“A Bíblia é um livro fantástico e é também um livro de cozinha”. As palavras são do chef Luís Lavrador que estudou exaustivamente os 72 livros que a compõem para a sua tese de doutoramento em Gastronomia. O também chef da Selecção Nacional de Futebol apresentou o seu livro “Ao sabor da bíblia” na EHTO e sugeriu uma ementa para um almoço temático até porque, como explicou, a obra é um ponto de partida para ocasiões de comensalidade e criação de novas receitas.
Há um texto no Evangelho segundo S. João que mostra que Jesus cozinhou no areal o peixe e o pão enquanto mandou os discípulos à pesca. Este foi apenas um dos exemplos dado por Luís Lavrador para exemplificar as cenas alimentares na bíblia.
Cozinheiro de profissão, professor e chefe da Selecção Portuguesa de Futebol, Luís Lavrador sentiu, aos 46 anos (em 2008), necessidade de prosseguir estudos e fazer um curso superior. Ainda frequentou algumas aulas de Sociologia na Universidade de Coimbra, mas acabaria por mudar para um mestrado em Alimentação e depois tirar o doutoramento na mesma área, tendo sempre como objecto de estudo da bíblia a comensalidade na bíblia.
O autor convida a uma viagem pelos sentidos e pela memória, com os fundamentos da nossa cultura, que actualiza em 30 receitas que propõe inseridas em menus temáticos. “Somos os herdeiros da cultura do Antigo Egipto, Grécia e Roma e a forma como comemos, como nos sentamos à mesa e como cozinhamos está plasmado nos textos da bíblia”, contou.
A temática não se esgota nesta obra que, de acordo com o autor, aborda apenas uma parte. “A bíblia tem palavras eternas, hoje transmitem-nos uma mensagem e amanhã já será outra, actualizada aos tempos que correm”, diz Luís Lavrador que se assumiu um “homem de fé” e que diz que os católicos conhecem muito pouco este livro. Ele próprio, antes deste estudo, conhecia alguns excertos, sobretudo do que aprendeu na catequese, mas agora leio-a “todos os dias por uma questão de aprofundamento das matérias e também por necessidade pessoal”.
O almoço temático da EHTO foi também relacionado com o livro e o menu apresentado pelo autor (e confeccionado pelos alunos) que remetia para episódios da bíblia. Com uma decoração nas mesas a lembrar o Monte das Oliveiras, o almoço começou com uma sopa de legumes à moda de Eliseu, onde Luís Lavrador chamou a atenção para significado da farinha, que na culinária tem a função de ligar e dar espessura mas que simbolicamente tem um sentido salvífico e de purificação. “A uma sopa que tenha veneno, junta-se a farinha e o mal desaparece”, exemplificou.