O Festival do Vinho e Feira da Pera Rocha realiza-se no Bombarral com os produtores a preparem-se para as respetivas colheitas
No dia em que abrem as portas de mais uma edição do Festival do Vinho Português e da Feira Nacional da Pera Rocha, no Bombarral, os produtores agrícolas anteveem com expetativa o momento final de mais um ano de trabalho, que é a vindima e a colheita nos muitos pomares da nossa região. A CVR – Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa e a ANP – Associação Nacional dos Produtores de Pera Rocha, que colaboram com o Município do Bombarral na organização do evento, consideram importante a realização do certame para promover aquelas que são as duas produções agrícolas com maior peso na região Oeste. No tocante ao setor vitivinícola, como diz o ditado popular, até o lavar dos cestos é vindima, mas os sinais que a CVR Lisboa retira neste momento é que se antevê uma boa colheita em quantidade e qualidade. Segundo Carlos João Fonseca, da direção deste organismo, “se no ano passado a produção atingiu quase 1,2 milhões de hectolitros, a expectativa é que se atinja uma subida este ano e chegue aos 1,3 milhões de hl”, face ao bom estado da uva e ao bom amadurecimento que se regista presentemente. “Estas previsões foram feitas antes de se saber se a seca iria continuar a sentir-se e não houve chuva desde junho, pelo que se pode reduzir um pouco o aumento da quantidade que estava previsto”, explicou à Gazeta. As vindimas na região vão começar mais cedo, prevendo-se que dentro de dias se inicie na zona de Alenquer, para produção de vinho leve, pelo que é expectável que dentro de duas a três semanas possam começar nesta região a norte da serra do Montejunto para a produção de espumante e vinho leve. Grande parte dos operadores da área da CVR Lisboa estão a vender acima do ano passado e neste momento já superam 60 milhões de garrafas. Com 200 produtores, em 2022 as vendas na restauração nacional tiveram aumentos acima dos 100%, os vinhos brancos de Lisboa mais 25%, o enoturismo na região com crescimento a um ritmo muito acentuado e a exportar uma média de 100 garrafas por minuto, atingindo uma quota de mercado de 20% (com exclusão do vinho do Porto). “De um modo geral as exportações têm estado a correr bem e o rácio está entre os 70 e 80% da produção”, destaca Carlos João Fonseca. Com constrangimentos com o mercado russo devido à guerra, os mercados mais importantes para esta CVR continuam a ser os países escandinavos, a par do Reino Unido, Brasil, Estados Unidos e Canadá. Os novos órgãos sociais da CVR Lisboa foram eleitos há cerca de mês, continuando Francisco Toscano Rico a presidir à direção, permanecendo como vogais Carlos João Pereira da Fonseca (Bombarral) em representação do comércio e José Bernardo Nunes (Cadaval) em representação da produção. Nuno Maria Santos (Associação de Agricultores de Torres Vedras) é presidente do conselho fiscal e José Oliveira Silva (ACIRO) é o presidente da assembleia geral. Integram o organismo sete adegas cooperativas, três associações de agricultores e uma de comércio e serviços. Com sede em Torres Vedras, a CVR Lisboa é uma associação de carácter interprofissional, tendo por missão assegurar o controlo, a certificação e a defesa, promoção e dinamização do enoturismo dos Vinhos da Região de Lisboa. A Região Demarcada dos Vinhos de Lisboa engloba os Vinhos IGP Lisboa e as DOP de Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Óbidos, Encostas D’Aire, Aguardente da Lourinhã e Carcavelos, Colares e Bucelas, com um total de 10 mil hectares de vinha certificada.
Quebra significativa da produção de pera rocha
Recém-eleito para presidente da direção da ANP – Associação Nacional de Produtores de Pera Rocha para o triénio 2023/25, Filipe Ribeiro (em representação da CARSAG – Casa Agrícola Ribeiros – Sociedade de Agricultura de Grupo, Lda, de São Martinho do Porto, concelho de Alcobaça) conta os dias para o início de mais uma colheita, agendada para o próximo dia 21. “Estamos a estimar uma produção baixa, no seguimento do que se verificou no ano passado, de cerca de 60% inferior à colheita de um ano normal”, revelou à Gazeta. Um cenário que representa “uma quebra significativa que vai colocar alguns desafios em toda a fileira”. Esta é uma consequência das alterações climáticas que os produtores agrícolas têm vindo a sentir, ano após ano. A falta de água é um problema recorrente para o setor na nossa região e os invernos têm sido cada vez mais amenos e as emperaturas anormalmente mais altas no pico da floração das pereiras, que fez com que este ano muitos frutos não vingassem. Todavia, esta quebra de produção vai traduzir-se no aumento da qualidade organolética da pera rocha, representada pelo aroma e sabor, sendo ainda cedo para se classificar o calibre médio do fruto. Menos fruta traduz-se numa maior dificuldade para os produtores. “Significa que vamos ter que conseguir corresponder aos diversos mercados com uma gestão muito criteriosa de cada operador”, alerta Filipe Ribeiro. Outrora um grande problema, a falta de mão-de-obra para a campanha sazonal deste ano não parece estar a afetar a fileira. “Temos pessoas disponíveis e à partida o período da colheita não vai ser tão grande, apesar de também aqui termos tido um aumento dos custos. Para além de Filipe Ribeiro, a direcção conta ainda com o tesoureiro Rui Santana (Cooperfrutas, Alcobaça), o secretário Tomás Ferreira (Granfer, Óbidos) e os vogais Vítor Fonseca (Ferreira da Silva, Torres Vedras) e Armelindo Luis (Primofruta, Bombarral). Os restantes órgãos sociais, eleitos também há poucas semanas, são presididos por ex-presidentes da direcção da ANP. A mesa da assembleia geral tem como presidente Armando Torres Paulo (Frutus, Cadaval), sendo vice-presidente Carlos Miguel Henriques (Central de Frutas do Painho, Cadaval) e secretário Telmo Presado (Ecofrutas, Bombarral). Já o conselho fiscal tem como presidente Domingos dos Santos (Frutoeste, Mafra) e como vogais Sérgio Constantino (Frutas Classe, Caldas da Rainha) e Gonçalo Daniel (Cooperativa Agrícola do Bombarral). A ANP foi criada em 1993 e representa perto de 90% da produção deste fruto em Portugal. Reúne os principais intervenientes do sector: fruticultores, associações de fruticultura, centrais fruteiras, exportadores e outras entidades interessadas no desenvolvimento da pêra rocha, como autarquias e instituições de crédito. A ANP coordena e incentiva uma política de qualidade para este fruto único e é a entidade gestora da Denominação de Origem Protegida (DOP) ‘Pera Rocha do Oeste’, que está circunscrita a 29 concelhos: Sintra, Mafra, Arruda dos Vinhos, Sobral de Monte Agraço, Alenquer, Vila Franca de Xira, Azambuja, Torres Vedras, Cartaxo, Lourinhã, Bombarral, Cadaval, Santarém, Rio Maior, Peniche, Óbidos, Caldas da Rainha, Torres Novas, Alcanena, Alcobaça, Nazaré, Porto de Mós, Batalha, Tomar, Ferreira do Zêzere, Vila Nova de Ourém, Leiria, Marinha Grande e Pombal. ■