A terminar o seu terceiro mandato à frente da Câmara de Óbidos, Telmo Faria garante que irá manter-se em funções até às eleições e que só não se recandidata porque a lei não o permite. Irá concorrer pelo PSD à Assembleia Municipal onde, caso ganhe, pretende implementar algumas alterações, sobretudo ao nível da discussão da estratégia a seguir pelo concelho.
Ao próximo presidente da Câmara deixa o conselho para “resistir às tentações populistas e demagogas”, concentrando-se em “fazer o que é preciso e não o que toda a gente quer”.
Nesta entrevista à Gazeta das Caldas o autarca mostra-se disponível para trabalhar em cooperação com o concelho das Caldas, tendo já feito sentir essa disponibilidade ao novo presidente em exercício, Tinta Ferreira.
O autarca tece ainda duras críticas à actuação do governo, por não cumprir os seus compromissos políticos, assim como à escolha dos governantes.
GAZETA DAS CALDAS – Está a terminar o seu terceiro e último mandato. Que balanço faz da sua presidência de 12 anos em Óbidos?
TELMO FARIA – É inegável dizer que Óbidos mudou completamente. Temos um novo concelho, uma nova mentalidade. Ao nível do investimento municipal e do investimento privado não se compara o que se investia há 12 anos e o que se investe hoje. O pulsar de quem acredita neste território para investir é completamente diferente – só o investimento aprovado no período do QREN revela que estão a ser investidos milhões de euros no concelho ao nível do sector privado.
Quando nos comparamos com concelhos vizinhos e bem maiores que o nosso e vemos que temos muito mais investimento privado, significa que o nosso posicionamento daqui a alguns anos será ainda mais forte.
A rede de infra-estruturas que construímos, a aposta na Educação e o que temos vindo a fazer no desenvolvimento comunitário e associativo, torna Óbidos uma terra de oportunidades, em que todos os dias aparecem pessoas, novas empresas, ideias e projectos.
Esta dinâmica continua a balizar e a sustentar grande parte do meu optimismo nesta terra. Acho que construímos uma marca muito forte, que atrai as pessoas mais interessantes e penso que Óbidos caminha para que nos próximos dois mandatos autárquicos consiga ser um dos concelhos mais ricos e interessantes do país.
G.C. – E em termos pessoais, qual é o balanço que faz?
T.F. – Foi muito estimulante porque entrei para a Câmara muito jovem. Apesar de ter um acompanhamento dos assuntos autárquicos em mandatos anteriores que fiz na Assembleia Municipal, entrei muito jovem e apanhei um período complicado, em que caem as Torres Gémeas em Nova Iorque, as economias alemã e japonesa entram em grande depressão e em que se começa a introduzir em Portugal a questão do défice e o controle da despesa pública.
Do ponto de vista pessoal há esse lado de muito sacrifício, dedicação, militância e entrega total. Hoje acho que o panorama volta a exigir esse tipo de dedicação e, até do ponto de vista psicológico, penso que é mais difícil entusiasmar para ser presidente da Câmara.
Gosto muito e acredito em Óbidos. Saio porque há uma limitação de mandatos, não por não gostar do cargo ou porque perdi as ideias e energia para Óbidos.
G.C. – Vai levar o mandato até ao fim?
T.F. – Sim. Sempre procurei cumprir os mandatos até ao fim e é isso que estou preparado para fazer. Estamos a três meses das eleições e estamos a procurar encerrar o mandato e o ciclo da melhor maneira possível, que é com muito trabalho e dizer a quem nos procura que Óbidos não vai parar e as coisas não vão mudar radicalmente.
G.C. – O que irá fazer a seguir? Deixa a política, regressa ao ensino, ou vai dedicar-se aos negócios da hotelaria?
T.F. – Do ponto de vista autárquico continuarei a dar apoio à minha terra. Há uma candidatura do engenheiro Humberto Marques (PSD) que é alguém que está dentro do projecto, que fez uma caminhada comigo nos últimos oito anos e se destacou. Eu estarei com ele, serei candidato a presidente da Assembleia Municipal, também para demonstrar a disponibilidade que lhe dou e a forma que encontrei para me colocar ao dispor dele, que acredito que vai ser presidente da Câmara.
