Todos desejamos o melhor para os nossos filhos: que tenham saúde, que sejam felizes e que sejam crianças educadas, respeitadoras do outro e de si próprias. Que se safem na vida, que sejam assertivas, que saibam procurar a sua felicidade, que se defendam.
Quando os educamos usamos as melhores estratégias que temos à mão: as que aprendemos com quem nos educou e também aquelas que têm mais a ver connosco, com o momento. Fazemos o nosso melhor. E sim, castigar e bater funcionam – como já tantas vezes disse aqui – no imediato. E muito provavelmente é isso que procuramos: que funcione. No imediato. Aliás, a maior parte de nós foi castigado e apanhou uma palmada ou outra dos pais e não veio mal ao mundo. Muitos de nós dirão que os pais até estavam correctos em castigar e bater porque a mensagem passou.
Depois parece existir o outro lado da questão – o lado mais permissivo, o lado em que tudo se permite, seja por falta de firmeza, por cansaço ou sentimento de culpa – e quando tudo se permite, então mais cedo ou mais tarde as coisas vão dar para o torto. Uma educação sem limites é uma educação em que a criança se sente perdida, não se consegue gerir e percebe que os pais, sendo incapazes de lhe colocarem limites [que na verdade são determinantes para que ela cresça em segurança emocional e física] então também são incapazes de a defenderem, o que torna a vida profundamente angustiante. E quando aprende a viver sem limites e a fazer o que deseja [não porque ela quer mas sim porque foi assim educada] então irá ter muita dificuldade em entender que as regras são absolutamente necessárias ao bem estar e à segurança – não só as dela como às da sociedade em geral.
Simultaneamente, parece haver algum receio na nossa capacidade em educar sem ser à força.
E quando escrevo estas palavras tenho a certeza que haverá leitores que se perguntarão se tento convencer os meus filhos com palavras mansinhas, com muitos pedidos ou com estratégias de convencimento. Se negoceio muito e se cedo outras tantas vezes. No entanto esta não é a questão.
Educar não são apenas ordens que damos aos miúdos que têm de ser inequivocamente aceites.
Educar pressupõe estabelecer uma relação com a criança que, ao sentir-se ligada a nós terá mais vontade de cooperar.
Educar pressupõe também o uso do bom senso, saber escutar, negociar quando for necessário negociar e estabelecer regras claras [da próxima vez que enunciares uma regra, tenta perceber se ela está totalmente clara para a criança e se ela a percebeu direitinha, por exemplo].
Educar pressupõe saber que o nosso papel é liderar e, como tal, esse papel não pode ser posto em causa – em princípio sabemos que estamos a fazer o certo.
Educar pressupões sermos firmes e gentis também – não precisamos de fazer birras nem precisamos de colocar caras de maus, nem de levantar o tom de voz, nem de ameaçar. Na verdade, se normalmente o fazes, é muito possível que os teus filhos já se tenham habituado e já não te escutem. E sim, é natural depois dizeres que já tentaste tudo mas eles não te escutam… :)
Educar sem castigar nem bater não é impossível – e não faz mal se já o fizeste. Mas quero que saibas que é possível QUANDO tens como foco ensinar o teu filho a escolher e a tomar as melhores decisões e comportamentos que o vão beneficiar, ensinando-o a gerir o que ele sente e o que pode fazer com a frustração de não ter a mochila que tanto deseja. Dá trabalho, claro! E se não estás para ter trabalho então claramente esta filosofia não é para ti. Mas ao começares a ler sobre este assunto vais perceber que aquilo que ganhas é uma relação com os teus filhos com ainda maior significado, com ainda mais valor do que aquela que já tens.
Educar com base na Parentalidade Positiva promove a autonomia da criança e uma auto-estima mais segura e portanto ajuda a criança a pensar pela sua cabeça e, aos poucos, a tomar as melhores decisões para si.
A Educação Positiva não é uma educação para fofinhos nem cutchi cutchi.
Quando se educa com base na Parentalidade Positiva diz-se ‘não’, diz-se ‘chega’, estabelecem-se limites muito claros MAS percebemos que não são precisos gritos, nem caras de maus nem tão pouco ameças. Zangamo-nos com os nossos filhos? Claro que sim! Como também nos zangamos com outras pessoas.
Educar com base na Parentalidade Positiva NÃO anula o conflito, não aniquila as birras mas dá-nos outras formas de gerirmos essas situações sem que elas se tornem desgastantes, frequentes. Mas ‘Eu já lhe disse 4 vezes, já conversei com ele e ele volta sempre à carga’, dizes tu.
Chego à conclusão que muitos de nós temos tanto receio que os nossos filhos não dêem certo, que tenham problemas, no futuro e também no presente, por conta de uma suposta falta de educação, que não sofram o suficiente para saberem o quanto a vida custa que, com vontade de ensinar o que realmente é importante, achamos que é mais seguro irmos pelo uso de estratégias mais autoritárias e que, pelo menos connosco, parecem não ter falhado.
No entanto, quando o foco é a criação de uma relação parental com significado, com base nos valores que são importantes para cada família, então é impressionante ver que a cooperação entre pais e filhos se torna muito mais fácil, fluída e feliz. Naturalmente, e para quem está a ler e a descobrir isto pela primeira vez, o receio pode ser grande. Mas o que eu garanto é que não só é possível como é extraordinariamente gratificante.
E, por ser uma filosofia, a mudança não acontece do dia para a noite. Nem o objectivo é a perfeição e sim a melhoria contínua.
* Especialista em Inteligência Emocional, em Disciplina Positiva, em Coaching e em Formação para o Entusiasmo.