomar.
Os deputados da oposição, que participaram no encontro, são unânimes quanto à defesa do espaço e à necessidade de estabilização do muro para que este não venha a cair. Também enaltecem o facto da junta de freguesia ter estabelecido um protocolo com o CEERDL para a realização dos trabalhos de arranjo e manutenção.
João Diniz, do CDS-PP, entende que devem ser feitas “rapidamente” obras de estabilização do muro, mas que não deve ser realizado qualquer alargamento da via. “Quando a única justificação para o eventual alargamento se prende com o acesso ao campo de futebol, há que equacionar se não será o campo que está mal localizado e se não foi um erro crasso construí-lo naquele local, induzindo uma desnecessária pressão sobe a Mata e a zona de protecção do aquífero”, disse.
Na sua opinião, a Rua Ernestina Martins Pereira deve ser valorizada e não destruída, não devendo ser realizada qualquer intervenção que retire área à Mata e leve ao abate de árvores. Além disso, defende que, “fundamentalmente, devem ser respeitados os perímetros de protecção do aquífero”.
João Diniz realçou o facto de não ter estado presente na visita nenhum deputado do PSD, mas escusou-se a tirar quaisquer conclusões quanto a este facto.
Por outro lado, o deputado centrista destaca o anúncio de que as intervenções a realizar terão por base um estudo que será encomendado ao Instituto Superior de Agronomia (à semelhança do já realizado no parque). Esta informação deixa-o “mais tranquilo, por ser uma garantia de que serão preservadas as espécies botânicas relevantes e que toda a intervenção será planeada numa base científica e não casuística, como chegámos a temer”, disse. Considera que os trabalhos de limpeza e manutenção de caminhos estão a ser realizados de acordo com as boas práticas recomendadas e louva o envolvimento dos utentes do ensino especial na intervenção que está a ser feita.
Percurso pedonal
Para o deputado socialista José Carlos Abegão, o maior problema foi, na década de 90, terem construído o campo de treinos naquela zona, ao invés de terem feito uma zona desportiva na Quinta dos Texugos. O deputado ficou satisfeito com o que viu, realçando o trabalho da junta de freguesia, com o apoio do CEERDL.
Relativamente ao muro, considera que este não pode ser deitado abaixo, apenas arranjado, e discorda do corte de árvores. “Hoje [13 de Janeiro] a Gazeta das Caldas traz uma informação muito interessante de que esta estrada era a ligação entre Salir de Matos e Óbidos”, disse, destacando a importância histórica do acesso, que deverá ser pedonal.
Também o deputado do MVC, Emanuel Pontes, corrobora da opinião de que a antiga Rua dos Loureiros deveria passar a pedonal. “O acesso ao campo fazia-se pela Rua Ernestina Martins Pereira e a parte de cima ficaria vedada ao transito”, sugeriu o deputado, que entende que aquela zona deveria ser requalificada e voltar a ter a importância que já teve no passado, quando ligava os coutos de Alcobaça a Óbidos.
Emanuel Pontes acrescentou que as árvores que se encontram no terreno privado, do outro lado da rua, são tão importantes como as da Mata, pelo que também não devem ser cortadas.
O deputado do MVC ficou satisfeito com o trabalho que está a ser feito. “Acho que a cidade devia de ser pensada assim, envolvendo as pessoas nas suas actividades”, disse, acrescentando que aquele local ainda poderia ser mais potenciado.
Por exemplo, poderiam ser criadas visitas às minas de águas existentes e que já estão pintadas e potenciar os recursos como a compostagem, a venda de lenha, a apanha de ervas aromáticas. Emanuel Pontes dá como exemplo o que está a ser feito no Luso e deixa a sugestão do aproveitamento das infestantes e árvores que tombaram para, com as essências, fazer velas, perfumes e aromas para as casas.
O deputado Vitor Fernandes (CDU) diz que a estrada junto ao muro parece-lhe uma “coisa estranha que ali foi criada para o campo de jogos, que devia sair dali”. Na sua opinião, existe uma zona desportiva que vai ser requalificada e agora era a altura de mudar para lá estes campos.
