Mais de três centenas de peças, feitas com diversos materiais, compõem a quarta grande exposição de presépios das Gaeiras, patente nos antigos armazéns do vinho, no centro da vila. O evento, de entradas livres, foi inaugurado a 4 de Dezembro e mantém-se até 2 de Janeiro.
Este ano, a par da exposição, estão diariamente artistas a trabalhar ao vivo, tanto em cerâmica como na criação de registos. Este ano, e em virtude da crise, muitos dos artesãos optaram por fazer peças mais económicas.
Apesar do mau tempo que se fez sentir na tarde de sábado, foram muitos os que marcaram presença na inauguração da exposição de presépios, evento que vai na quarta edição e se tem afirmado como uma aposta cultural da região nesta época.
Das 304 obras expostas, cerca de uma dezena foram vendidas nas primeiras horas do evento. A ceramista Cláudia Canas, residente nas Caldas da Rainha, foi uma das primeiras a vender as suas peças, um presépio em grés.
A participar no evento pelo terceiro ano consecutivo, esta autora tem este ano expostos quatro presépios, com valores que variam entre os 15 e os 50 euros. “São peças de autor e a custos acessíveis”, conta Cláudia Canas, destacando a importância da mostra para a divulgação do trabalho dos autores. “Quando vim cá pôr as minhas peças a exposição já estava quase toda montada e acho fantástica a forma como as pessoas vêem o presépio e trabalham os materiais”, acrescentou.
A participar pelo segundo ano com 21 presépios, José Tanganho, de Coruche, trouxe este ano também os seus utensílios para trabalhar ao vivo durante a exposição.
Começou há 11 anos a brincar com o barro e nunca mais parou. Dedicado à cerâmica figurativa, começou por fazer imagens de Santo António e, há cerca de três anos, tem-se dedicado a fazer presépios de várias formas. Também José Costa, de Rio Maior, é repetente na exposição. Desta vez apresenta dois presépios trabalhados nas raízes e tronco de árvores.
“Vou mesmo às profundezas da natureza e aproveito o máximo das formas naturais para esculpir”, diz o escultor-artesão.
“Não há hipótese de haver duas peças iguais”, realça, adiantando que é a própria árvore que dá o desenho.
José Costa tem facilidade em arranjar material porque as pessoas já conhecem o seu trabalho e entregam-lhe as árvores. Para as peças mais pequenas utiliza essencialmente as raízes de urzes, enquanto que as obras de maior porte são sobretudo feitas a partir de sobreiro ou cedro.
Desde os 10 anos que esculpia a madeira e depois foi aperfeiçoando a técnica, ao mesmo tempo que prosseguia a sua vida profissional como funcionário da Cervejaria Trindade, em Lisboa. Está reformado desde o ano passado e agora dedica-se mais à sua paixão. “Tenho sempre duas ou três peças em aberto, que vou esculpindo alternadamente”, conta. As peças expostas custam 275 e 875 euros.
O caldense Américo Barros, de 75 anos, expõe nos armazéns um presépio de grandes dimensões (1,20 por 0,80 metros) criado de raiz pelo próprio, que aproveitou parte do tronco de um sobreiro para fazer a cabana. “Tem também a casa do pastor com o seu rebanho, o pormenor do galo que anuncia o nascimento de Jesus e também os reis magos que caminham para a gruta”, explicou, adiantando que é o único presépio com musgo natural que está na exposição.
O septuagenário considera que esta exposição atrai muita gente de todo o país. “Já o ano passado pude ver que tinha muita aceitação e também por parte das escolas. só um dia estavam cá três camionetas com alunos”, destacou.
Trabalhar ao vivo durante todos os dias do evento
Margarida Koch, de Peniche, está a participar na mostra pela primeira vez, com uma dezena de registos da sua autoria. “É uma forma diferente de representar o presépio”, conta a artista, que já se dedica a esta arte há 25 anos. Actualmente está a apostar numa técnica diferente, com o papel enrolado, que era aplicada nos conventos de França em finais do século XVII e XVIII.
“Estão aqui trabalhos espectaculares”, disse, acrescentando que muitas vezes as pessoas “não têm ideia do trabalho que dá fazer as obras com qualquer que seja o material”, pelo que o artesanato devia ser mais valorizado.
A ceramista Paula Clemente está a participar na mostra desde a sua primeira edição. Destaca que tem havido um aumento da quantidade e da variedade das obras, até porque “os tempos de crise também obrigam os artistas a fazer trabalhos mais em conta para serem comercializados”.
Paula traz presépios de vários tamanhos, todos em cerâmica, e que podem custar entre oito e 400 euros.
“Para além de divulgar, é também uma forma de escoar o trabalho”, disse a ceramista, que a partir de Outubro começa a trabalhar nos presépios a pensar nesta exposição. Também está diariamente a trabalhar ao vivo por ser esta “uma maneira de interagir com as pessoas e trocar ideias”.
Durante a inauguração o presidente da Junta de Freguesia das Gaeiras, Eduardo Silva, agradeceu a cedência do espaço pelos herdeiros de José Gomes, destacando a importância de aproveitar o património devoluto para realizar iniciativas culturais.
Disse ainda estar “orgulhoso” com a capacidade de obra feita em tempo de crise, dando os exemplos da inauguração do Jardim de Infância, o Complexo do Alvito e a Farmácia. Para fechar o ciclo falta apenas começar a igreja, mas está confiante que a obra irá concretizar-se porque a “população está mobilizada”.
Também presente na inauguração deste evento, o presidente da Câmara de Óbidos, Telmo Faria, destacou a dinâmica que as Gaeiras tem tido e que se traduz na capacidade de atrair artistas de todo o país para o evento que “abre as celebrações do Natal na região”.
O autarca salientou ainda que este evento está integrado na Vila Natal, um projecto que “teima em fazer com que a economia não adormeça, gerando algum emprego e riqueza durante este período”.
Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt