A celebrar 85 anos de existência a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Óbidos precisa de mais voluntários para dar uma resposta eficaz a um número cada vez maior de pedidos de auxílio.
Actualmente a corporação conta com cerca de 80 bombeiros, menos 30% do que há quatro anos. A crise e a retirada de algumas das regalias que os bombeiros possuíam, a emigração e a procura de um segundo emprego por parte de alguns potenciais voluntários, são algumas das causas para a fraca adesão à causa dos soldados da paz.
Já no que diz respeito a novos sócios, estes subiram 20% desde Agosto, mês em que a associação humanitária iniciou uma campanha de angariação de associados.
“Os Bombeiros de Óbidos precisam urgentemente de voluntários, sob pena de o socorro começar a ser colocado em causa”. O apelo foi deixado pelo comandante da corporação, Sérgio Gomes, na cerimónia comemorativa do 85º aniversário, que teve lugar no passado dia 1 de Abril. Aproveitando a presença do presidente da Câmara de Óbidos, Telmo Faria, o comandante pediu ajuda para recrutar novos soldados da paz, já que o “Estado tem ignorado os seus bombeiros no que se refere a regalias, retirando o pouco que os bombeiros ainda tinham”.

Sérgio Gomes pediu mais incentivos para os jovens ingressarem nos bombeiros, lembrando que a “Via Verde para a Cultura”, a que todos têm acesso, foi uma iniciativa importante, mas que é necessário mais. O responsável considera “extremamente grave” a falta de apoios por parte das entidades públicas às associações humanitárias e aos voluntários.
“Apelo aos decisores políticos e a quem tem responsabilidade neste sector da protecção e socorro em Portugal, pois, quando alguém acordar para esta realidade pode ser tarde e o “exército” mais barato e mais profissional que o país tem, poderá já ter desaparecido”, alertou.
Sérgio Gomes pediu, uma vez mais, o apoio da população para com os seus bombeiros, lembrando que a sua disponibilidade é tanto maior quanto o afecto que granjearem. “Porque será que por vezes é tão difícil obter um obrigado do cidadão?”, questionou-se o comandante, acrescentando que muitas vezes essa indiferença é desmotivadora para os soldados da paz, que investem o sem tempo em formação e abdicam da sua vida familiar para promover qualidade de vida das pessoas.
Há 27 anos ligado ao corpo de bombeiros de Óbidos, o comandante realçou a evolução que se tem registado, sobretudo no que se refere à intervenção e formação, possuindo nos seus quadros formadores em todas as áreas de actuação.
Ao longo dos últimos anos tem também sido feito um investimento grande ao nível do fardamento e equipamento de protecção individual para intervenção em incêndios florestais e urbanos. No que se refere aos veículos de intervenção, o corpo de bombeiros tem ao seu dispor 27 carros de apoio para todo o tipo de operações, desde combate a incêndios, salvamento em meio aquático e salvamento com cariz mais especial, a ambulâncias de transporte e de socorro. Brevemente terão uma nova viatura de combate a incêndios florestais, que servirá também para outro tipo de ocorrências.
No entanto, a grande lacuna, segundo o comandante, é a de um carro de combate a incêndios urbanos, uma realidade com que se estão a deparar cada vez com maior frequência. “Estão a desenvolver-se, na zona costeira do concelho, uma série de empreendimentos que nos vem aumentar o risco e o número de intervenções no que se refere a incêndios urbanos”, explicou.
O ano 2001 é considerado recorde no que respeita aos incêndios florestais. Os bombeiros de Óbidos foram chamados a intervir em mais de 200 fogos, que destruíram cerca de 100 hectares. Ocorreram também a cerca de uma centena de acidentes e transportaram, nas suas ambulâncias cerca de 6000 doentes.
“Surge também aqui alguma preocupação inerente ao nosso quadro de pessoal profissional, considerando a redução de proveitos financeiros”, disse Sérgio Gomes, que, embora espere que seja uma situação provisória, considera que têm que arranjar alternativas financeiras para colmatar o anunciado fim do transporte de doentes e, consequentemente, dessas receitas.
“Notável capacidade operacional”
Também o presidente da Associação Humanitária, Rui Vargas, destacou a acção dos voluntários que, actualmente, asseguram 60% das horas de funcionamento daquele quartel. “Se o Estado tivesse que pagar para prestar o serviço de socorro que é assegurado pelos voluntários, não teria capacidade para o fazer”, disse, apelando à ajuda da comunidade e também da Federação Distrital e Liga dos Bombeiros Portugueses.
