Diz o povo que santos ao pé da porta não fazem milagres e este aforismo aplica-se como uma luva ao Eng. António Guterres, nos últimos tempos envolto numa película de quase unanimismo nacional e que obteve na passada semana a nomeação para Secretário Geral das Nações Unidas.
O Eng. Guterres viu bem e viu longe, quando, depois de muita insistência, recusou a oferta da esquerda doméstica para ser candidato a Presidente da República, deixando o campo aberto ao Prof. Marcelo Rebelo de Sousa.
Afinal, a sua reiterada recusa deu lugar a uma candidatura à ONU sem mácula interna, a não ser de alguns poucos eternos inimigos, certamente por razões de oportunismo para apoiar a candidata alternativa de última hora.
Quem se der ao trabalho de revisitar as páginas dos jornais ou as gravações dos telejornais de quando o Eng. António Guterres foi primeiro ministro, especialmente da fase final, verá um retinto cinismo de muitos dos apoiantes de hoje, mostrando que o país não merecia o homem do diálogo, da esmerada inteligência e da grande humildade, razões agora de sobra para dirigir a ONU.
Zé Povinho não tem dúvidas que António Guterres, se é um homem muito inteligente, também é demasiadamente ponderado, qualidades que não colhem bem no cenário nacional, onde outras “qualidades” são esperadas e valorizadas. Depois, durante o seu mandato de primeiro-ministro, ele era tão desconsiderado na paróquia como incensado internacionalmente pelas figuras da política e não só.
As contrariedades nacionais e as contradições em que se envolveu, obrigou-o a atitudes e decisões incoerentes e facilmente contestadas pela maiorias ululantes, o que o levou a temer o pântano.
Depois de dois mandatos como Alto Comissariado para os Refugiados, fez um percurso sem erros a caminho do lugar mais importante a nível da regulação global, o que lhe deu sucessivas votações de apoio e incentivo para manter-se naquela corrida.
Zé Povinho está seguro que o Eng. Guterres vai fazer um mandato impecável, mostrando a sua sensibilidade para os desafios que marcam o difícil arranque da Humanidade neste Século e Milénio. Não vai salvar o mundo, mas vai trazer-lhe alguns momentos mais felizes e que contentarão milhões de seres humanos.
Os media internacionais e nacionais revelaram nos últimos meses o afã da senhora Merkel e dos seus apaniguados na Comissão Europeia e nalguns países europeus, para apresentar à última da hora uma candidatura que ensombrasse a do Eng. António Guterres.
Depois das Nações Unidas terem delineado que o processo da eleição do próximo Secretário Geral fosse o mais transparente e aberto possível, podendo qualquer pessoa do mundo perceber as razões da escolha, e face aos resultados das provas apontarem para um candidato que não era mulher nem da Europa de Leste, eis uma jogada de última hora.
Tentar tirar uma candidata mulher de um país de Leste, uma búlgara que também lidera a conceituada agencia da UNESCO, que não tinha mostrada grande valia, para apresentar em troca e sobre a meta uma candidata do mesmo país, que era vice-presidente da Comissão Europeia, não foi bonito.
Nem se reconhece na Dona Merkhel tanto amadorismo e improviso numa proposta de candidatura que deixa a descoberto uma estratégia atabalhoada, que ainda por cima se baseia num logro de uma aceitação dos russos em relação à nova candidata.
No final os membros do Conselho de Segurança, incluindo os permanentes (de que a Alemanha está afastada pela sua derrota na 2ª Grande Guerra), votaram unanimemente no candidato português e reprovaram a mais de 50% a nova candidata búlgara – a senhora Kristalina Georgieva.
Se Zé Povinho fosse verdadeiramente mau e vingativo, juntava à lista de perdedores encimada pela Sra. Merkel, alguns acompanhantes nacionais e europeus, mas faz como Guterres: perdoa e segue em frente. A líder alemã não esperava este final, mas foi bem feita e fica-lhe para recordar.