Os responsáveis locais do PS, CDU e BE regozijam-se com as obras de 15 de milhões que vão ser realizadas nas Caldas da Rainha, mas levantam dúvidas sobre a sua eficácia. Criticam que as zonas rurais tenham sido, mais uma vez, esquecidas e apontam oportunidades perdidas para outros projectos que julgam mais prioritários.
PS – “zonas rurais também necessitam urgentes intervenções”
Os socialistas caldenses dizem que “os 15 milhões para reabilitar a cidade merece-nos, à partida, todos os encómios” e destaca como ponto positivo a Empreitada Única e a Bolsa de Imóveis e de Criativos, “medida que vai de encontro a proposta similar do PS apresentada no programa eleitoral das últimas autárquicas”.
José Ribeiro, líder local deste partido, diz que os socialistas também se congratulam com a integração das redes de transportes públicos urbanos das Caldas e de Óbidos e com a criação de ciclovias, propostas estas que também faziam parte do seu programa eleitoral.
Por outro lado, estas obras prevêem “reabilitar e mesmo dignificar alguns pontos da cidade que há muito mereciam atenção, como sejam a rede de esgotos ou várias zonas e bairros da cidade há muito degradados ou com gritantes carências de equipamentos básicos, o que nos parece muito bem”.
Os incentivos à reabilitação urbana são também considerados pelo líder dos socialistas caldenses como “interessantes”, mas levanta dúvidas sobre a capacidade da Câmara em os implementar. “Infelizmente, estamos habituados à falta de planeamento estratégico da maioria PSD, como são exemplos paradigmáticos as alterações semanais ao Orçamento e Grandes Opções do Plano da Câmara, ou os licenciamentos de supermercados”, diz José Ribeiro, que chama ainda a atenção para as freguesias rurais, as quais “merecem e necessitam de urgentes intervenções”.
O PS espera que não se repitam “obras pouco consequentes” como o edifício do Centro de Produtos Regionais das Caldas da Rainha junto à Praça do Peixe, inaugurado em 2015 e que pouco tem servido a cidade. Por isso, embora considere interessante o projecto para o edifício junto ao posto de turismo, aguarda que “a utilidade do mesmo passe para além de uma inauguração no 15 de Maio”.
CDU – “tanta oportunidade perdida”
Vítor Fernandes, do PCP, diz que 15 milhões de euros para investir na cidade tem, obviamente, de ser considerado positivo e não resiste à ironia ao considerar que as perspectivas de concretização dos projectos em tempo útil se revelam “optimistas e favoráveis” porque a conclusão dos trabalhos coincide com as próximas eleições autárquicas.
Mas os comunistas elencam um conjunto de pontos negativos, a começar pelo facto de “as freguesias rurais voltarem a ser ignoradas pelo completo”. Da mesma forma, também a conclusão da primeira circular e o “feíssimo aspecto das entradas da cidade” são omissos.
Destaque igualmente para a quantidade “de casas em ruínas e entaipadas e edifícios abandonados” que deveriam ser reabilitados “em função de um inventário actualizado e não, como acontece, a partir de uma listagem incompleta”.
O coordenador local dos comunistas diz ainda que é “imprescindível” o aumento da capacidade de tratamento de efluentes pela ETAR e aponta o dedo ao “estado lastimável” de uma boa parte das ruas da cidade, apesar de a Câmara ter contraído um empréstimo de 1,5 milhões de euros para repavimentação.
Por outro lado, diz Vítor Fernandes, “projecta-se uma nova ponte pedonal sobre a linha de caminho-de-ferro, mas a hipótese de um interface de transportes ferroviários-rodoviários volta a nem sequer ser considerada”. E alerta que a diminuição da capacidade de estacionamento automóvel deve ter como contrapartida “alternativas viáveis para os moradores das zonas intervencionadas”.
A terminar, o representante da CDU diz que “promete-se um Centro Interpretativo do Centro Histórico, mas o Plano de Pormenor do Centro Histórico mantem-se fantasmático, bem como a revisão do PDM, há anos em revisão”.
BE – “dentro de alguns anos será necessário refazer tudo novamente”
Carla Jorge, do BE, salienta como aspectos a valorizar “a melhoria da mobilidade pedonal, o ordenamento do trafego automóvel e estacionamento na via pública, assim como a criação de ciclovias promovendo o uso de bicicletas”. A responsável bloquista identifica ainda como “relevante” a requalificação da rede de abastecimento de água e de saneamento básico e a reabilitação de algum património municipal, como o Centro da Juventude ou o Pátio dos Burros, que “podem traduzir-se numa melhoria da qualidade dos serviços prestados aos munícipes”.
Mas lamenta que nas Caldas da Rainha se continue “a trabalhar com pouco planeamento de médio e longo prazo”. Disso é prova “o atraso na elaboração do Plano de Mobilidade e do Plano de Pormenor do Centro Histórico da cidade”.
O BE diz que algumas destas obras chegam com vários anos de atraso e a consequência será a sua concentração nos próximos tempos, levando a “uma situação calamitosa na circulação e à redução do bem-estar na cidade, que se transformará num estaleiro a céu aberto”.
Carla Jorge diz que devido ao mau planeamento, “as obras previstas não preparam a cidade para prestar serviços, nomeadamente de abastecimento de energia e telecomunicações, por via subterrânea” no que teria sido uma medida de bom ordenamento que já é habitual em muitas cidades europeias. “Assim, dentro de alguns anos, será necessário refazer tudo novamente”, conclui.
Gazeta das Caldas também contactou as estruturas locais do PSD e do CDS/PP, mas não obteve resposta em tempo útil.
Na semana passada foi divulgado um plano de investimentos de 15 milhões de euros para requalificação urbana, que contempla a construção de uma nova ponte pedonal sobre a estação ferroviária, passeios mais largos, uma ciclovia entre o Abraço Verde e a ESAD, modernização das redes de águas e esgotos, bem como a reabilitação de edifícios degradados.
Segundo a Câmara das Caldas, estas obras irão decorrer nos próximos dois anos.