Volvidos dois anos das eleições autárquicas, os vários rostos da oposição fazem um balanço do trabalho realizado pelo executivo liderado por Vítor Marques. Elencam também as prioridades que queriam ver concretizadas durante este mandato no concelho das Caldas
De posições mais extremas, que vão desde “apreensão”, ou “desapontamento”, a outras, de falta de mudança nas políticas municipais, a oposição é unânime numa coisa: já queria ver mais trabalho feito por parte deste executivo .
Num balanço dos dois primeiros anos de mandato, o PSD diz ter dificuldades em perceber o “caminho” do executivo VM para o concelho e critica a redução de investimento. As críticas do Chega prendem-se com o que consideram a falta de uma “boa gestão corrente” do município e de uma necessária dinamização económica e resposta social.
Para o BE as Caldas continua sem conseguir dar “um salto” na recuperação da sua centralidade no Oeste e as prioridades devem ir além das questões do Hospital.
A “ necessidade imediata de evidenciar ações concretas, de mostrar obra, numa corrida contra o tempo” é notada pelo PS, que critica a falta de hierarquização das prioridades estratégicas estruturantes para o desenvolvimento social e económico do município.
Também o PCP critica o que diz serem “soluções imediatistas, bastante sonoras, mas pouco eficazes, e que o tempo demonstra serem, não só erradas, como prejudiciais para a população”.
Já o vereador Luís Patacho tem uma posição menos crítica, reconhecendo que o mandato foi, num primeiro tempo, “de natural aprendizagem e de “arrumo da casa””. A criação, ou atualização, de regulamentos municipais, e de estudos, também foram destacados pelo vereador.
Gazeta das Caldas pediu também o comentário dos responsáveis pelas concelhias caldenses do CDS-PP, e Iniciativa Liberal, mas não obteve resposta. ■
Pergunta 1
Que balanço faz dos dois primeiros anos de mandato do atual executivo ?
Pergunta 2
Que prioridades teria tido e o que faria de maneira diferente?
Daniel Rebelo
Presidente concelhia PSD
1. Se há um ano diria que estava expectante hoje sou obrigado a dizer que estou apreensivo. Continuo com dificuldade em perceber o caminho que o VM e o líder da candidatura VM defendem para o nosso concelho.
A escolha do executivo é a de poupar no investimento e gastar em despesa corrente como demonstra a mais recente prestação de contas. Reduções de investimento superiores a 50% são preocupantes, demonstram desnorte, mas em particular dificuldade em escolher um caminho de médio ou longo prazo. Há intenção em continuar projetos que vinham de executivos anteriores, que poderia demonstrar maturidade na ação política, não fosse sentir, em simultâneo, uma necessidade em renegar a herança, política, nem que seja através de pequenas mudanças, muitas vezes meramente cosméticas.
Troca-se a prioridade de construir o estacionamento na Av. 1º de Maio. Não concordo, mas é o direito da maioria. Choca-me o que parece ser urgência na alienação de imóveis públicos na Avenida, que considero possuírem potencial estratégico.
2. Não colocaríamos taxas a quem não tem acesso ao serviço, como é o caso da injustiça criada pela aplicação universal da taxa de saneamento. O PSD também não aceitaria um aumento tão acentuado do preço da água. Esforçar-nos-íamos por impedir o crescimento galopante da despesa com pessoal assim como da despesa com aquisição de bens e serviços. Não aceitaríamos que uma câmara permitisse reduções de investimento superior a 50%. É urgente continuar o caminho da regeneração do tecido urbano, este investimento é crítico também no que diz respeito ao reforço da capacidade de estacionamento. A limpeza urbana merece também um reforço de atenção, assim como o reforço do trabalho em colaboração com as juntas de freguesia e as delegações de competência nestas. ■
Luís Patacho
Vereador Câmara das Caldas
1. O mandato foi, num primeiro tempo, de natural aprendizagem e de “arrumo da casa”, com alterações nos Serviços, inclusivamente de instalações, e uma preparação da reorganização orgânica da Câmara. Coincidiu, ainda, com a fase inicial da descentralização de competências para os Municípios, o que veio complexificar os governos Municipais, com todas as “dores de crescimento” que acompanham estas fases de transição.
