Administrador do CHON defende maior utilização da água termal nos tratamentos clínicos hospitalares

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Oradores e especialistas ligados à saúde e termalismo debateram o futuro desta actividade nas Caldas

A integração da componente clínica e termal para melhorar o tratamento dos doentes foi uma das ideias defendidas pelo presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Oeste Norte, Carlos Sá, no debate sobre o estudo do termalismo, promovido pelo Conselho da Cidade, no dia 25 de Novembro. O administrador diz que o uso das águas termais poderá levar a uma redução dos dias de internamento ou de redução do consumo de medicamentos por parte dos doentes.

 

Relativamente ao futuro do termalismo caldense os oradores foram unânimes em defender que só no seio de uma parceria entre o Estado, a Câmara e sociedade civil se poderá encontrar uma solução.

Todos os intervenientes reconhecem que nesta conjuntura de crise do imobiliário será difícil encontrar um promotor privado disposto a recuperar os Pavilhões do Parque e construir a zona residencial que o estudo prevê.


“Se é verdade que o Hospital Termal esteve na génese do distrital, hoje é o contrário porque está integrado no Centro Hospitalar e é parte dele”, afirmou o presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Oeste Norte (CHON), Carlos Sá.

De acordo com o responsável, actualmente funcionam nas instalações do Hospital Termal os serviços de Ortopedia, Psiquiatria e Medicina Física e Reabilitação. “Autonomizando o Hospital Termal para onde iriam estes serviços?”, questionou Carlos Sá, que defende a possibilidade de associação do tratamento clínico à vertente termal e lúdica.

“Aqui temos um local onde podemos desenvolver as duas componentes, com benefícios para o utente e Serviço Nacional de Saúde”, disse o responsável, que acredita que possa haver uma redução dos dias de internamento se for feito um tratamento conjunto ou de redução do consumo de medicamentos nesses doentes.

Esta integração da componente clínica e termal permite também eliminar a sazonalidade que actualmente se verifica na procura das termas.

O CHON está também a apostar nas energias renováveis, nomeadamente na geotermia (energia obtida a partir do calor proveniente da Terra), contando começar a aproveitá-la já no final do próximo ano.

Relativamente à recuperação dos Pavilhões do Parque, Carlos Sá defendeu que ou existem privados com capacidade financeira para investir ou, no contexto actual, será muito difícil arranjar alguém com dinheiro para um investimento desse tipo. “Há um problema financeiro muito grande no CHON que nos impede de recuperar seja o que for”, disse.

Carlos Sá optou por não se referir ao estudo em concreto, tendo em conta que não se encontrava presente ninguém da equipa que o elaborou. Sérgio Palma de Brito, coordenador do estudo e a sua equipa foram convidados pelo Conselho da Cidade, mas não estiveram presentes.

Na opinião de Mário Gonçalves, ex-administrador do Centro Hospitalar das Caldas da Rainha, o estudo cumpre os seus objectivos, ao enunciar os rumos para o termalismo caldense. Em linha de conta com o estudo, considera que não é vital a continuidade da integração do Hospital Termal no CHON, mas adverte que caso a sua gestão se autonomize, é necessário encontrar as soluções mais adequadas às novas circunstâncias, nomeadamente ao nível da regulamentação e considerando a sua condição de instituição pública e especificidade da sua própria actividade.

Relativamente à edificação dos 120 apartamentos – que o estudo prevê como indispensáveis para a viabilização económico-financeira do Projecto Integrado -, Mário Gonçalves alertou que não será fácil encontrar um parceiro privado “dada a dificuldade em justificar a rentabilidade do investimento”.

A imposição do estudo de que a primeira edificação é a reutilização dos Pavilhões do Parque e da Casa da Cultura, terá quer ser, segundo o orador, “muito bem fundamentada”, de modo a persuadir o promotor de que a reabilitação do edificado e a sua exploração futura, justificam tão vultoso investimento, provavelmente superior ao necessário para a edificação nova.

Para os Pavilhões do Parque, Mário Gonçalves defende a construção de estabelecimento hoteleiro termal, com o objectivo de promover a qualificação e aumento da frequência da estância termal.

