“Se em S. Martinho não tivéssemos a receita do parque de campismo não podíamos fazer muitas das coisas que fazemos”

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IMG_9643São Martinho do Porto, no concelho de Alcobaça, é uma freguesia com características diferentes das outras. Estima-se que a população residente seja de seis mil moradores, número que se multiplica por 10 no pico do Verão. A Junta de Freguesia é quase uma “mini-câmara”, com 60 trabalhadores, e um orçamento de 1,2 milhões de euros. O parque de campismo é uma importante fonte de receita, que contribui para o desenvolvimento da terra. Joaquim Clérigo, presidente eleito pelo movimento “Força Viva”, fala de pressão para vender os terrenos do parque de campismo, mas não cede, embora não feche a porta a que ali seja instalada, no futuro, uma grande unidade hoteleira pelo preço certo.
São Martinho tem uma área de 1500 hectares.

Joaquim Augusto da Conceição Clérigo
60 anos
Eleito pelo Grupo de Cidadãos Independentes “Força Viva”
Segundo mandato
Profissão: Desempregado (foi director nas Faianças Artísticas Bordallo Pinheiro)
Casado, um filho e um neto

GAZETA DAS CALDAS: Do seu programa eleitoral, o que é que já cumpriu?
JOAQUIM CLÉRIGO: No primeiro mandato conseguimos fazer cerca de 90% do que estava previsto. Neste segundo mandato já fizemos cerca de 60 a 70% do que pensávamos. A obra do Centro de Saúde penso que no mês de Setembro estará concluída, é uma obra da Câmara. Fizemos obras e arranjos e temos feitos outras coisas além do que estava previsto. Reconstruímos toda a escola secundária. Estamos a arranjar o saneamento do pavilhão da escola e as águas pluviais. Temos arrranjado ‘n’ estradas, algumas por nossa iniciativa. No final do ano passado tínhamos 15 mil euros gastos em alcatroamento de estradas. Temos casas de banho públicas em funcionamento com intervalos de 500 metros, uma junto ao túnel, outra junto ao elevador e outra no parque de campismo, nos antigos balneários.

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GC: E o que lhe falta fazer?
JC: Ainda falta muita coisa, como uma obra de reparação nas arribas que não estava prevista. A dragagem da baía, que está em estudo com o envolvimento de todas as forças, como a Associação de Algas, a Câmara, a Docapesca, a Junta e a Assembleia de Freguesia. Tem que ser uma dragagem em condições. É muito importante que se faça.

GC: Quais os principais problemas da sua freguesia?
JC: O principal problema da freguesia é o dinheiro que, se não houver para determinadas obras, é uma dificuldade.

GC: Qual o orçamento da Junta?
JC: Anda muito perto de 1,2 milhões de euros.

GC: E quais são os principais gastos?
JC: O pessoal. Temos 60 funcionários.

GC: Tem algumas receitas extra para além das dotações orçamentais?
JC: Temos o parque de campismo.

GC: A quanto correspondem as verbas do parque de campismo?
JC: É à volta de 50% do orçamento.

GC: Como são utilizadas essas verbas?
JC: São aplicadas na freguesia, nas obras, no desenvolvimento de São Martinho. Se não tivéssemos essa fonte de receita não podíamos fazer muitas das coisas que fazemos. Dessa fonte de receita já temos dois parques de merendas construídos, um a caminho da Serra dos Mangues, outro em Vale Paraíso, que estão constantemente cheios quando o tempo melhora. Trazem muita gente à terra.

“O parque de campismo não faz de tampão [ao crescimento do urbanismo], quem faz é a Junta”

GC: Depois do que se assistiu no passado, com a construção de prédios grandes junto à praia e ao lado de casas pequenas, concorda que o parque de campismo tem servido de tampão ao crescimento desse urbanismo?
JC: O parque de campismo não faz de tampão, quem faz é a Junta de Freguesia porque os terrenos são da Junta.