É uma espécie de revalidação de declaração de amor à minha terra e uma mensagem de que nos momentos difíceis, como os que estamos a atravessar a nível nacional, nós não devemos saltar fora. E o que eu gosto de fazer é ajudar a implementar projectos e enfrentar os desafios.
Será uma nova fase, em que quero implementar algumas alterações na Assembleia Municipal.
G.C. – Que mudanças pretende implementar?
T.F. – Quero ver uma Assembleia Municipal a discutir o que faz falta, essencialmente a questão estratégica e a fazer com que o presidente da Câmara a cada dois meses [em cada reunião ordinária] apresente e monitorize com os deputados municipais o seu programa de desenvolvimento.
Procurarei estimular que a discussão e o agendamento da Assembleia se faça numa lógica aberta, sempre fui o grande promotor das reuniões descentralizadas, mas que se discuta a questão estratégica e não o detalhe e o pormenor.
G.C. – E que tenha também um papel mais fiscalizador que é, no fundo, o da Assembleia?
T.F. – Fiscalizar sobretudo o programa de desenvolvimento e o processo em que essa questão está a ser feita. Não faz sentido que não haja, pelo menos, uma grande Assembleia por ano que não sirva para fazer o balanço e a grande programação sobre o que devem ser as apostas, em que os partidos e os representantes da Assembleia Municipal sejam motivados pela discussão estratégica.
“As promessas que não consegui cumprir explicam-se pela conjuntura”
G.C. – Nestes 12 anos fez muitas promessas para Óbidos que não foram cumpridas. Qual a que lamenta mais não ter feito?
T.F. – As promessas que não consegui cumprir explicam-se pela conjuntura e pela alteração profunda que conhecemos a partir de 2010. Tínhamos um plano de investimentos muito maior, que assentava numa arrecadação de receitas também maior, mas a partir desse ano começámos a ter uma quebra de receitas próprias muito significativa, fruto do arrefecimento da economia.
Atribuo mais as palavras “não cumprir a promessa” a um ambiente de uma certa demagogia, porque a gestão é o ajustar das prioridades e acho que nós fizemos isso bem.
O que o eleitorado deve apreciar é se continuámos a gastar o dinheiro bem gasto ou se deveríamos dar prioridade ao que não era produtível do ponto de vista social e económico. Achámos que o caminho de Óbidos passa por fazer investimentos fortes naquilo que promove a preparação da nossa força de trabalho, por isso a aposta na Educação e num grande centro empresarial.
Há 10 anos tínhamos um cenário em que só havia agricultura no concelho, hoje temos agricultura, um eixo económico do turismo fortíssimo, e estamos a construir um eixo empresarial. Fizemos 80 contratos nos últimos 3 anos, o que é um excelente sinal de que temos condições para aprofundar o sistema de apoio de atracção das empresas.
A 22 de Novembro, quando inaugurarmos os edifícios centrais do Parque Tecnológico e lá colocarmos dezenas de empresas, passaremos a dar uma imagem física do nosso trabalho, que muitos ainda não percebem.
Não me arrependo de uma grande promessa que não cumpri porque acho que estou a fazer as mais importantes.
Contudo, confesso ter uma certa tristeza por querermos fazer dois mega investimentos e o governo ter chutado isso para 2014. Um deles tem a ver com as obras hidroagrícolas do concelho de Óbidos, em que o governo não conseguiu resolver um problema relacionado com os financiamentos, que permitia que os agricultores começassem a tirar partido mais cedo da rede de rega. Também me custa o facto da Câmara de Óbidos estar a fazer o maior trabalho, a nível nacional, no que respeita à Educação, com um investimento de 22 milhões de euros concentrados em cinco anos e não conseguirmos a autonomia municipal nesta área. O ministro da Educação prometeu-ma para o próximo ano lectivo e chutou-a, de forma deselegante, para 2014.
A crítica que faço é da falta de coragem das pessoas honrarem os compromissos políticos, as expectativas e, acima de tudo, não valorizarem o investimento e esforço que está aqui a ser feito ao nível da Educação. Acho que o governo tem claramente, no último ano, desapontado muitos sectores que o apoiaram e eu não estou fora dos que começam a ficar muito desiludidos com algumas pessoas que, tendo responsabilidades governativas, não estão a conseguir mobilizar as pessoas para as soluções que exigem criatividade, inovação e coragem política.
G.C. – Este projeto da Educação em Óbidos só ficará completo com a autonomia municipal da escola?
T.F. – Claro, os resultados mostram que construir edifícios não é suficiente, temos que fazer a revolução na pedagogia. Só precisamos da descentralização política para construir outra organização com os professores.
Tudo isto se faz para combater o insucesso escolar e, se os resultados educativos fossem bons após a construção dos complexos escolares, diria que estávamos no bom caminho e não precisávamos de fazer muito mais. Mas temos que fazer alterações ao nível da pedagogia e, por isso, eu digo que a irresponsabilidade política da tutela e do ministro da tutela é muito grave para Óbidos e para o nosso programa de desenvolvimento.
Já transmiti ao gabinete do primeiro-ministro a minha total oposição e desagrado.
G.C. – Que conselho dá ao seu sucessor, qualquer que for a sua origem partidária, para Óbidos?
T.F. – Que o próximo presidente da Câmara deve resistir às tentações populistas e demagogas, mais do que nunca precisamos fazer o que é preciso e não fazer o que toda a gente quer.
Criámos nos últimos anos uma excelente rede de infraestruturas, construímos o que era preciso. Nos próximos tempos temos que alocar as nossas receitas e recursos humanos no apoio a um sistema humanizado de desenvolvimento social, a ajudar as pessoas a criar o seu próprio emprego e que as empresas possam caminhar. Precisamos dar mais atenção à parte social, não na vertente super assistencialista dos mais idosos, mas abarcar as camadas da população activa.
Eu já estou a fazer isso e noto que as pessoas gostavam mais do modelo do primeiro mandato do que do terceiro, mas este é um modelo sobretudo de Educação, aposta na Economia e Apoio Social.
As pessoas querem obra que possam ver, mas o desafio é mais imaterial.
G.C. – Acha que Óbidos enquanto concelho vai permanecer como está nos próximos 10 anos, de forma autónoma, ou antecipa grandes transformações na agregação regional dos concelhos? A troika tinha definido grandes objectivos a este nível que se ficaram pelas freguesias.
T.F. – Estarei cá para lutar contra isso, se isso vier a acontecer o primeiro-ministro terá na minha pessoa uma total oposição. O concelho de Óbidos é um exemplo de como se cresce economicamente, se consegue dar a volta a um concelho desanimado, sem investidor. É um concelho que cresce, coisa que o país actualmente não faz, e que não pode ser medido pela sua população e área, mas pelo coração e pulmão que tem.
Em mais dois, três mandatos Óbidos poderá ser um dos concelhos mais ricos do país a nível per capita, porque criámos as condições para isso.
Esta luta de revitalizar o tecido económico é para defender o futuro do concelho.
“Os eleitores das Caldas gostam do modelo de Óbidos”
G.C. – Defende que os concelhos devem ter uma estratégia e um projecto de desenvolvimento para atingir determinados objectivos. A seu ver como deveria ser posto em prática nesta região – Caldas da Rainha, Bombarral, Peniche – esta estratégia?
T.F. – Os meus colegas não gostam do que vou dizer, mas as pessoas sentem que Óbidos está a ultrapassar muitos concelhos que eram maiores que este. E sentem que tivemos uma ideia clara do que queríamos, crescer economicamente.
Quando entrei introduzi um modelo de uma certa obsessão pelo crescimento económico, porque o modelo que Óbidos tinha era de empobrecimento contínuo, de não aproveitamento dos recursos e de não crescimento a uma série de níveis.
Há dois tipos de autarquias. As que acham que o grande resultado final é crescer em número de pessoas e transformam-se em dormitórios e zonas de potenciais problemas sociais. Depois, há as outras, que acham que devem crescer qualitativamente, que as pessoas devem viver nos concelhos que estão à sua volta e que o modelo de planeamento tem de ser supramunicipal.
Uma autarquia que vive apenas para pagar salários e desistiu do investimento, que combate as autarquias que fazem investimento e tem como modelo político não fazer nada e ter dinheiro no banco, implementa uma estratégia de empobrecimento a médio prazo. Já outras, onde Óbidos se inclui, nos momentos de crise investem forte, ganhando recursos a outras. Nós temos 13 milhões de euros em candidaturas, com financiamento a 85%.