“O hotel termal, numa perspectiva de sustentabilidade e de competitividade em mercado aberto, através da inovação e da melhoria dos seus serviços, necessita do pleno uso dos espaços hospitalares” , disse, defendendo a complementaridade, no domínio do apoio clínico e terapêutico, entre o hospital e o hotel termal.

Mário Gonçalves deixou ainda um apelo para que “não se cometam os mesmos erros do passado e que a autarquia sinta como seu este projecto”.

 “O que é bom não é original e o que é original não é bom”

António Eloy, especialista em ambiente e vereador suplente na Câmara de Lisboa, foi o orador mais crítico do estudo, que considera ser, em grande parte “copy paste de outros e feito por pessoas que parece que não vieram cá [às Caldas]”.

O ambientalista disse mesmo ter muitas hesitações em ir à reunião falar sobre um relatório em que “o que é bom não é original e o que é original não é bom”, destacando que este documento não contribui com nada de substancialmente novo.

O orador gostava de ter conhecimento do caderno de encargos que motivou o “montante simpático” de 75 mil euros que custou o estudo e disse tratar-se de uma encomenda. Destacou que não são abordadas as questões de novos furos ou as potencialidades das águas termais, nomeadamente o seu aproveitamento geotérmico.

Relativamente aos pavilhões do Parque denunciou o risco que estes apresentam e defendeu que a manutenção da sua estrutura não se traduz num investimento muito grande. A proposta de transferência da gestão do Parque e Mata para a Câmara das Caldas deixa António Eloy apreensivo, tendo em conta os “apetites urbanísticos vorazes”, da autarquia.

O orador defendeu um novo termalismo, sustentável, que assente no usufruto do espaço, sendo o Parque e a Mata fundamentais nessa lógica.

“Este relatório deixou-me muito desiludido. Espero que tenha o fim que ele próprio anuncia [ficar numa gaveta]”, disse, destacando apenas como positivo o facto de relançar a discussão do termalismo nas Caldas da Rainha.

O relatório do ISCTE impressionou pela positiva o ex-administrador termal e especialista nesta área, João Almeida Dias, que o sentiu “asséptico e relativamente distanciado”.

Na sua opinião o documento acentua que a solução para o problema do termalismo nas Caldas reside na parceria entre Estado, município e privados e aponta caminhos.

Também presente na reunião, a chefe de serviço do hospital, Conceição Camacho, chamou a atenção para os benefícios das águas termais, que são pouco utilizadas pelos caldenses. A responsável salientou ainda que não vê grande mobilidade por parte da sociedade para a resolução deste problema. “O Hospital Termal tem vagas para tratamentos termais, não tem é para a reabilitação”, explicou.

O consultor Luís Brandão Rodrigues encontrou falhas no estudo e disse não compreender como, neste momento, pode ser baseado na venda de apartamentos, quando existem “37% de casas vazias”. Defendeu a necessidade de se juntarem esforços para se encontrarem soluções.

Apesar de não estar presente, por estar a participar na Conferência Internacional de Turismo, na Maia, o arquitecto e ex-vereador caldense, Jorge Mangorrinha não quis deixar de dar o seu contributo.

Num texto escrito, Jorge Mangorrinha dá nota que discorda de alguns pontos de vista e propostas do estudo, mas considera que o termo Projecto Integrado vem ao encontro do que tem defendido.

O arquitecto concorda com a necessidade de procurar uma proposta criativa e inovadora para a conservação e reutilização dos Pavilhões do Parque, mas destaca que a urgência passa pela “conservação elevadamente competente do edifício”.

Considera “absurdo” que a mata passe a ser gerida por uma entidade estranha à gestão directa das termas, questionando como “compatibilizar e garantir os níveis adequados de gestão dos furos de água mineral natural existentes, bem como a manutenção das redes de adução”.

Jorge Mangorrinha defende a reformatação do património afecto ao CHON num Parque de Saúde, reforçando o papel ambiental, pedagógico e lúdico destes espaços verdes.