GC: Tem existido pressão para que se vendam esses terrenos?
JC: Exactamente. Não colocamos de parte a hipótese de vender se aparecer aqui um grande hotel, mas também não é para ser dado. Isso nem pensar.

GC: Quantas moradores tem São Martinho no verão e no inverno?
JC: Eleitores estamos perto dos 13 mil. Habitantes são à volta de seis mil. E em plena época balnear atinge entre 50 mil a 60 mil pessoas. Também vem muita gente para a passagem de ano, que vai ter uma novidade, mas só divulgaremos mais para a frente.

GC: E o emprego, é sobretudo sazonal ou há emprego para quem cá vive todo o ano?
JC: Existe sazonalidade. Cria-se emprego sazonal para pessoas de cá e para pessoas de fora. Não temos emprego aqui todo o ano para os seis mil moradores. Há pessoas empregadas nas Caldas, em Alcobaça. Há duas entidades empregadoras na freguesia. São a Junta e a Fundação Manuel Francisco Clérigo, que têm à volta de 60 funcionários cada, e depois há os comerciantes.

GC: Quais as actividades que, para além do turismo, geram emprego?
JC: Nesta época a apanha de algas é uma arte essencial, é muito produtiva e tem força. As algas dão para medicamentos, há estudos actualmente para a alimentação a partir das algas.

GC: Tem havido investimento com criação de emprego e em que áreas?
JC: Tem havido algum investimento. Há casas comerciais que abrem e outras que fecham, é o ciclo normal.

GC: Com a estação mesmo junto à praia, a CP tem prestado um bom serviço a São Martinho?
JC: Em pleno Verão sim. No Inverno é provável que o número de comboios diminua. O principal foi não terem encerrado a Linha do Oeste, como chegaram a pensar. Diz-se que até 2020 vão electrificar a linha e isso é muito bom para nós, embora possa trazer mais confusão e assaltos se o número de pessoas aumentar muito.

“Tenho o telemóvel sempre ligado”

GC: São Martinho tem escolas até ao 12.º ano. Funcionam bem? Têm algumas carências?
JC: As escolas estão a fuincionar bem. A EB1 está a tornar-se pequena pela quantidade de crianças, mas penso que a Câmara já está a tratar do assunto e a escola deve ser deslocalizada para outro local. Está a ficar sem condições e com muitos alunos. As salas já não chegam, já estão a funcionar com três ou quatro contentores a fazer de sala.

GC: A que se deve esse aumento de alunos? Ao crescimento da população?
JC: Sim, há um crescimento da população e vêm crianças de outros locais para esta escola.

GC: Como é o dia a dia de um presidente de Junta?
JC: Muito complicado, 24 sobre 24 horas, tenho o meu telemóvel sempre ligado e ligam-me a qualquer hora que eu tento resolver. Há sempre coisas a acontecer.

GC: Quais são as maiores dificuldades com que se depara?
JC: As maiores dificuldades são, por norma, no saneamento, entupimentos. Antes faltava muito a luz, felizmente não tem acontecido como antigamente.

GC: A EDP reforçou o abastecimento?
JC: Sim, a EDP fez investimento e o problema ficou resolvido.

GC: Quais os principais pedidos dos seus fregueses?
JC: Pedem para tapar buracos nos arruamentos. O alcatrão é o que pedem mais, e arranjos nas calçadas.

GC: A delegação de competências é uma boa medida ou trouxe mais dificuldades?
JC: Essas competências que foram dadas são praticamente as que a nossa junta já fazia. Há é uma retribuição de valores que não me deixa satisfeito. Posso dizer que a freguesia de São Martinho gera receita de IMI à volta de 1,4 milhões de euros por ano, mas a junta não recebe nem 1% desse valor.

GC: Que colectividades e grupos informais cívicos se destacam na dinamização da vida social e cultural da freguesia?
JC: Os principais são a Associação Humanitária dos Bombeiros, o Clube Náutico, o GD Concha Azul, a Casa da Cultura, o Clube de Pesca da Serra dos Mangues e o de Vale de Paraíso. Temos um grupo de escuteiros que também funciona bem.