Enquanto nos anos 80 podia ter um presidente de Câmara pouco preparado, aventureiro e que ia aprendendo aos poucos, hoje os autarcas têm que ser fortíssimos, ter experiência e um grande conhecimento do território, senão são ultrapassados.
Em relação às Caldas da Rainha tenho muita esperança sobre os sinais que o candidato do PSD, Tinta Ferreira, irá dar à população da mudança que quer trazer nas relações entre estes dois concelhos. Já felicitei formalmente o presidente de Câmara em exercício pelas novas funções e já me coloquei a seu dispor.
Acho também que ele deve ter a iniciativa de dizer à sua população que não deve haver nenhum problema entre os dois concelhos e que ele, enquanto presidente da Câmara das Caldas, falará com o de Óbidos.
Isto não é vaidade, mas os eleitores das Caldas, de todos os partidos, gostam do modelo de Óbidos.
G.C. – E está disponível para trabalhar em conjunto com as Caldas?
T.F. – Estamos disponíveis, mas precisamos de sinais. E Caldas da Rainha precisa de um sinal de que vai haver mudança.
Já enderecei formalmente as minhas felicitações e coloquei-me ao dispor para um profícuo trabalho de cooperação entre os dois municípios.
G.C. – Em que é que as Caldas e Óbidos podem trabalhar em conjunto?
T.F.- O meu sonho, desde o início, é de fazer um eixo económico e social entre Óbidos e Caldas, acho que juntos somos imbatíveis na região.
O que precisamos é de respeitar as ideias e tempos uns dos outros e construir uma espécie de “aldeia gaulesa” contra as adversidades que estão aí à nossa volta.
Acho que uma aliança com as Caldas da Rainha fortalece os dois concelhos.
G.C. – Essa estratégia conjunta passa por que sectores, em que é que se pode encontrar alguma unicidade?
T.F. – Acho que precisamos de fixar neste eixo entre Óbidos e Caldas um grande viveiro de empresas tecnológicas porque temos uma enorme qualidade de vida e um modelo de educação.
Acho que há escolas nas Caldas que conseguiram construir, sozinhos, um modelo de ensino/aprendizagem fantástico, à custa da visão da directores, do querer fazer por parte dos professores e com resultados finais muito bons.
Precisamos de fazer muita cooperação em termos de programação, dos eventos, pois a juventude e a população que tem necessidade de momentos de lazer é a mesma e tanto vai a Óbidos como às Caldas. Se Óbidos está a construir um dos maiores projectos culturais do país, a vila literária, isso é bom para as Caldas, que foi sempre uma terra de consumo cultural.
A maior parte dos nossos empresários vive nas Caldas. Precisamos do concelho vizinho para este modelo funcionar, não foi por acaso que desenhámos um Parque Tecnológico a dois quilómetros das Caldas e de Óbidos e mesmo ao lado do caminho-de-ferro. Fi-lo sem o apoio que gostava de ter nesse projeto, mas mais tarde resgataremos isso.
G.C. – Óbidos tem-se afirmado com a realização de diversos eventos com bastante projecção. Estes eventos são sustentáveis? E podem sê-lo no futuro?
T.F. – Tenho feito uma luta interna para ir baixando as nossas despesas. Acho que precisamos de ir renovando os eventos, mas não os podemos tirar de cartaz. Tenho consciência que se deixamos de fazer a Vila Natal e o Festival Internacional de Chocolate no Inverno será um desastre para os hotéis e o comércio de Óbidos, pois são empregos pontuais que se criam e entrada de receitas. É um bocadinho de Agosto que geramos em Dezembro e Fevereiro.
Acho que devem surgir projectos novos com a Vila Literária ou o Grande Festival de Literatura que vamos fazer na Primavera. Por exemplo, duas das livrarias criadas em Óbidos foram feitas praticamente a custo zero, utilizando paletes e algumas chapas de zinco.
Desafio a oposição a dizer que evento quer acabar, pois não o fazem. Vejo também que, de alguma maneira, a oposição nestas eleições atirou a toalha ao chão, desistiu.
G.C – Não antevê uma luta política renhida nas próximas autárquicas?
T.F. – Todos estávamos à espera de uma determinada candidatura que não saiu do ovo [Cristina Rodrigues] e a interpretação que fiz foi de que o PS desistiu de reconquistar a Câmara de Óbidos. Tem um candidato que é uma pessoa por quem tenho uma óptima consideração do ponto de vista pessoal, mas não acho que seja uma candidatura preparada para o momento que estamos a atravessar ou que signifique uma aposta forte do PS em Óbidos.
