A presidente do Conselho da Cidade, Ana Costa Leal, nem é munícipe das Caldas da Rainha (vive em Óbidos), pelo que não pode votar no Orçamento Participativo local. Mas isso nunca a impediu de ser a voz mais activa e contestatária do (mau) funcionamento desta ferramenta democrática que não tem conseguido atrair um número considerável de caldenses. Zé Povinho aplaude a sua tenacidade e não pode deixar de se mostrar agradado por esta militante cívica ter voltado à Assembleia Municipal para encarar os deputados, fazendo-os ver o que está mal na gestão do Orçamento Participativo.
Ano após ano, a dirigente tem deixado críticas e sugerido melhorias, tem participado e incentivado várias pessoas a votar. Foi, inclusivamente, uma das mentoras da candidatura do Centro Interpretativo da Lagoa de Óbidos ao Orçamento Participativo Portugal, onde os seus esforços (e de outros dirigentes) permitiram que o projecto fosse aprovado.
Zé Povinho bem os viu de tablet na mão pelas ruas da cidade e em grandes eventos a recolher votos. Pena tem que a sensibilidade para a participação cívica não encontre paralelo na maioria dos caldenses que preferem delegar noutros as decisões para o seu concelho.
Zé Povinho não esconde a sua grande estima pelo país irmão que é o Brasil, do qual aprecia a alegria, espontaneidade e diversidade étnica e cultural do seu povo, que só por si constitui uma das suas maiores riquezas.
É certo que o Brasil é também corrupção, pobreza e violência. Não há volta a dar. Mas em vários momentos da sua História o povo brasileiro teve ocasiões para comemorar, com a alegria que o caracteriza, o advento de períodos de prosperidade que arrancou muita gente da miséria, tornando a sua sociedade um pouco menos desigual.
Vem isto a propósito das eleições, cuja primeira ronda se realiza no próximo domingo no Brasil e do candidato que está mais bem colocado nas sondagens – um ex-militar de passado dúbio, que esteve várias vezes prestes a ser expulso do Exército e que quer ser agora o Presidente daquele país. Um tal Jair Bolsonaro.
Esta triste figura tornou-se conhecida por não ter pejo em defender a ditadura militar que entre 1964 e 1985 oprimiu o povo brasileiro. Ele próprio assume-se como um defensor das práticas de tortura e até afirmou que “o erro da ditadura foi torturar e não matar”. Chegou mesmo a homenagear um coronel que durante aquele período negro da História do Brasil chefiou os serviços de inteligência e repressão e que foi acusado de ter morto civis sob tortura. As suas afirmações têm provocado polémica e deixado muita gente chocada, como aquela em que disse “vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre”. Além de racista, tem-se também mostrado contra os direitos das mulheres, rejeitando que estas recebam licença de maternidade.
O rol de afirmações estapafúrdias não tem limite, o que só aumenta a estranheza de Zé Povinho ao vê-lo alcandorar-se como candidato melhor colocado à Presidência do Brasil.