Aumento de situações de suicídio torna mais evidente a falta de psiquiatras no CHO

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FotoProfissionaisTendo em conta a população oestina, o CHO devia ter 10 psiquiatras, mas só possui um a tempo inteiro e outro a meio tempo. Esta falta de profissionais e a necessidade de aumentar a ajuda especializada é mais notória numa altura em que o número de casos de suicídio tem vindo a aumentar.
Profissionais da área da saúde mental e representantes de várias instituições debateram esta temática no XV seminário do Núcleo de Intervenção na Área da Saúde Mental (NIASM), que decorreu no passado dia 17 de Outubro no auditório da Escola de Sargentos do Exército e reuniu cerca de 70 pessoas.

Entre os anos de 2008 e 2013 a Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) das Caldas da Rainha registou 253 activações para comportamentos suicidários, dos quais 71 acabaram em morte. De acordo com o enfermeiro Nuno Pedro, que apresentou o estudo, a média de idades das pessoas que apresentaram esse comportamento situa-se nos 49,7 anos e a maioria (59%) são homens.
A maioria das activações foram feitas de Março a Setembro. Janeiro foi o mês em que se registaram menos ocorrências deste tipo. Os suicídios ou tentativas de suicídio resultaram de intoxicação medicamentosa, enforcamento, ingestão de fitofármacos, utilização de arma de fogo, submersão, queda  em altura, químicos ou trucidação.
Caldas da Rainha foi o concelho que mais casos de comportamentos suicidários apresentou (121), seguida de Alcobaça (51), Óbidos (27), Bombarral (20), Cadaval (15), Nazaré (9), Peniche (5), Rio Maior (1) e Torres Vedras (1).
Pedro Nuno lembrou que a VMER já existe nas Caldas há 12 anos e, se no início, tinham muitas saídas por intoxicações, com o passar do tempo estes foram substituídos por enforcamento e submersão. O enfermeiro disse ainda que no ano de 2013 houve 19 suicídios, um número que “aumentou substancialmente em relação aos anos transactos”.
Em relação a 2014, dados do primeiro semestre dão conta de 16 suicídios, mas o responsável acredita que este número será agora bastante superior pois nos meses de verão tiveram bastante activações para suicídios, “quase sempre por arma de fogo ou por enforcamento”.
Os dados foram apresentados no seminário que teve por temática o “Suicídio & Alteridade – Vidas Sem Rede”. De acordo com Paula Carvalho, coordenadora do serviço de Psiquiatria e Saúde Mental do CHO, trata-se de uma problemática que está a aumentar e que envolve toda a comunidade. Por outro lado, “põe muito em evidência” as carências de recursos humanos, tendo em conta a falta de pessoal ao nível do serviço de Psiquiatria.
A lista de espera actualmente é “pornográfica”, diz Paula Carvalho, acrescentando que as redes de referenciação dizem que a população abrangida pelo CHO deveria ter 10 psiquiatras e neste momento existem 1,45, sendo que o 0,45 é um profissional com um contrato de prestação de serviço que apenas faz consulta externa.
O CHO já abriu duas vagas para esta especialidade, mas não foram preenchidas. De acordo com a responsável, é necessário que sejam criadas as condições para que os profissionais queiram vir trabalhar para as Caldas e isso passa pela existência de uma equipa estável. “Um psiquiatra tem medo de vir para cá e ficar a trabalhar sozinho, de facto não é uma coisa muito apelativa”, disse.
A rede de articulação comunitária, que envolve profissionais de saúde do CHO, os cuidados primários e outras estruturas como a segurança social, as escolas e as forças de segurança, faz o que pode, mas precisa dos recursos especializados. “Não dá mesmo para fazer omeletas sem ovos”, disse Paula Carvalho, fazendo notar que não existem pessoas suficientes para dar respostas rápidas e eficientes.
A responsável considera que, caso não consigam psiquiatras através dos concurso, deverão ser feitos protocolos com os hospitais de Santa Maria ou Júlio de Matos para que profissionais possam vir fazer serviço às Caldas.

Futuro das equipas comunitárias em perigo

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Actualmente as equipas comunitárias contam com seis psicólogos que fazem a articulação dos cuidados de saúde primários com o hospital. No entanto, o futuro destes especialistas pode estar em risco se o CHO não os integrar no mapa de pessoal, tal como estava previsto quando foi montado o projecto e antes da vinda da troika e da nova administração do Centro Hospitalar.
“De facto, quando acabaram os 24 meses não houve a tal inclusão das equipas no mapa de pessoal de CHO e ficámos durante seis meses sem as equipas comunitárias”, explicou Paula Carvalho.
As equipas foram depois reintegradas, com os profissionais a serem pagos pelo Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa – Júlio de Matos, mas enquanto solução de recurso até que o CHO se reorganizasse. Paula Carvalho teme que o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa diga que não tem condições de manter as equipas a funcionar, já que no ano passado já lhes reduziram o horário semanal.
A responsável garante que sem os seis profissionais “será completamente impossível fazer o serviço” e lamenta que isso possa colocar em causa um trabalho que está feito e que está a dar frutos.

Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt

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