GC: O novo Centro de Saúde vai melhorar os serviços de saúde na freguesia?
JC: Sim, vai. Há uns anos havia carências, mas depois alugaram um espaço onde fizeram um Centro de Saúde. Não temos razão de queixa do funcionamento.

GC: Quando o hospital de Alcobaça mudou para o Centro Hospitalar de Leiria o direccionamento dos pacientes de São Martinho passou a ser repartido entre Caldas e Alcobaça. É a melhor solução?
JC: Os pacientes são reencaminhados pelos próprios bombeiros consoante a situação e está a correr tudo bem.

GC: Estação dos CTT, existe?
JC: Sim, está a ser explorada pela Junta de Freguesia.

“Não sou político, sou um presidente para São Martinho”

GC: Como chegou à política?
JC: Eu não sou político, sou um presidente para São Martinho. É por isso que estamos numa lista de independentes, a lutar por um São Martinho do Porto cada vez melhor. Não sou nem gosto de ser político.

GC: Foi eleito por um movimento cívico. Sente alguma diferença de tratamento da autarquia em relação às juntas de freguesia eleitas pelo PSD?
JC: Não, não sinto qualquer diferença, pelo contrário, o nosso executivo dá-se muito bem com o executivo da Câmara.

GC: O Força Viva não tem a maioria na Assembleia de Freguesia. Isso tem causado dificuldades ou há consenso?
JC: Há consenso, houve uma coligação com a outra lista de independentes.

GC: Esta freguesia é das poucas onde, das três forças representadas na Assembleia de Freguesia, só uma é um partido. Sente alguma diferença no funcionamento por causa disso?
JC: Não sinto diferença nenhuma. Nós falamos e exigimos os direito da nossa freguesia, nem que tenhamos que ir ao Presidente da República. E até recebo mais depressa uma resposta das instâncias mais elevadas que de certas entidades, como a Infraestruturas de Portugal [antiga Estradas de Portugal], da qual estamos à espera de uma resposta há quase dois meses. E isso é lamentável.

GC: São Martinho, tal como Alfeizerão, já teve movimentos cívicos a defender a passagem para o concelho das Caldas da Rainha. Faz sentido isso hoje?
JC: Na minha opinião não e a História diz isso. Há muitos anos passou-se para Caldas da Rainha e no ano a seguir voltou-se para Alcobaça. Isso quer dizer alguma coisa.

GC: Como lida com as pessoas descontentes com a sua prestação?
JC: Há sempre pessoas descontentes. Deus, que é Deus, não agradou a todos e comigo é a mesma coisa. Nenhum presidente de Junta agrada a toda a gente. Lido bem com isso, temos que fazer ouvidos moucos a algumas coisas.

GC: Em 2013 um privado vedou as arribas da praia da Gralha, o que impediu a circulação das pessoas na crista da arriba. A situação está resolvida?
JC: Não tenho nada a dizer, os tribunais é que hão-de resolver. O terreno não é meu, o homem diz que o que está vedado é dele e a prova é que está onde está ainda. Não construiu lá nada, só pôs uma rede. Se não estivesse legal, eu agiria.

GC: Nasceu nesta freguesia?
JC: Nasci em Angola, mas vim para São Martinho com seis anos. Sou são martinhense.

GC: Quando se candidatou, já sabia que ia ter tanto trabalho?
JC: Sou uma pessoa que onde me meto tem que haver trabalho. Mas se o estou a fazer bem ou mal não sou eu que tenho que dizer, é a população. Não gosto de me gabar, as pessoas é que vêem o trabalho que tem sido desenvolvido em São Martinho do Porto.

GC: Das suas funções neste cargo, de que é que gosta mais?
JC: Gosto de tudo!

GC: Tenciona recandidatar-se?
JC: Não sei. Quando chegar à altura decidirei, ainda é cedo para isso.

 

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