
Numa entrevista realizada há dois anos, onde falou das suas memórias enquanto director do Externato Cooperativo da Benedita, José Gonçalves Sapinho fez “uma homenagem à Benedita, que tornou tudo isto possível”. Oito meses depois do falecimento do antigo director do externato, foi a vez de a Benedita o homenagear.
Na tarde do passado domingo, dia 6 de Maio, cerca de 300 pessoas estiveram reunidas no Centro Cultural Gonçalves Sapinho, na Benedita, para lembrar “Um homem, uma escola, a realização de uma vida”, conforme anunciava o filme realizado para a ocasião pelo Instituto Nossa Senhora da Encarnação (INSE).
Ao som de uma banda sonora escolhida a dedo, com temas de Rodrigo Leão, desfilaram pelo ecrã do auditório fotografias antigas, e outras mais actuais, memórias de mais de três décadas a dirigir uma escola por onde passaram milhares de alunos e que foi visitada por dezenas de governantes e outras personalidades públicas. Um projecto abraçado desde o início por Gonçalves Sapinho e cuja direcção pedagógica deixou quando foi eleito presidente da Câmara de Alcobaça, em 1998. Manteve-se, ainda assim, nos corpos sociais do INSE.

E a intercalar as imagens, o discurso directo de Gonçalves Sapinho, a lembrar os primeiros tempos da Cooperativa de Ensino, a sua importância para a freguesia e para quantos por ali passaram, em diversas funções, ao longo de mais de 45 anos de história. Um projecto que “constitui a vida e a realização de um homem”, defendeu Gonçalves Sapinho aquando da entrevista agora recuperada, na qual referiu uma das frases que – diz quem com ele privou – marcaram a sua vida: “Para a frente é que é o caminho”.
Numa homenagem preparada pela instituição que integra o Externato, não faltaram os colegas, os amigos, os alunos e os políticos que acompanharam Gonçalves Sapinho nas diversas vertentes da sua vida, quer fosse na área do ensino, quer fosse no trabalho desenvolvido em instituições da Sociedade Civil ou na vida política, tanto a nível parlamentar como a nível autárquico.
E nas evocações que se seguiram não faltaram as referências à sua determinação e audácia, à sua humildade, aos seus valores e à entrega, não só às causas em que acreditava, como aos projectos a que se lançava.
“Honramos tanto mais a sua memória, quanto mais contribuirmos para que a cooperativa se desenvolva”, exortou Acácio Catarino, uma das muitas pessoas que evocou, para a câmara ou em palco, o beirão que se tornou beneditense por adopção. Quem também não quis deixar de evocar Gonçalves Sapinho foi o actual secretário de Estado do Ensino e Administração Escolar, João Casanova de Almeida, que recordou “um homem absolutamente determinado, convicto do que queria e que nunca se desviava dos seus objectivos. Um homem que não parte porque ficou dentro de nós”.
Na plateia estava também parte da família do homenageado, que assistiu emocionada ao rol de elogios que foram deixados a Gonçalves Sapinho. Memórias de um trabalho desenvolvido no concelho de Alcobaça ao longo de mais de quatro décadas que o filho, o cineasta Joaquim Sapinho, diz ser “difícil continuar”. E no final da cerimónia, não faltou o “Bom Dia” com que o antigo director cumprimentava professores, funcionários e alunos da escola e que acabou por se tornar uma das suas imagens de marca na terra que o acolheu.
“Director honorário” recordado em Feira do Livro
A homenagem de domingo decorreu no âmbito da X Feira do Livro do Externato Cooperativo da Benedita, a primeira edição na qual o antigo director não esteve presente. Esse mesmo facto foi desde logo salientado na inauguração do certame, onde presidente da direcção do INSE, Pedro Guerra, se referiu a Gonçalves Sapinho como “o director honorário” da escola beneditense.
No primeiro acto oficial enquanto presidente da instituição, Pedro Guerra deixou ainda uma homenagem a todos os que contribuíram para o sucesso da escola beneditense. Ao pessoal docente e não docente que actualmente trabalha na escola deixou uma mensagem: “esta direcção tem consciência dos tempos difíceis que atravessamos, mas quer honrar e ser digna do passado dando continuidade ao nosso projecto comum, mantendo o essencial da nossa vocação, e assegurando ao ECB a estabilidade e o apoio indispensáveis à optimização que pedimos no exercício da sua nobre função”.
A importância do Externato para a Benedita foi também realçada pelo presidente da Câmara de Alcobaça, Paulo Inácio, para quem a instituição “já mostrou que é um pilar essencial desta comunidade brilhante”. E a relação entre a escola e a comunidade é precisamente uma das razões que continuam a motivar a realização da Feira do Livro, mesmo em tempos de crise. “São dez anos a inovar, a lutar para que este evento seja uma forma de unir a Benedita, de a trazer à escola e a juntar à volta dos livros”, garantiu Alfredo Lopes, director pedagógico da escola. Um objectivo também reiterado pela directora da biblioteca da escola, Maria José Jorge, que se dirigiu aos beneditenses dizendo: “não interessa se vêm comprar livros ou não. Interessa é que estejamos juntos”.
Um propósito que parece ter sido cumprido. Ao longo de cinco dias muitas foram as pessoas que passaram pelo piso 0 do Centro Cultural Gonçalves Sapinho, onde mais de sete dezenas de editoras apresentavam propostas de leitura para todas as idades e a preços mais atractivos. Música, teatro, palestras, dança, exposições de fotografias, cinema e animação infantil foram outros dos atractivos de um certame onde se promoveu ainda o contacto entre gerações, se recordou a Benedita de outros tempos e as profissões mais tradicionais da vila. A cutelaria e o calçado estiveram em destaque nesta edição do certame, com uma exposição composta por ferramentas, máquinas e outros utensílios disponibilizados pela ICEL, por António Lopes e Salvador Valentim.
Joana Fialho
jfialho@gazetadascaldas.pt