Houve, também, a preocupação de atualizar e de criar vários Regulamentos Municipais bastante relevantes para o funcionamento da Câmara e a interação com os seus munícipes, com benefício da transparência nessa relação.
Foram, ainda, lançados alguns estudos e planos sobre dimensões importantes para a cidade e o concelho, como o “Master Plan” sobre o Termalismo, que se encontra na fase de conclusão e que, assim espero, servirá de alavanca para a modernização e ampliação das nossas Termas, com a construção de um novo Balneário Termal.
2. Teria priorizado mais o apoio à economia local, que esperava, nesta altura do mandato, ter maior realização de medidas concretas; desejava que o “dossier” da requalificação e ampliação do Museu da Cerâmica já tivesse feito mais caminho, e gostava que a modernização e ampliação das nossas Termas já estivesse numa fase mais adiantada, mas empenhar-me-ei para que, até final do mandato, seja irreversível a sua célere realização, que considero estratégica para as Caldas.
Entramos, agora, na segunda metade do mandato, com diversas obras já em fase final de concurso e mesmo de adjudicação, que oferecerão outra visibilidade ao trabalho do Executivo VM. O tempo “de graça” terminou, iniciando-se agora a contagem para um segundo tempo, de conclusão do trabalho iniciado, só após o qual será possível fazer um balanço efetivo. ■
Edmundo Carvalho
Presidente concelhia Chega
1. A maioria dos caldenses está desapontada com este executivo. De facto, nada mudou.
Temos uma cidade descuidada, suja, triste e escura. Não há uma boa gestão corrente do município na manutenção dos espaços e equipamentos urbanos, nos transportes, segurança, etc.
Em termos económicos e sociais, não há dinamização do comércio local, desenvolvimento da zona industrial, captação de novas empresas, reabilitação urbana para criação de ofertas de habitação ou a criação em rede de um centro de apoio aos mais desfavorecidos.
Com a nova lei de delegação de competências, também na saúde e na educação os municípios têm um papel mais determinante. Há tanto por fazer para de facto mudar. E os caldenses merecem-no.
2. A grande prioridade actual é a defesa do Hospital nas Caldas. Nesse campo estamos todos de acordo. Espero que a população e todas as forças políticas estejam solidários e se envolvam.
Outras grandes prioridades:
– Voltar a pôr Caldas da Rainha no mapa termal do País. Já ninguém fala na recuperação dos Pavilhões do Parque e na construção de um Hotel. Qual o ponto da situação?
– O Hospital Termal continua a não ter resposta capaz e, se calhar, temos de equacionar um novo complexo termal, moderno, atrativo e que satisfaça as necessidades dos aquistas.
– Temos um PDM de 2002, cuja revisão começou em 2007 e ainda não está concluída. É urgente fazê-lo. Muitas iniciativas de investimento são travadas por um PDM desajustado à realidade e necessidade actuais das Caldas.
O PDM tem de ser uma ferramenta e não um obstáculo.■
Carlos Ubaldo
Concelhia Bloco de Esquerda
1. Claramente que o balanço a fazer é que este executivo não tem mais margem para “arrumar a casa” ou falar de “governança”. Mesmo reconhecendo que alguns assuntos são complexos, a verdade é que tarda em ser visível qualquer mudança. Se continua a ser reconhecida a postura dialogante a acessível do executivo, não houve grandes alterações em algumas áreas importantes. É possível que até final do mandato haja outra visibilidade, mas o balanço a meio, é na nossa perspetiva, de que continuam as Caldas a não conseguir dar um salto que permita dizer que está a recuperar a sua centralidade no Oeste, pelo menos.
2. As prioridades, não podem resumir-se à questão do Hospital, que parece ofuscar todas as restantes necessidades. A exigência pelos cuidados de saúde é fundamental, mas toda a cidade e concelho deveriam estar a ser pensados de uma forma mais abrangente. Veja-se o triste acontecimento do incêndio nos Pavilhões do Parque! Apenas o reflexo do tempo que se tem arrastado a ação em torno do termalismo, por exemplo.
