A saúde nas Caldas vista pelos privados

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Mais de uma dezena de oradores debateram o tema na tarde de domingo, no âmbito das tertúlias promovidas pela ACCCRO

Maior rapidez na resposta, melhor atendimento e uma gestão mais eficaz dos negócios. Esta é a forma como a saúde no privado é vista por pequenos e médios empresários caldenses, de vários segmentos

Com as dificuldades crescentes ao nível das respostas de tratamento em saúde, a prevenção tem de ser cada vez mais uma preocupação das pessoas. O alerta foi dado, logo no início da tertúlia, promovida pela ACCCRO, pelo CEO do Balance Company, Pedro Simão, que defende que a saúde deve ser construída de forma integrada.
Portugal está na cauda da Europa em termos de atividade física, com quase metade dos portugueses a fazerem menos de 150 minutos de atividade física por semana. Na opinião de Pedro Simão trata-se de um problema cultural, que urge combater com o incentivo à atividade física em família, mas também com o desporto escolar. A pandemia veio ajudar à máxima “mente sã em corpo são”, com uma maior procura de atividade física orientada, e as Caldas aparece muito bem posicionada nesse ranking. De acordo com o empresário da rede de ginásios, existem na cidade cerca de 5 mil pessoas a praticar atividade física em ginásio. Ainda assim, “há mercado para todos”, garante, realçando que o essencial é perceber qual o seu público e atendê-lo com a melhor qualidade.
Também a Câmara das Caldas está apostada na promoção de formas de vida saudáveis, juntando-se às associações e empresas que existem no mercado, no apoio à população sénior, mas também aos mais novos, com a inclusão, já a partir do próximo ano letivo, de aulas de educação física e adaptação ao meio aquático, no primeiro ciclo.
Também está a ser feito um investimento na saúde mental, com a contratualização de duas psicólogas. Esta maior assistência na área da saúde mental foi também realçada pela psicóloga Sara Malhoa, que regista, com agrado, uma maior frequência em consulta, numa ótica de prevenção. “O SNS não consegue dar resposta à quantidade de pessoas que precisam deste atendimento”, disse, fazendo notar que a marcação de uma consulta de urgência com um psicólogo, num centro de saúde, demora, pelo menos, seis meses.

Proximidade ao cliente
Num debate sobre saúde no privado, os oradores foram unânimes em considerar que há espaço para todos. Marco da Silva Paulo começou a dar consulta num pequeno espaço ao lado do restaurante dos pais. Mais tarde, quando teve de escolher um nome para a empresa, colocou o dele, “que toda a gente conhece”, explica o responsável pela Marco Paulo Bioquântica, para quem o segredo está em “prestar o melhor serviço possível a quem nos procura”. Sandra Correia, empresária da Ergovisão, destacou o cuidado ao cliente, tendo em conta que estes espaços são, muitas das vezes, a porta de entrada para a detecção de patologias e não apenas para “vender óculos”. E, muitas das vezes, as pessoas acabam por procurar o privado justamente pela incapacidade de resposta do SNS, nas consultas de Oftalmologia, ou para a cirurgia de cataratas, por exemplo.
Também presente na tertúlia, que decorreu nos jardins do Museu da Cerâmica, Teresa Dinis, farmacêutica e diretora técnica da Farmácia d’ Aldeia, deu nota do acompanhamento próximo que tem dos seus utentes que, por vezes, permite alertar para problemas. A caldense denunciou ainda a falta de médicos de família e a dificuldade dos pacientes em conseguirem uma consulta, que levou, inclusive, a fazerem uma parceria com a junta de freguesia, durante a pandemia, para conseguirem o receituário.
A pandemia trouxe também a Lumilabo para as Caldas, primeiro com dois espaços para a realização de testes covid e, mais recentemente, com a abertura de um laboratório de análises clínicas. No entanto, e de acordo com a sua diretora técnica, Cristina Gomes, as “expetativas ficaram aquém”, pois não tem havido uma aposta tão grande na prevenção, como seria de esperar. O maior cliente continua a ser o SNS, ainda que atualmente as pessoas que vão às consultas no hospital tenham de lá fazer as análises, numa tentativa de “rentabilizar” os laboratórios hospitalares.
“No privado temos uma ligação mais forte com o cliente”, explicou, acrescentando que, além da resposta ser mais rápida, também lhes prestam o apoio necessário.
A insuficiência de resposta por parte do serviço público de saúde foi também evidenciada por Cassis Clay, CEO e diretor clínico do Grupo Oralplan Clínica Dentária. O responsável falou da necessidade de serem empreendedores e estarem atualizados, sendo que a “evolução do digital está muito mais à mão do setor privado do que do público”. Cassis Clay chamou ainda a atenção para as dificuldades em termos de mão de obra, pelo que apostam na formação dos profissionais que trabalham no grupo.
Em Portugal cerca 50% da população tem segunda cobertura de saúde, sendo que a maioria são seguros privados, seguido de SAMS e subsistemas públicos. Os dados, de 2021, foram apresentados pelo farmacêutico e empresário, Paulo Freire, que mostrou também que o país gasta menos em saúde do que a média da União Europeia. Considera importante a existência de uma unidade privada nas Caldas, mas, sobretudo, de um hospital público. Defendeu um maior investimento na saúde e, sobretudo, para a retenção dos médicos e enfermeiros no país.
Para Francisco Rita, presidente do conselho de administração do Montepio Rainha D. Leonor, o problema na saúde não se resolve com a injeção de dinheiro, mas com organização, destacando a importância da digitalização e informatização dos serviços. “A qualidade dos números é péssima ao nível do SNS”, disse, especificando que não há comunicação dentro dos hospitais.

O exemplo da Dinamarca
Há cerca de 30 anos Francisco Rita fez uma visita de estudo à Dinamarca, que tinha vários hospitais acabados de construir. Há três meses voltou àquele país e verificou que estão a construir novos equipamentos. “Hoje em dia as circulações e toda a orgânica hospitalar é completamente diferente, portanto, é muito mais económico construírem uma unidade nova, devidamente organizada, do que estarem a reconverter unidades antigas”. Isto leva a que vão reduzir para mais de metade os 30 hospitais, mas reestruturaram toda a sua área da saúde, baseados na falta de profissionais para dar suporte às unidades. “Vão centralizar as especialidades necessárias e vão criar mecanismos de transporte eficazes, baseados em helicópteros e ambulâncias, que levam os doentes para os hospitais necessários”. Um modelo que Francisco Rita vê com bons olhos, pois entende que mais hospitais não é sinónimo de melhor saúde.
O presidente da ACCCRO, Luís Gomes, alertou para o problema de gestão do setor público, incentivando o Estado a olhar para o exemplo dos privados. ■