Zé Povinho regozija-se com o regresso da praça da fruta à Praça da República. Sabe que a decisão não foi consensual, havendo entre os vendedores alguns (demais talvez) que preferissem ficar onde estavam. Argumentavam que ali tinham mais condições, qualidade de vida e facilidade, tanto na montagem das suas vendas como no estacionamento das viaturas próprias e dos seus clientes.
A discussão sobre o mercado fechado nas Caldas da Rainha perpassa muitas das páginas da Gazeta durante os últimos 95 anos, tendo havido a sensatez de nunca se ter caminhado nesse sentido. Se tal tivesse acontecido, provavelmente já hoje não existia o mercado das Caldas, como ex-libris e grande atracção e animador do comércio da cidade e da sua vida urbana.
Isto não significa que não se possam reivindicar melhores condições de funcionamento, a resolução do problema do estacionamento dos vendedores e clientes, a forma de montagem das bancas, organização do espaço, etc. Isto podia e já devia ter sido feito, aproveitando os financiamentos provenientes da Europa, podendo ter sido construído um silo no subsolo que serviriam para estacionamento e para funcionar o mercado em dias mais inclementes. Isto não é novidade e há países que seguiram por esta via.
Mas mesmo assim, Zé Povinho felicita a autarquia por ter finalmente decidido regressar ao sítio original, onde há mais de uma centena de anos o mercado se faz e que é conhecido em todo o país e mesmo por muitos estrangeiros, como uma marca nacional. Sabe a pouco porque não se percebe se se querem finalmente fazer alterações que possam melhorar a qualidade de vida dos vendedores e a acessibilidade dos compradores.
Se não fosse verdade, parecia mentira, pois a realidade parece estar mais longe do que era esperado no Líbano. Ainda por cima, para lhe dar uns traços de maior incredulidade, parte do caso passa por uma empresa portuguesa que tem uma fábrica em Moçambique de explosivos. Há sete anos que havia adquirido 2,7 mil toneladas de nitrato de amónio e no transporte para aquela ex-colónia o barco que transportava esse material foi interceptado em Beirute e a carga descarregada e guardada para “memória futura” pelos vistos. O barco viria a afundar-se e nunca mais ninguém reivindicou tal carga e os responsáveis pelos armazéns do porto, burocraticamente chamavam a atenção das autoridades para o que se passava e o perigo que existia. Uma imprevidente solda de uma porta para evitar roubos de material pirotécnico também existente naquele porto, provocou a explosão mais terrível que é possível imaginar em tempo de paz, destruindo uma parte da cidade e matando cerca de duas centenas de pessoas e ferindo alguns milhares.
Posto isto, perante o espanto mundial e depois de violentas manifestações da população, o primeiro-ministro Hassan Diab demitiu-se em protesto com “corrupção endémica” que grassa o país que ele governa. Vários ministros do governo também se haviam demitido antes. “Declaro hoje a renúncia deste governo”, afirmou invocando ainda “que Deus proteja o Líbano”, e que tudo isto tinha como objectivo juntar-se ao povo para “ poder travar a luta pela mudança ao lado destes”.
Zé Povinho não acredita e só escolhe Hassan Diab, como imagem de toda a incompetência, imprevidência, incongruência que grassa em muitos governos e outros responsáveis deste mundo no séc. XXI, que se esperava ter hoje mais sensatez e razoabilidade dado os meios tecnológicos e do conhecimento que dispõem.