Onde está o plano integrado para a mobilidade? A urgência na resposta às questões da habitação? Poderia este executivo ser absolutamente proativo e liderar a iniciativa de encontrar respostas. Poderíamos continuar a perguntar pelo ponto de situação do Skate Park? Teatro da Rainha? Centro da Juventude? Jardins e parques? Bicicletas Rainha? (mais de 60.000 € “encostados”, vindos do anterior executivo!)… Ao fim destes dois anos a pergunta que fica cada vez mais no ar é: se relativamente aos assuntos mais simples, a coisa tarda, o que acontecerá com os de maior dificuldade?
Mas, importa referir que o executivo não é a Câmara, e aqui, o trabalho da oposição, proponente e acutilante, não está a fazer o que os Caldenses mereciam. ■
Pedro Seixas
presidente da concelhia do PS
1. Decorridos dois anos de mandato, a ação política do executivo está muito, muito aquém do esperado. A mudança protagonizada, após o resultado eleitoral conferido pelos caldenses, foi-se desvanecendo, por este não conseguir evidenciar no imediato com ações concretas as mudanças que muitos caldenses ansiavam. Para o PS/Caldas, “o arrumar da casa” tem demorado demasiado tempo, defraudando por completo as legítimas expectativas dos caldenses com a apregoada estratégia de mudança para o concelho. Face às exigências políticas da actual situação social e económica, não tem conseguido delinear e apresentar uma estratégia consistente de desenvolvimento para o futuro.
O executivo demonstra a necessidade imediata de evidenciar ações concretas, de mostrar obra, numa corrida contra o tempo, sem hierarquizar as prioridades estratégicas estruturantes para o desenvolvimento social e económico do município.
2. É premente a necessidade de encomendar um estudo sobre os cuidados hospitalares no concelho, em articulação estratégica com o estudo do projeto para o termalismo. Também é essencial proceder à sua divulgação pública. No plano estratégico para a habitação é necessário fazer mais e mais rápido. É fundamental desenvolver um modelo de captação de investimento que atraia novos agentes económicos, famílias e empresas, para as Caldas e iniciar de imediato as obras de requalificação da frente marítima e lagunar, devolvendo à Foz do Arelho e ao Nadadouro a centralidade necessária na captação de turismo.
Desencadear as ações políticas de reforço da centralidade territorial, promovendo projectos intermunicipais e ações com os municípios vizinhos, em áreas estratégicas como a mobilidade inter-urbana, o ambiente, o turismo e a promoção da cultura, a saúde e o bem-estar, o lazer e o desporto. ■
Luís Caixeiro
concelhia do PCP
1. Há exactamente um ano a Gazeta pediu-nos que fizéssemos este mesmo balanço. Podemos dizer que, infelizmente, o que afirmámos então continua válido, com a agravante de ter passado um ano em que os problemas se aprofundaram. Como então demonstrámos, das promessas à obra concreta vai uma grande distância.
2. A actual maioria na Câmara das Caldas tem optado por soluções imediatistas, bastante sonoras, mas pouco eficazes, e que o tempo demonstra serem, não só erradas, como prejudiciais para a população. Vejamos o exemplo da saúde: a maioria na Câmara sabe que esta é uma questão que só o Governo pode resolver, mas percebendo que é um problema sensível para a população procurou fazer uns fogachos que saem caro. Avançou com mais de 700 mil euros para a renovação do serviço de obstetrícia no hospital das Caldas, deixando de investir esse dinheiro em competências suas como a modernização da zona industrial ou do mercado da fruta. O Governo PS, aproveitando a oportunidade recolheu o dinheiro e fechou as urgências de obstetrícia com o pretexto das obras, veremos quando e se reabrem.
Passados uns poucos meses o Governo anunciou a construção do novo Hospital do Oeste para o Bombarral e a Câmara Municipal, no afã do tudo ou nada, passa a dizer que ou o novo Hospital é nas Caldas ou todos os serviços de saúde desaparecerão da cidade, incluindo os 700 mil euros que ainda agora investiu. Ora isto não faz qualquer sentido.
Entre o muito que faríamos diferente está o cumprimento das competências da Câmara com os seus próprios meios e a exigência do estado central para cumprir as suas e uma aposta em políticas consequentes na melhoria da qualidade de vida dos caldenses. ■