
Quarenta e quatro anos depois do 16 de Março de 1974 e no momento em que o movimento do RI5 é homenageado com uma marca que vai perdurar no tempo, Zé Povinho também quer homenagear esses homens que, independentemente da sintonia no momento com os militares do resto do país, avançaram destemidamente pela conquista de um objectivo utópico.
Conhecendo a história hoje, essa utopia transformou-se em 25 de Abril seguinte em realidade e na realidade feliz para todos os portugueses sabem, e que serviu para se irmanaram nesse movimento libertador de um país subjugado a quase meio século de ditadura.
Ainda há dias, quando se ouviu o coronel Otelo Saraiva de Carvalho e o major general Matos Coelho na sessão comemorativa do 16 de Março, os mais jovens assistentes estavam surpreendidos e encantados a ouvir a descrição dos acontecimentos, como uma odisseia ou aventura romanesca, de um conjunto de poucas centenas de homens que partiram numa dezena de viaturas com espingardas na mão, para derrubar um regime mesmo decrépito, mas que contava com armamento poderoso nas suas unidades da capital.
Que iria na cabeça daqueles homens, dos oficiais, aos sargentes e cabos, como dos soldados, para se terem decidido pelo desconhecido daquela aventura que a falhar lhes traria trágicas consequências?
Certamente que viam ao fundo do túnel uma ténue luz de esperança na libertação de um povo subjugado e manietado por uma guerra colonial que já levava 13 anos e que trouxera ao país bastantes mortes e estropiados, como muitos jovens que eram levados a abandonar o país para não fazer a guerra, para além de todas as consequências no desperdício de recursos com aquela obrigação inconsequente.
Zé Povinho está feliz com esta distinção do 16 de Março no monumento do escultor Santa Bárbara em cimento negro, figurativo dos muros da repressão, de onde emerge um canhão onde se liberta o fogo de artifício da liberdade com a nova democracia. Através daquele monumento também homenageia os homens do RI5, oficiais, sargentes e praças, que tomaram parte no significativo movimento, mesmo que tenha falhado num primeiro momento.

A directora Regional da Cultura do Centro, Dra. Celeste Amaro, mostrou-se claramente satisfeita, no início deste mês, por ter sido convidada para assistir à programação de uma companhia que não “incomodava a administração central a pedir-lhe dinheiro”. Zé Povinho não só lamenta que uma responsável da cultura venha a público com tais declarações, como aproveita para questionar Celeste Amaro para que serve um organismo como a DRCC se não é para ser incomodado.
Mais ainda: incomodar é uma palavra de conotação expressamente negativa. Significa o mesmo que importunar ou aborrecer. Como podem então os agentes artísticos e culturais molestar a Administração Central quando os apoios que recebem se destinam a fazer cultura em Portugal para todos? Sem os subsídios públicos, a maioria dos palcos estaria vazia porque, não só seria economicamente inviável produzir muitos espectáculos e outras formas artísticas, mas também porque os preços das bilheteiras subiriam de tal forma que a cultura deixaria de ser acessível ao comum dos cidadãos.
A cultura não deve estar nenhum degrau abaixo em relação à saúde ou à educação, devendo ser, sim, mais um pilar da sociedade que merece ser apoiado.
Após a chuva de críticas que caíram sobre a Dra. Celeste Amaro, esta tentou corrigir-se, afirmando que só queria destacar o trabalho de companhias de teatro que resistem com outros apoios que não os da DRCC. Zé Povinho aconselha-a a medir bem as suas palavras quando vem falar a público. Isto porque teria sido possível à responsável elogiar o trabalho da companhia Leirena sem com isso chamar de “pedintes” outros projectos artísticos que recorrem aos subsídios do Estado, previstos pelo próprio governo.