O maestro Adelino Mota é um dos mais prolixos e dinâmicos músicos da região Oeste, tendo ao longo dos anos sido responsável por variadas e muito interessantes iniciativas, dando ele próprio o corpo ao manifesto nessas realizações.
Nas Caldas já passou por várias associações e instituições, estando desde há alguns anos a dirigir a Banda Comércio e Indústria e alguns dos seus agrupamentos musicais, mostrando com toda a modéstia o prazer e motivação que tem por animar musicalmente aquele projecto caldense, que já soma várias décadas de actividade.
Mas Adelino da Mota não esquece o seu festival anual de Jazz, uma autêntica festa daquele tipo de música, realizando com a Biblioteca de Instrução e Recreio de Valado dos Frades, um evento que costuma juntar alguns dos nomes de maior craveira nacional daquele género musical.
Apesar da crise e com um orçamento escasso, consegue juntar no Valado de Frades, nomes como Mário Laginha, Bernardo Moreira, Alexandre Frazão, bem como a formação Tahina Rahary Malagasy Roots, Manuel Beleza Terceto e o concerto “Para Além de Mim…”. A estes nomes junta o Combo da Academia Municipal das Artes da Nazaré e o Combo do Sítio dos Sons de Coimbra, dedicado ao público mais jovem.
Adelino Mota é um exemplo de perseverança e de carolice, que faz bem a qualquer terra e que só é pena não existirem no nosso país em maior número. Se assim fosse, a vida cultural e artística era muito mais dinâmica e envolvia camadas mais vastas da população.
O principal accionista dos Hipermercados Pingo Doce e do grupo Jerónimo Martins, comendador Alexandre Soares dos Santos, tem-se notabilizado nos últimos anos pelas posições moralistas que tem defendido em público em relação à vida política nacional.
Também se tem arvorado num benfeitor das causas sociais e culturais, ao ter criado a Fundação Francisco Manuel dos Santos para a promoção de estudos sobre a realidade portuguesa, em particular, a educação e a justiça.
Ora no passado dia 1º de Maio, dia internacionalmente dedicado ao Trabalhador, para boicotar o tradicional feriado, o seu grupo económico decidiu-se pela abertura dos seus hipermercados, oferecendo um desconto de 50% aos clientes que adquirissem produtos acima de 100 euros.
Mais sensíveis à barriga e às necessidades mais imediatas do que às convicções de classe ou sociais, milhares de portugueses bateram-se em todo o país para beneficiarem desta “oferta” do “solidário” grupo económico, que há meses havia tomado outra decisão muito “patriótica” ao transferir a sede social do grupo accionista para a Holanda (onde paga menos impostos).
Zé Povinho acha que a atitude de uma das principais fortunas do país, ao oferecer ao povo esta dádiva, parece mais esmolar que estimular os princípios da responsabilidade social de que aquele grupo se arvora.
O comendador Alexandre Soares dos Santos, como principal responsável pelo Grupo Pingo Doce, parece brincar com as necessidades mais básicas de um povo que sofre no dia-a-dia as inclemências da actual crise económica. E isso não parece bonito, apesar do benefício que muita gente “gozou” nesse dia 1º de Maio.