O estudo sobre a linha do Oeste, da autoria do caldense Nelson Oliveira, foi apresentado oficialmente na passada terça-feira, em Leiria, à plataforma de defesa daquela infra-estrutura, que é essencialmente composta por autarcas e deputados de todos os partidos.
Na sua apresentação, o autor do estudo pôs em evidência os erros de gestão da CP na exploração da linha do Oeste – que explicam a sua baixa procura – e fez propostas que permitem justificar a manutenção do serviço de passageiros sem que para tal sejam necessários grandes investimentos.
Todos os intervenientes elogiaram largamente o documento apresentado, que classificaram de “tecnicamente bem feito”, “realista” e realizado “com os pés bem assentes na terra”.
“Aqui não há partidos, a causa é de todos”
Fernando Costa, que lidera esta plataforma política de defesa da linha do Oeste, contou que o secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, tem “algumas expectativas positivas” em relação ao resultado deste estudo e sublinhou várias vezes a unanimidade partidária que existe em torno desta questão. “Aqui não há partidos, a causa é de todos”, afirmou.
O empresário Henrique Neto mostrou-se “triste” com “as questões absurdas reveladas por este estudo” acerca da maneira como a CP gere a linha do Oeste. “Passa-se a vida a dizer que se deve olhar para o mercado e afinal fazem o trabalho à revelia do mercado”, disse, a propósito das relações de mobilidade dos concelhos de Alcobaça, Marinha Grande e Leiria serem de 80% para Coimbra e 20% para a Figueira da Foz, insistindo a CP em fazer comboios para esta última e não para a primeira.
A defesa das ligações directas a Coimbra agradou naturalmente ao presidente da Câmara da cidade do Mondego, João Barbosa de Melo, que convidou Nelson Oliveira para uma apresentação do seu estudo.
O deputado do PSD, Paulo Batista, elogiou também o trabalho do caldense e disse que tem notado por parte do governo uma “atitude positiva” em relação à linha do Oeste.
Usaram ainda da palavra os presidentes da câmara da Nazaré, de Peniche, Pombal e Figueira da Foz, presidentes de juntas de freguesia da zona de Leiria, dirigentes regionais do PCP e o professor universitário e especialista em transportes, Eduardo Zúquete. Este último elogiou a “dimensão de contenção” que é notória no estudo apresentado.
Alguns dos intervenientes abordaram o futuro da linha do Oeste e sugeriram que se incluísse no documento as ligações ao aeroporto de Monte Real e a necessidade de modernização da via férrea, mas Nelson Oliveira disse que tal poderia retirar credibilidade ao seu trabalho, uma vez que a sua missão era a de apresentar propostas que tenham em conta a situação actual do país e que reduzam os custos actuais de exploração.
Em sintonia, Fernando Costa defendeu que este deve ser apenas um estudo técnico, exclusivamente ferroviário, destinado a evitar o encerramento da linha e que a componente política desta questão não competia ao seu autor, mas sim aos restantes participantes da plataforma de defesa que, nas instâncias próprias deveriam esgrimir os seus argumentos políticos.
DOCUMENTOS ENTREGUES DEPOIS DO ESTUDO CONCLUÍDO
Já depois do estudo ter sido entregue à Câmara das Caldas da Rainha, que o adjudicou por 3000 euros a Nelson Oliveira, a CP entregou finalmente alguns dos elementos que tenham sido pedidos. Alguns autarcas quiseram saber por que motivo a CP e a Refer tinham recusado a informação, ao que o autor do documento respondeu que talvez por “não a terem, não saberem onde ela está, ou por não a quererem fornecer”.
Fernando Costa disse que chegou a mandar um recado ao primeiro-ministro, Passos Coelhos, que, segundo crê, terá surtido efeito porque alguns dos elementos pedidos foram entregues poucos dias depois.
Nelson Oliveira disse que a informação que recebeu à posteriori não só não altera os resultados das suas conclusões, como as reforça. Um dos elementos a que agora teve acesso foi o estudo “Impulse 2008”, que a CP contratou a uma consultora suíça e que nunca chegou a ser implementado pela empresa.
Nesse estudo, que se inspira nas boas práticas de horários em rede existentes na Suíça e na Holanda, preconiza-se para a linha do Oeste rajadas de oito comboios de marcha rápida de duas em duas horas entre Lisboa e Figueira da Foz e entre Lisboa e Coimbra.
Outra idéia que foi vinculada pelos presentes refere-se ao contra-senso que seria ter a linha do Oeste a norte das Caldas aberta para o serviço de mercadorias e não se aproveitar para haver comboios de passageiros. Nelson Oliveira explicou que, para a Refer, a existência do serviço de passageiros tinha custos marginais, uma vez que estas composições são mais leves e não exigem uma manutenção da infra-estrutura tão pesada quanta a necessária para os comboios de mercadorias.
O especialista disse ainda que de todas as vias férreas que o PET (Plano Estratégico de Transportes) pretende encerrar, a linha do Oeste é que tem a melhor infra-estrutura.
Mais um estudo a provar a rentabilidade da linha do oeste a norte de Alcobaça só para Coimbra.
1 – A Linha do Oeste começou a morrer em 1991 quando foi aberto o primeiro lanço da A8. Com a opção generalizada pelas auto-estradas e a condenação do transporte ferroviário fora do eixo Lisboa-Porto-Beira, a Linha do Oeste foi começando a passar para segundo plano.
2 – A não electrificação da Linha do Oeste e a impossibilidade de fazer viagens em tempo concorrencial às auto-estradas (Caldas da Rainha, Figueira da Foz e Coimbra) e a oferta dos “expressos” decretaram a irrelevância da Linha do Oeste.
3 – Com o passar dos anos, e apenas pela inexistência de transporte rodoviário, a Linha do Oeste tornou-se basicamente útil para os viagens curtas entre as povoações mais pequenas e as cidades onde os comboios ainda tinham condições para parar.
4 – Em época de crise e com os constrangimentos orçamentais existentes – e o brutal endividamento, que temos todos de pagar, das empresas de transportes -, é uma rematada estupidez insistir na manutenção da Linha do Oeste. A realidade – e sabem-no mesmo os mais contestatários, na sua vida privada, sem que estranhamente o apliquem na vida pública – não permite luxos e manter a Linha do Oeste (em função da sua reduzida utilidade) é um luxo.
5 – A contestação política ao encerramento da Linha do Oeste é um verdadeiro prato de Petri onde se misturam, numa confusão pouco saudável, a demagogia, a ingenuidade, a ilusória pesca ao voto a pensar nas eleições autárquicas de 2013, a asneira estratégica, a perda de tempo e a tentativa de distrair as populações do que realmente interessa.
6 – Esta luta também mistura dois factores psicológicos de peso: na extrema-esquerda (onde o PCP se encaixou paulatinamente) a obsessão de contestar tudo o que provém do “Governo de direita” e nos autarcas (tontos, tontos, tontos…) o problema que é a necessidade de uma “compensação” pela “perda” da Ota (como, nas crianças de tenra idade, a xuxa compensa a falta do peito materno…).
7 – A luta contra o encerramento da Linha do Oeste reflecte a patética visão urbana da elite citadina que ignora e abomina as freguesias rurais. Como têm a estação nas Caldas, a Linha do Oeste é importante para eles.
8 – Aquilo de que a população do concelho de Caldas da Rainha necessita não é da Linha do Oeste. É, sim, de transportes públicos efectivamente úteis e de periodicidade regular. É essa a luta, em termos de política de transportes, que interessa a todo o concelho e que a elite citadina despreza porque já está suficientemente bem servida.