O PS e o PCP festejaram o 45º aniversário do 25 de Abril juntando militantes e simpatizantes nas Caldas da Rainha. Em ano de eleições, os partidos apelaram à mobilização dos seus camaradas para conseguirem fortalecer os seus resultados eleitorais e alertaram para os avanços da extrema-direita e dos populismos a ela associados.
A conquista da democracia e a preservação dos valores de Abril estiveram também em destaque nos eventos organizados pelos dois partidos e que decorreram, curiosamente, no mesmo restaurante (Paraíso do Coto), mas em dias diferentes.
“Sempre orientado pelos valores de Abril”
estejar os 45 anos da revolução dos cravos foi o mote para o almoço que juntou cerca de 120 militantes e simpatizantes do PCP das Caldas e de Óbidos no dia 25 de Abril. Em ambiente de festa, colorido com muitos cravos vermelhos, os comunistas acompanharam algumas cantigas de intervenção interpretadas pelos cantores Nelson e Joaquim Rodrigues. O momento alto deu-se quando estes começaram a cantar Grândola Vila Morena e os convivas se levantaram para acompanharam os músicos, uns abraçados ao camarada do lado, outros levantando o cravo, símbolo da liberdade.
Minutos depois, João Delgado, um dos candidatos ao Parlamento Europeu pela CDU, valorizou o papel do Partido Comunista tanto no tempo da ditadura como já em democracia, “sempre orientado pelos valores de Abril”. Esses valores materializam-se, de acordo com o candidato (que natural da Nazaré), na intervenção do partido desde o plano local até ao Parlamento Europeu, na luta pela melhoria das condições de vida da população e tentando que Portugal “não seja diminuído face às potências mundiais”.
João Delgado apelou a uma grande mobilização dos camaradas e à necessidade de um forte contacto directo e esclarecimento da população sobre a “campanha de difamação” de que o partido tem sido alvo, sobretudo por parte da TVI. O PCP editou, inclusivamente, um pequeno livro onde “expõe, desmonta e demonstra essas calúnias”, explicou.
Os comunistas estão também apostados em reforçar a sua presença no Parlamento Europeu, contra o avanço da extrema-direita (e das suas ideias racistas, xenófobas e homofóbicas) que se está a verificar em vários países da Europa. João Delgado salientou que, entre as razões para o voto na CDU, está ainda o facto dos três elementos eleitos no Parlamento Europeu – João Ferreira, Miguel Viegas e João Pimenta Lopes – serem “em termos relativos, quem mais trabalho fez em defesa do povo e dos trabalhadores em Portugal”.
Um bom resultado em Maio seria aumentar a sua representação, ao passo que um resultado inferior às últimas eleições europeias será visto como “um fracasso”, salientou o candidato residente na Nazaré, que tem uma forte ligação ao sector das pescas.
Exposição evocativa
Após o almoço, os comunistas inauguraram, em Óbidos, a exposição evocativa dos 45 anos dos 25 de Abril, com a temática Os Valores de Abril no Futuro de Portugal. Ao longo de 10 painéis dispostos pela parede da Casa da Música é feito um retrato do período antes do 25 de Abril de 1974, os acontecimentos da revolução e as perspectivas de futuro.
A mostra integra ainda três escaparates com elementos alusivos à resistência no tempo do fascismo, nomeadamente no plano cultural, com livros, cartazes, pins e outros objectos. Dinamizada pela concelhia do PCP de Óbidos, a iniciativa que pretendeu assinalar os 45 anos do 25 de Abril está instalada num “lugar especial”, explicou o responsável daquela concelhia, José Rui Raposo, dando nota que ali decorreu uma das principais reuniões do movimento dos capitães de Abril, a 1 de Dezembro de 1973.
A exposição itinerante, que veio da Marinha Grande, em Junho estará patente no Museu do Ciclismo, nas Caldas da Rainha.
“Votar é preciso, nestes tempos de extremismos”
O PS caldense reuniu 70 pessoas no habitual jantar que assinala a Revolução dos Cravos. O repasto, que teve lugar a 24, contou com a presença de Odete João, deputada socialista na Assembleia da República e de Pedro Morais, vogal executivo do Conselho de Administração do CHO. Participaram também socialistas do concelho de Óbidos.
“É preciso continuar a defender os pilares de Abril, e votar é preciso sobretudo nestes tempos de extremismos e populismos”, disse o presidente da concelhia, José Ribeiro. O responsável também sublinhou que as Caldas “é uma cidade da saúde”, dando a conhecer que o PS “vai continuar a seguir de perto e com interesse o trabalho do CHO”. José Ribeiro, aproveitou para agradecer a presença de Pedro Morais (administrador do CHO), afirmando que o centro hospitalar “precisa de atenção, de investimento e de futuro”.
Em relação à homenagem aos socialistas caldenses – Dario Manso, Delfim Azevedo, Armando Patacho, Lídia Tavares e Ulisses Ramires – José Ribeiro afirmou que todos “são um exemplo de militância e de perseverança, sobretudo numa cidade como a nossa onde não há alternância democrática”. Alguns dos homenageados são filiados desde Abril de 1974.
José Ribeiro ainda apelou ao voto nas eleições europeias tendo em conta que a Europa “tem sido um garante de paz nas últimas décadas”.
A deputada Odete João, afirmou que o Serviço Nacional de Saúde, a Segurança Social e a educação para todos “se devem a governos socialistas”. E recomendou que não se esqueça a história e personalidades como a de Mário Soares que teve um papel “fundamental” na integração de Portugal na então CEE. Odete João também apelou ao voto a 26 de Maio dado que “60% da nossa legislação tem origem em diplomas que são aprovados pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho Europeu”. Delfim Azevedo, um dos homenageados da noite, salientou que além de socialista, também se preocupar com o bem-estar dos caldenses. “Tenho muita dificuldade em pensar que o hospital pode mudar a sua localização, tendo em conta a economia local”, afirmou o militante que ainda saudou o trabalho da actual direcção do PS caldense.
Um mural sobre a Liberdade
Antes do jantar, foi inaugurado um mural na entrada da sede do PS, junto ao Parque, alusivo ao 25 de Abril. A pintura é de Paula Nobre, artista caldense formada na ESAD que é também professora de artes. Inspirada na liberdade, democracia e igualdade, a autora idealizou uma composição onde não falta o pulso, símbolo do partido, que nesta obra segura a mão de uma criança, expressando a união entre as gerações.
Paula Nobre contou com a ajuda de oito jovens socialistas que, num sábado à tarde, a auxiliaram a pintar o mural.
A artista plástica é amiga do presidente da concelhia José Ribeiro e aceitou este desafio de forma desinteressada. Segundo a autora expressa-se no mural a forma de trabalhar do presidente da concelhia que “está atento às novas gerações”. A nova obra, que mede 1,10 por 1,10 metros foi pintada a preto, branco e vermelho.