Temo que a campanha eleitoral seja de crítica permanente, que é o que faz uma oposição que assim quer continuar. Uma oposição que quer ganhar apresenta ideias, os seus candidatos estão no terreno, há pessoal político de qualidade à sua volta e neste momento ainda não conheço uma única ideia. Acho que o concelho não tem essa informação, o que me leva a concluir que o PS desistiu politicamente de ganhar a Câmara de Óbidos.
G.C. – Para além das críticas da oposição, algumas das maiores guerras com que se bateu foram dentro do seu partido. Isso não o deixa cansado?
T.F.- Nunca tive guerras, houve foi um presidente de Câmara vizinho que nunca aceitou o sucesso do presidente da Câmara de Óbidos.
Carreguei depressa demais no acelerador e houve, se calhar, quem se sentisse destronado, mas paguei caro, com uma crítica permanente, falta de cooperação e muita injustiça. Entre a crítica feita há uma coisa que não perdoo, que é sobre as finanças municipais, pois fizemos uma recuperação notável do ponto de vista da estrutura financeira.
Quando fui eleito a Câmara tinha uma dívida de curto prazo de sete milhões de euros. Hoje temos uma dívida de médio prazo de 11 milhões de euros, dentro de uma capacidade de receita muito maior. Temos crédito de 10 milhões de euros e um património de 100 milhões de euros.
É preciso haver contenção e um corte de despesa, mas continuámos a ter taxas e impostos baixos.
Ouvir outras pessoas envenenarem a minha população contra a própria câmara foi uma coisa que me entristeceu muito.
Não é normal o município de Óbidos estar hoje com um problema com os fundos comunitários porque construiu uma escola no Alvito, num terreno que foi uma antiga lixeira de três municípios (Caldas, Óbidos e Peniche) em que Peniche vendeu a sua parte por um montante simbólico e as Caldas continua a recusar-se a fazê-lo, quando nós servimos também alunos do concelho vizinho naquela escola. A nível de fundos comunitários estamos na eminência de ter graves prejuízos por não sermos plenos proprietários desse terreno, por ter havido uma Câmara que não permite que isso aconteça.
Tenho esperança que o novo presidente da Câmara, que é uma pessoa muito sensível na área da Educação, ponha fim a estas questões que não têm a ver com política, mas sim prejudicar objectivamente a população de Óbidos, prejudicando, por essa via, a Câmara.
“O governo deixou de resolver os problemas”
G.C. – Ao nível do poder central, tivémos a certa altura um concelho muito acarinhado, com a presença de ministros e secretários de Estado. Até teve um Conselho de Ministros especial na vila. Agora isso já não acontece, sente-se abandonado pelo poder central?
T.F. – Ainda ontem [18 de Junho] me foi proposta a realização de um Conselho de Ministros. Óbidos não se sentiu abandonado, nós é que achámos que não valia a pena continuar a cultivar uma relação com políticos que não cumprem.
Não é uma crítica aos políticos, mas à qualidade daqueles políticos em concreto. Gosto de ser justo com os políticos que têm valor mas, deixámos de convidar membros do governo e de pedir audiências, porque eles deixaram de resolver problemas.
O Dr. Durão Barroso quando, em 2004, veio fazer um Conselho de Ministros a Óbidos mandou perguntar quais eram os problemas que tínhamos na região, foi feito um documento na Associação de Municípios e foram resolvidos alguns problemas da região. Havia uma lógica de se perceber que os governos existem para construir soluções, quem não o faz não está a ser eficaz e não merece lá estar.
O PS e o PSD têm dado um forte contributo para mostrar à sociedade portuguesa que as escolhas não têm sido acertadas.
Acho que estamos a pagar falhas de recrutamento político que são baseadas em equívocos e em determinados deslumbramentos ou aparelhismos. Dentro dos partidos não podem subir ao cargo de ministro à custa de uma certa compensação por trabalharem em prol desta ou daquela liderança, esse trabalho político não se pode confundir com a construção de um governo e é o que está a acontecer. Acho que precisamos de políticos outra vez, tenho saudades da velha política, de pessoas que desenhavam um modelo e combatiam por ele mesmo sabendo quais eram as barreiras.
