A desfiliação de José Sócrates do PS não deixou ninguém indiferente. Na região os dirigentes das concelhias socialistas lamentam a sua saída da “família” socialista, mas destacam que se trata de uma questão pessoal.
Por outro lado, entendem que esta decisão e o “ruído” que se tem gerado à volta da direcção do partido e do ex-primeiro ministro, acusado de 31 crimes no âmbito da Operação Marquês, não irá prejudicar o Congresso na Batalha, onde o PS pretende reforçar as suas bases no sentido de alcançarem a maioria absoluta nas próximas legislativas.
O ex-primeiro ministro e antigo secretário geral do PS, José Sócrates, desfiliou-se do partido na semana passada. O anúncio foi feito num artigo de opinião que escreveu no Jornal de Notícias onde explicou que o fez para “pôr fim a um embaraço mútuo”, depois das reacções da direcção do partido às suspeitas que recaem sobre José Pinho, antigo ministro da Economia de José Sócrates e à Operação Marquês, na qual é arguido.
“A injustiça que a direcção do PS comete comigo, juntando-se à direita política na tentativa de criminalizar uma governação, ultrapassa os limites do que é aceitável no convívio pessoal e político”, refere no artigo. José Sócrates queixa-se ainda de, durante quatro anos, o PS nunca ter saído em sua defesa contra o que considera os “abusos” da justiça e interpreta as declarações dos últimos dias como “uma espécie de condenação sem julgamento”.
Para o presidente da concelhia socialista das Caldas da Rainha, José Ribeiro, a desfiliação de José Sócrates do partido é uma decisão pessoal e que tem que ser respeitada enquanto tal. Quanto à inocência do ex-primeiro ministro, acusado de 31 crimes no âmbito da Operação Marquês, o responsável caldense diz acreditar num sistema de justiça independente e no seu pressuposto básico que é a presunção da inocência. “Ninguém pode nem deve ser julgado em praça pública ou nos meios de comunicação”, disse à Gazeta das Caldas, acrescentando que todas as pessoas terão a sua opinião, mas a justiça deve fazer o seu trabalho independentemente do mediatismo ou não dos arguidos. “Todos têm direito a um julgamento imparcial”, destaca.
O rosto de José Sócrates continua a figurar na parede da sede do PS caldense. José Ribeiro garante que este partido “não faz, nunca fez, nem fará revisionismo histórico, próprio das ditaduras e dos estados autocráticos”, pelo que esta questão nem se coloca.
O mesmo acontece na sede do PS de Alcobaça, que mantém nas suas paredes a fotografia de todos os secretários gerais do partido. “O papel político de José Sócrates não pode ser esquecido e temos que saber manter a distância entre a política e a justiça”, esclarece Rui Alexandre, presidente da concelhia alcobacense.
Sobre a desfiliação do ex-primeiro ministro, este dirigente comentou que “é sempre triste ver alguém da família socialista abandonar a estrutura”. Rui Alexandre destaca ainda que é preciso saber separar a política da justiça e que Sócrates é inocente até que os tribunais venham dizer o contrário.
Posição igual têm as concelhias de Óbidos e de Peniche, que entendem que a filiação e a desfiliação são decisões pessoais que a estrutura partidária deve respeitar.
Fernando Ângelo, da concelhia de Óbidos, salienta que cabe à justiça decidir, pois trata-se de um complexo caso judicial. “Não nos compete crer ou descrer na inocência de ninguém. Gostaríamos é que a justiça fosse célere e decidisse para ser posto um ponto final a esta situação”, disse.
Os dirigentes socialistas da região são unânimes em considerar que este episódio não irá ensombrar o congresso que irá decorrer entre 25 e 27 de Maio na Batalha. José Ribeiro, das Caldas, fala no orgulho que sente em terem um evento destes no distrito.
Já o líder socialista de Alcobaça, Rui Alexandre, destaca que o congresso está focado na governação do país e no objectivo de reforçar as suas bases no sentido de alcançarem a maioria absoluta nas próximas legislativas.
Mais cuidadoso, o presidente da concelhia de Peniche, Henrique Estrelinha, diz que espera que o caso Sócrates não prejudique o congresso, até porque “estamos num novo modelo de governação, com apoio parlamentar nunca antes visto em Portugal e que tem sido um verdadeiro caso de sucesso”. O dirigente diz que “existem assuntos muito importantes para discutir neste congresso nacional, como por exemplo, o que queremos para a próxima legislatura: a economia digital, as políticas de habitação e as respostas aos problemas demográficos”, concretiza.
Gazeta das Caldas tentou saber também a posição do líder da concelhia do Bombarral, Jorge Gabriel, mas tal não foi possível até ao fecho desta edição.