O tema desta semana é sobre a passagem do Centro Hospitalar Oeste Norte (CHON) para Centro Hospitalar do Oeste (CHO).
Como o CHON passou para CHO
Logo no início do ano, dia 2 de Janeiro, Gazeta das Caldas, informava que o director clínico do Centro Hospitalar Oeste Norte (CHON), Nuno Santa Clara, pedia a demissão do cargo, por razões que não quis explicar a este jornal.
Foi substituído por Rosa Amorim, que até à data tinha sido directora do serviço de Medicina Interna.
Com a reorganização das unidades hospitalares que estava a ser feita pelo governo ficou-se a saber que o Centro Hospitalar do Oeste Norte (CHON), que integrava os hospitais de Alcobaça, Caldas da Rainha e Peniche, se viria a fundir com o Centro Hospitalar de Torres Vedras, criando-se o Centro Hospitalar do Oeste (CHO). Também nesta altura, a 3 de Fevereiro, já se discutia se a sede do CHO ficaria nas Caldas da Rainha ou em Torres Vedras.
Com as notícias vindas a público sobre a possibilidade de transferência de vários serviços e do centro de decisão das Caldas da Rainha para Torres Vedras e a perda de vários serviços e especialidades, a população caldense começa a dar sinais de descontentamento.
Os partidos políticos foram os primeiros a dar voz, dizendo que “é um perfeito disparate” (PS) a possibilidade de se perderem especialidades como cirurgia geral, obstetrícia, pediatria e ortopedia.
O PCP tem idêntica postura, afirmando que “isto é absolutamente vergonhoso e altamente prejudicial para os interesses dos cidadãos”.
Para o presidente da câmara, Fernando Costa, a fusão do CHON com o de Torres Vedras “pode evitar que algumas valências fechem e vai criar novas valências que agora nem um nem outro têm”.
Ainda durante este mês de Fevereiro, Fernando Costa estava convicto que o CHO ficaria sediado nas Caldas da Rainha e que iria manter as suas principais especialidades médicas. Esta garantia terá sido transmitida ao autarca pelo Presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, Luís Cunha Ribeiro. “Pelo menos foi-me transmitido que a minha proposta era razoável e que eu podia ficar descansado quanto a esse assunto, por isso para mim é uma garantia”, afirmou o edil caldense.
Não perdendo tempo, os partidos políticos de esquerda – CDU, PS e BE – juntaram-se e organizaram um cordão humano “Abraço ao Hospital” em torno do hospital, convidando a população a aderir a esta iniciativa que contou com cerca de 2000 pessoas.
Esta acção surgiu de uma reunião entre os partidos políticos BE, CDU e PS, a 15 de Fevereiro, onde foram discutidas as alterações da reorganização hospitalar que estavam a ser estudas para esta região oestina pela Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo.
“Não há razão para qualquer alarmismo social”,
diz o presidente da ARS
Mais uma vez, o presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, Luís Cunha Ribeiro, vem admitir que o centro de decisão do futuro Centro Hospitalar do Oeste poderá ficar sediado nas Caldas da Rainha, afirmação feita aquando do lançamento da primeira pedra do centro de saúde do Vimeiro (Alcobaça). Acrescentou ainda que “não há razão para qualquer alarmismo social”. O que estava em causa era a perda de valências e o facto de os doentes terem que percorrer vários quilómetros para poderem ser tratados.
Também foi feita uma petição pública denominada “Juntos pelo nosso Hospital”, dirigida à presidente da Assembleia da República e que pedia a manutenção da urgência médico-cirúrgica nas Caldas da Rainha e das valências já existentes. No documento, os subscritores reclamavam ainda a manutenção das especialidades que se articulam com a actividade termal.
A 21 de Fevereiro, numa assembleia municipal bastante participada, com mais de 300 pessoas, realizada no CCC, foi discutida a possível fusão do CHON com o Centro Hospitalar de Torres Vedras. A reunião ficou marcada pelas intervenções do público, que defendeu a importância da saúde para a cidade e a manutenção de todas as especialidades existentes actualmente no hospital.
Em discussão esteve também a petição lançada dias antes pelos partidos de esquerda, e que contava já com mais de duas mil assinaturas. Convertido em moção, pelo PS, o documento foi analisado pela segunda comissão da AM de modo a chegarem a um consenso.
A discussão prolongou-se durante mais de quatro horas e, sem esgotar os pedidos de intervenção dos partidos, teria continuidade no dia 6 de Março.