G.C. – Qual é, a seu ver, a forma de inverter a actual situação do país?
T.F. – O país precisa de um plano de metas pragmáticas, claras, eficazes e que os ministros sejam os seus grandes mobilizadores. Neste momento não o são, são paralisadores.
Os ministros na Educação deviam estar a mobilizar as comunidades e os professores, na Economia a estimular os empresários.
O país precisa também de uma definição de quais são as áreas estratégicas em que deve haver investimento.
O PSD está neste momento transformado num partido que tem vários PSD. O PSD de Óbidos não tem nada que ver com o PSD a nível nacional, pois é mobilizador, define as suas metas, que aglutina as pessoas e o partido a nível nacional não está a fazer isso.
G.C. – Sente-se mais próximo de algumas posições defendidas pelo CDS-PP e alguns ministros do seu partido ou por Vítor Gaspar?
T.F. – Acho que é tudo igual. Eu sou e continuarei a ser do PSD, mas trabalharei, no futuro, por uma coisa diferente. Fazer críticas ou dizer que estou a ficar muito desapontado com as medidas implementadas para se atingir os resultados que se pretendem não significa mudar de partido.
Acho que o primeiro-ministro devia de sacudir coisas de dentro do seu governo porque sei que é uma pessoa bem-intencionada e que tem um sonho e uma ideia, que não está distante da que os portugueses têm.
Mas nós actualmente não vivemos em modelo de pressão fiscal, mas em modelo de perseguição fiscal.
G.C. – Acha que este governo vai chegar ao final da legislatura?
T.F. – Ficarei surpreendido se isso acontecer. Mas há uma situação que poderá fazer com que isso aconteça – é que os portugueses não têm alternativa, não vêem que haja uma mudança para uma brisa. Isso faz com que haja cada vez mais um ambiente insustentável, de oposição inorgânica, desorganizada.
Sempre que há um crescimento do poder dos sindicatos e outras formas de manifestação de oposição que não passa pelos partidos, isso é uma grande crítica ao trabalho da oposição porque não está a ser o veículo principal de oposição do governo.
G.C. – Foi escolhido pelos autarcas do Centro para os representar no grupo coordenador que irá definir a estratégia de especialização em áreas de potencial acesso aos fundos comunitários. Como está a correr esse trabalho?
T.F. – Está a correr bem. Estamos a chegar a uma fase de clarificação das coisas e a 10 de Julho, altura do conselho regional, em Coimbra, já serão apresentadas algumas linhas fortes.
É um trabalho muito interessante de pensar a região, de como quer ser vista e quais as prioridades que tem que fazer. O próximo quadro comunitário é mais uma oportunidade de afirmarmos o modelo de desenvolvimento económico.
Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt
Óbidos recusou receber Conselho de Ministros
O presidente da Câmara de Óbidos, Telmo Faria, recusou que o Conselho de Ministros de 22 de Junho, que assinalou os dois anos de governo da coligação PSD/CDS-PP, tivesse lugar em Óbidos, acabando este por se realizar em Alcobaça. O convite foi feito a 18 de Junho e o autarca informou o gabinete do primeiro-ministro que “estávamos muito zangados pela forma como estamos a ser tratados”, disse à Gazeta das Caldas. Na base desta recusa em receber o governo está a decisão do ministro da Educação ter adiado para 2014 a decisão sobre a autonomia municipal de Óbidos ao nível da Educação, depois de se ter comprometido com o autarca de que esta iria entrar em vigor já para o próximo ano lectivo.
Telmo Faria refere ainda que um Conselho de Ministros deve ser preparado com antecedência e ouvida a região para se inteirarem dos seus problemas e avançarem com soluções, tal como aconteceu com a reunião de governantes que ali decorreu em 2004 durante o governo de Durão Barroso. “Se Óbidos ou a região não têm nada a ganhar, não vejo a utilidade em associarmo-nos à iniciativa”, explicou.
O autarca, que está desiludido com a política nacional, considera que neste momento existe um governo anti-liberal, que “não está a fazer pressão fiscal, mas sim perseguição fiscal”. Com estas políticas, disse, está a conseguir dizimar com impostos sectores altamente empregadores como a construção civil e a restauração.
F.F.