A ideia do PCP e do PS era simples: viajar na Linha do Oeste para alertar para o estado a que chegou este troço ferroviário. E conseguiram-no, uma vez que tanto o comboio que o PCP ia apanhar para Leiria na quarta-feira, como o que o PS ia apanhar para Lisboa na quinta-feira, foram suprimidos, num exemplo do que é o funcionamento diário desta linha.
Quarta-feira, 18 de Julho. Ao fim da tarde, na estação ferroviária das Caldas, estão mais de uma dezena de militantes do PCP e representantes da Comissão Para a Defesa da Linha do Oeste, prontos a embarcar no comboio das 19h30 das Caldas para Leiria. Mas recebem a informação de que o comboio foi suprimido.
Quando o eurodeputado do PCP, João Ferreira chega à estação, os presentes já sabem que não há comboio.
Rui Raposo explica ao deputado que os horários são sistematicamente desrespeitados e os comboios suprimidos porque avariam e não são substituídos. A CP apresentou novos horários para entrarem em vigor em Agosto, mas, segundo a comissão, estes só virão criar mais problemas às pessoas. Um exemplo: os seis comboios directos diários entre Caldas e Coimbra desaparecem e são substituídos por uma ligação que implica um transbordo.
Por outro lado, a CP prevê atrasar as horas de partida de manhã e antecipar as da tarde, o que faz com que, “se se quiser ir a Coimbra e voltar no mesmo no dia, não se consegue, a menos que o que for fazer seja muito perto da estação e rápido”, diz Rui Raposo.
A primeira ligação de Leiria chega por volta das 11h30, em vez de chegar antes das 9h00. “Quem utiliza para vir trabalhar ou estudar” deixa de o poder fazer e tem de encontrar alternativa.
O líder da Comissão Para a Defesa da Linha do Oeste recorda que “o operador rodoviário privado já tentou uma vez desviar os utentes e não conseguiu porque não era competitivo, mas com estes horários vai conquistar passageiros”.
Em relação às supressões, Rui Raposo fez notar que a CP contrata autocarros para fazer o percurso, só que as estradas não fazem uma linha recta ao lado da linha ferroviária, o que aumenta exponencialmente o tempo do percurso para passar em todas as paragens, levando a atrasos constantes. Acresce que nem todos os motoristas conhecem o caminho, além desta solução estar sempre dependente do trânsito.
“Quanto é que a CP já gastou no aluguer de autocarros desde Janeiro de 2017 para satisfazer mal os utentes?” questionou Rui Raposo, acrescentando: “isto para além dos táxis!”.
O eurodeputado João Ferreira falou com os trabalhadores e com os utentes da linha que estavam na estação e disse aos jornalistas que o PCP irá continuar a questionar a nível local, nacional e internacional sobre meios disponíveis para estas necessidades. Sobre as locomotivas 1400 que estão paradas e poderiam ser utilizadas na linha do Oeste rebocando carruagens, disse que “é do mais elementar bom senso reconhecer que não é uma circunstância ideal, mas pior é não haver comboio, se estão disponíveis que as ponham a circular”.
O governo é PS, mas nem por isso há comboios para os socialistas
No dia seguinte, quinta-feira, 19 de Julho, era a vez do PS também viajar na linha do Oeste, mas quando Gazeta das Caldas chegou à estação já a comitiva encabeçada pela deputada Margarida Marques havia saído para Lisboa. De carro…! Também este comboio fora suprimido.
Havia expectativa junto de trabalhadores ferroviários da Linha do Oeste acerca deste comboio. Alguns acreditavam que a política se iria manter e que este comboio, neste dia, ao contrário do que acontece no dia-a-dia, sairia a horas da estação. Mas tal não se verificou. A CP foi democrática: suprimiu o comboio os comunistas e o dos socialistas.
A comitiva, composta por 16 pessoas à saída das Caldas e que foi engrossada com entradas de autarcas e deputados no Bombarral e Sobral de Monte Agraço, foi na mesma para Lisboa entregar um documento ao Governo onde recordava que “o PS tem um compromisso com os eleitores: modernizar a Linha do Oeste e tudo fazer para que esta linha cumpra a sua função de ligação eficaz à cidade e de ligação às vias do Norte do país”.
No documento lia-se que “esta linha, depois de anos de paralisia e de ineficiência tem de tornar-se um meio de transporte rápido, eficaz e responder às necessidades dos cidadãos”.
Os deputados recordam que o governo prometeu lançar este ano o concurso para a modernização entre Meleças e Caldas e o concurso para o projecto de modernização entre Meleças e o Louriçal. Mas entendem que “é necessário mais!”
Esse “mais”, esclarecem, é uma nova ligação a Sul, a modernização dos sistemas de sinalização e telecomunicações e a renovação do material circulante, uma vez que a não aquisição de novos comboios “inviabiliza a modernização da linha”.
O último ponto é “a elaboração de um estudo sobre a ligação à Linha do Norte, por forma a garantir a sua inclusão no próximo quadro de financiamento comunitário”.
Marinha Grande reivindica revitalização
Cidália Ferreira, presidente da Câmara da Marinha Grande (eleita pelo PS), reivindicou a “revitalização urgente” da Linha do Oeste, salientando “o valor acrescentado que representa para a economia local e regional”.
A autarca insurgiu-se contra os novos horários e manifestou a sua preocupação, solidarizando-se com iniciativas que venham a acontecer neste sentido e também na ligação à Linha do Norte.
Além disso, a Câmara da Marinha Grande disponibilizou um autocarro gratuito para o transporte dos interessados em participar na manifestação organizada pela Comissão para a Defesa da Linha do Oeste para 26 de Julho, em frente ao Ministério do Planeamento e das Infraestruturas.