Aprovada a moção que defende a manutenção
dos CHON e Torres Vedras
Pode ler-se, na edição de 16 de Março, que a Assembleia Municipal das Caldas da Rainha aprovou, no dia 6 de Março, uma moção em que se defende a manutenção dos centros hospitalares Oeste Norte (Caldas da Rainha) e Sul (Torres Vedras), com os serviços existentes em cada hospital e a obtenção de redução de custos com uma melhor racionalização de serviços. O documento foi apoiado por todos os partidos políticos, com excepção do Bloco de Esquerda que se absteve na votação.
Nesta Assembleia foi ainda deliberado convocar uma reunião com médicos, antigos administradores hospitalares e outras individualidades, no âmbito da segunda comissão da AM, para que dessem os seus contributos para a elaboração de um documento que sustente as exigências da autarquia nas negociações com o Ministério da Saúde.
A moção, que teve apenas a abstenção do BE, refere também que, caso os centros hospitalares tenham que ser unificados, a administração hospitalar deve ficar sediada nas Caldas e que as valências fundamentais “têm que permanecer nos hospitais”. A cirurgia geral programada deve manter-se no hospital caldense e devem ser reactivadas especialidades antes suspensas e criadas outras que mais se justifiquem.
No que respeita ao Hospital Termal, a moção refere que este deve manter as suas valências e inserido no Serviço Nacional de Saúde. “A haver alteração nesta área, o Hospital Termal, integrando as águas termais, património, parque e mata, só poderá ser decidido numa solução encontrada com o município das Caldas”, adianta o documento.
A moção, que mostra a primeira posição conjunta da maioria PSD e dos partidos da oposição em relação à reorganização dos cuidados hospitalares da região Oeste, defende ainda que logo que os recursos financeiros do país o permitam, deve ser equacionada a construção de uma nova unidade hospitalar, ou o alargamento do hospital das Caldas.
No dia a seguir à aprovação desta moção, foi entregue na Assembleia da República, a petição “Juntos pelo nosso Hospital”, pela comitiva composta por António Curado, Susana Caetano, Maria Júlia de Carvalho e Teresa Mendes, membros do Conselho da Cidade e Jorge Sobral (PS) e Vítor Fernandes (PCP).
Este documento recolheu mais de 14 mil assinaturas e defendia que o conselho de administração do futuro Centro Hospitalar do Oeste se mantivesse nas Caldas da Rainha e a manutenção das valências termais, uma vez que estas já têm grande tradição nesta cidade.
Comissão de Utentes dos Hospitais das Caldas da Rainha
A 30 de Março, foi constituída a Comissão de Utentes dos Hospitais das Caldas da Rainha, que agrega utentes, profissionais de saúde e representantes da Associação Comercial, da Liga dos Amigos do CHON e do Conselho da Cidade.
Caldas da Rainha segue os exemplos dos outros concelhos cujas unidades hospitalares estão envolvidas no processo de reorganização que está a ser estudado pela ARS de Lisboa e Vale do Tejo. Além do hospital distrital e do Hospital Termal, a comissão deverá defender os interesses de todos os serviços de saúde locais, bem como a construção de um hospital novo que sirva a região.
Na edição de 8 de Junho, era anunciado um estudo feito pela Entidade Reguladora de Saúde sobre as especialidades de medicina interna, cirurgia geral, neurologia, obstetrícia, pediatria e infecciologia, propondo que os dois serviços (obstetrícia e cirurgia geral) se mantenham em funcionamento nas Caldas da Rainha, dado que a reorganização hospitalar ponderada pela Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo anunciava o encerramento de um serviço de obstetrícia e outro de cirurgia geral nos centros hospitalares Oeste Norte (CHON) e de Torres Vedras (que se deveriam fundir no Centro Hospitalar do Oeste).
A Plataforma Oestina da Comissão de Utentes de Saúde (formada pelas comissões de Caldas da Rainha, Peniche e Torres Vedras) exige ser recebidas em audiência pelo Ministro da Saúde, Paulo Macedo, e que este venha até ao local para ter conhecimento do que se passa nos hospitais da região.
Este pedido de audiência foi feito quando estas três comissões de utentes deram a conhecer à tutela o manifesto contra reorganização hospitalar da região que está que está a ser feita. Contudo, estas comissões nunca foram ouvidas pela tutela.
A marcha oestina que decorreu a 7 de Julho, juntou quatro mil pessoas nas cidades das Caldas da Rainha, Peniche e Torres Vedras. Nesta “Marcha pelos Hospitais” estavam presentes representantes de todas as forças políticas caldenses e também de Óbidos.
A marcha partiu da Praça 5 de Outubro e desceu a Rua Heróis da Grande Guerra, para dar um abraço à Rainha. Seguiu depois pela Rua de Camões, entrou no Parque e atravessou o Céu de Vidro, antes de subir pelo largo D. Manuel I e continuar até ao cimo da praça. Numa viragem improvisada, os participantes desceram à Praça da Fruta antes de terminarem frente ao hospital.