Vitor Fernandes discorda que se mexa no muro, assim como do alargamento da estrada para o outro lado, onde também se iria mexer em árvores importantes. “A ideia de arrancar o alcatrão e fazer ali um passeio pedonal é interessante e deve ser ponderada”, considera.
ISA vai fazer estudo sobre as árvores
A visita, que demoraria perto de duas horas, começou pela zona superior da Mata, um espaço que está mais abandonado, onde proliferam espécies invasoras e existem espaços vazios, resultado de intempéries que deitaram várias árvores abaixo. Seguindo até junto do muro que limita a Mata, a engenheira florestal da autarquia, Paula Almeida, explicou aos deputados municipais que na sua bordadura (entre o muro e o caminho pedonal existente) encontram-se plátanos, cedros, loureiros, acácias e dois sobreiros. No total são 29 árvores, comuns, “que só têm relevância no seu todo”, explicou a técnica.
A junta de freguesia (que ficou com a gestão do Parque e da Mata por delegação de competências da autarquia) irá agora dedicar-se com mais afinco àquele espaço, depois de no primeiro ano ter apenas garantido a sua limpeza e manutenção.
As dificuldades de meios técnicos e humanos levaram esta autarquia de base a estabelecer um protocolo com o Centro de Educação Especial Rainha D. Leonor (CEERDL), no valor de 1800 euros, em que serão os seus utentes a intervir naquele espaço, acompanhados por técnicos da autarquia.
Foi pedido ao Instituto Superior de Agronomia (ISA) para fazer um estudo e avaliação fitossanitária e de risco das árvores da Mata, tal como fez do Parque D. Carlos I, e que será tido em conta nas decisões que venham a ser tomadas para aquele espaço. Elementos da Câmara caldense irão também, em inícios de Fevereiro, fazer uma visita à Mata do Buçaco com o objectivo de estabelecer um protocolo que permita a permuta de espécies.
O CEERDL encontra-se já a trabalhar em força no Terreno do Mendes, um local onde são depositadas as folhas velhas e os troncos cortados, que depois são triturados e deixados para compostagem. O substrato que advém dessa compostagem poderá depois ser comercializado.
A junta de freguesia está a avaliar essa possibilidade, tal como a da venda de lenha ensacada.
Circuito de manutenção
No ano passado já foi feita uma intervenção no Jardim da Rainha, que estava ao abandono. Foram repostas várias plantas aromáticas e medicinais, tendo por base um projecto antigo do que havia no local. A junta tem tido alguma dificuldade na manutenção do espaço, que é constantemente vandalizado, tanto pelo arranque das plantas, como pelos cães que ali são levados a passear.
Já começaram também a arranjar os muros junto ao parque de merendas e será feita a requalificação dos chafarizes aí existentes, com a colaboração da Fábrica de Faianças Bordallo Pinheiro, que possui os azulejos que são necessários recolocar.
As ruas principais já possuem um piso novo e no próximo mês serão instalados aparelhos no circuito de manutenção. Os equipamentos foram desenhados na Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro e construídos na serralharia do CEERDL. “Falta-nos apenas construir as peças a explicar os movimentos, e os equipamentos serão colocados num conceito diferente, também proposto pela escola Bordalo Pinheiro”, explicou Vitor Marques, acrescentando que estes serão dispostos pela avenida principal, onde há mais luz e visibilidade.
Foram também retiradas as papeleiras que existiam nessa avenida e os bancos irão para outros locais. A Junta prevê colocar uma faixa de saibro, paralelo ao alcatrão, fazendo uma pista para as pessoas correrem. Vitor Marques avança ainda que gostariam de ficar com as pedras da calçada da Rua 31 de Janeiro (que irá para obras) para colocar na rua principal da Mata e retirar o alcatrão ali existente. “Mas antes temos que pedir aos técnicos para avaliar se aquele tipo de pedra pode ali ser colocada”, esclarece.
O autarca explica que o objectivo é o de criar condições para que estes espaços possam ser mais visitados.