O número de participantes excedeu as expectativas da Comissão de Utentes “Juntos Pelo Nosso Hospital” das Caldas da Rainha. António Curado reconhece que tinha algum receio da mobilização porque as pessoas precisam de palavras-chave e razões objectivas e a comissão apenas lhes pode explicar que se trata de uma reorganização dos serviços. Por outro lado, diz que se tivessem insistido mais na possibilidade de encerramento do Hospital Termal, estariam presentes mais pessoas.
Ainda assim, António Curado explicou que a reorganização proposta pela tutela pode ser comprometedora dos cuidados de saúde para a população, com implicações em toda a região.
O responsável alertou ainda que, independentemente das fusões que possam existir, o prejuízo será sempre para todos. “O encerramento de uma unidade nos outros lados não é o ganho das Caldas da Rainha”, defendeu, acrescentando que cada uma delas perderá alguma coisa e a pressão que existirá em termos de cuidados hospitalares “fará diminuir a sua qualidade”.
Criado o CHO mas a luta continua!
Em 14 de Setembro, Gazeta das Caldas anunciava que tinha sido publicada em Diário da República a portaria do Ministério da Saúde que cria o Centro Hospitalar do Oeste, que agrega seis hospitais: o hospital distrital e o hospital termal das Caldas da Rainha, as unidades de Alcobaça (mais tarde surgiria a decisão de ligar este hospital com o de Leiria), de Peniche, o hospital distrital de Torres Vedras e o Hospital Dr. José Maria Antunes Júnior (antigo Sanatório do Barro).
À Gazeta das Caldas, a ARSLVT esclarece que a reorganização entra em vigor “no primeiro dia do mês a seguir à data da publicação do Despacho” e certo é que a sede do Centro Hospitalar vai ficar nas Caldas da Rainha. Quanto à reorganização hospitalar ainda não se sabe o que vai acontecer.
Para o presidente da câmara das Caldas da Rainha, Fernando Costa, seria melhor que o Centro Hospitalar Oeste Norte e o Centro Hospitalar de Torres Vedras tivessem ficado separados. Contudo, “perante uma solução que eu acho má, penso que o Centro Hospitalar das Caldas fica menos mal”, diz o autarca, convicto de que nem a maternidade nem as urgências médico-cirúrgicas vão deixar de funcionar no hospital caldense. A mesma certeza já não tem quanto à Ortopedia, “porque não cabe tudo num hospital”.
As comissões de utentes lamentam o facto de nunca terem sido ouvidas pelo ministro da saúde e garantem que a luta que travam já há uns meses não vai parar com a publicação do despacho de criação do CHO.
A Comissão “Juntos pelo Nosso Hospital”, das Caldas da Rainha, diz estar “do lado de quem exige que a actual reforma de saúde em curso na nossa região seja feita com perícia técnica e em cooperação com todos os que nela estão envolvidos, nomeadamente, e em primeiro lugar, os seus utentes”. Em comunicado, a comissão lembra a movimentação popular já realizada contra a perda de valências hospitalares e diz conservar “a mesma disposição e o mesmíssimo propósito de clarificação informativa e de mobilização dos nossos concidadãos”.
Ministério da Saúde nomeia Carlos Sá para a administração do CHO
No dia 15 de Novembro, o Ministério da Saúde nomeou Carlos Sá para presidir a administração do recém-criado Centro Hospitalar do Oeste (CHO), cargo que ocupava já no Centro Hospitalar Oeste Norte. A administração vai ser ainda composta por Miguel Carpinteiro, Pedro Reis,
Isabel Carvalho (directora clínica, cargo exercia no Centro Hospitalar de Torres Vedras e Cecília Elias (enfermeira-directora).
O que ainda não se sabe é que mudanças serão levadas a cabo em cada uma das unidades hospitalares que integram o CHO, uma decisão que deverá ser tomada pelo conselho de administração até Março.
A ARSLVT propunha a repartição de valências entre os vários hospitais, com centralização e fusão dos serviços administrativos e de apoio às áreas clínicas, de especialidades médicas e cirúrgicas e a racionalização dos custos.
A proposta pretende concentrar serviços, recorrendo a “medidas de reorganização hospitalar que permitam uma maior rentabilidade e eficiência na prestação de cuidados de saúde à população e uma maior sustentabilidade financeira do Serviço Nacional de Saúde”. Com esta fusão, prevê-se uma redução da despesa pública de mais de 20 milhões de euros.
Susana Gonçalves
susanagoncalves@gazetadascaldas.pt