Rui Vargas defendeu ainda uma maior proximidade entre os soldados da paz e a população. Em Agosto do ano passado começaram uma campanha que resultou já num aumento de 20% de novos associados, uma medida importante para garantir a realização de algumas actividades de protecção de pessoas e bens.
Também presente na cerimónia, Mário Cerol, presidente da Federação dos Bombeiros do Distrito de Leiria, disse que Óbidos tem “o melhor comando do distrito, organizado, com capacidade de mobilizar os seus homens” e destacou a capacidade de liderança e tenacidade do seu comandante, Sérgio Gomes. Os elogios estenderam-se também ao presidente da direcção, Rui Vargas, pelo trabalho feito, com a sua equipa, e por se tratar de um dos mais novos dirigentes a nível distrital.
Mário Cerol deu ainda nota da perda de apoios que os bombeiros têm vindo a ter por parte do governo, como o facto de terem de passar a pagar taxa moderadora. Uma situação que, segundo José Ferreira, da Liga dos Bombeiros Portugueses, tenderá a agravar-se devido às dificuldades financeiras da administração central. Na sua opinião, cabe à população ter um papel mais interventivo no apoio às suas corporações.
José Moura, comandante distrital das Operações de Socorro de Leiria, destacou a “notável capacidade operacional” que este corpo de bombeiros tem demonstrado, assim como o bom funcionamento com o comando distrital. “Tenho a sorte de ter no distrito os melhores 25 comandos do país, e essa é a razão para os excelentes resultados que temos tido. Óbidos é um exemplo disso”, concluiu.
Para o presidente da Câmara de Óbidos, Telmo Faria, o sistema político português está em transição e é importante a “sociedade civil tomar as rédeas”, defendendo que as associações têm que dinamizar actividades que lhes permita arrecadar dinheiro. Um desses exemplos é a exploração, por parte dos bombeiros, de um dos parques de estacionamento da vila.
Telmo Faria disse ainda que concorda que é necessário “cortar na despesa pública e reduzir a dívida dos municípios, mas não se devem fazer coisas que tirem a autonomia ao poder local, como a possibilidade de gerir as suas receitas.
A festa terminou com um almoço-convívio e uma tarde de animação entre bombeiros e familiares.
Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt
Distinções
Medalha de Assiduidade Grau Cobre (cinco anos de bons e efectivos serviços)
Bombeiro de 3ª – António da Costa Filipe
Bombeiro de 3ª – Vando Ribas
Bombeira de 3ª – Ana Eloisa Granja
Bombeira de 3ª – Magda Granja
Medalha de Assiduidade Grau Prata (10 anos de bons e efectivos serviços)
Bombeiro de 2ª – Pedro Oliveira
Medalha de Assiduidade Grau Ouro (15 anos de bons e efectivos serviços)
Bombeiro de 1ª- Álvaro Marques
Bombeiro de 1ª- Edgar Batista
Bombeiro de 1ª – Marco Bonifácio
Medalha de Assiduidade Grau Ouro (25 anos de bons e efectivos serviços)
Bombeiro de 1º – José António Ferreira
Bombeiro do Ano
Álvaro Marques
Dificuldades não são idênticas noutras corporações
As dificuldades que estão a ser sentidas pelos Bombeiros Voluntários de Óbidos em captar novos voluntários não são partilhadas por todos os seus congéneres da região.
Gazeta das Caldas falou com outras corporações, que estão a garantir a continuidade de soldados da paz através das escolas de recruta, para onde os voluntários entram com a idade mínima de 18 anos.
Na corporação de Alcobaça o problema da falta de voluntários para os bombeiros não se coloca. De acordo com o comandante Mário Cerol, está a decorrer até Dezembro uma escola de recrutas com 20 elementos, que depois irão ingressar no corpo activo.
O responsável salienta que não possuem mais elementos porque a legislação restringe a entrada nos Bombeiros a pessoas com idade inferior a 35 anos. “Temos muitas pessoas até aos 45 anos disponíveis para ingressar, e com outra maturidade, mas que actualmente não o podem fazer”, disse, acrescentando que esta é uma situação que acredita que será colmatada com a legislação que irá sair em breve.
Entre os jovens que querem vir a tornar-se soldados da paz tem vindo a registar-se um aumento de raparigas.
“OS VOLUNTÁRIOS NUNCA SÃO DEMAIS”
“Os voluntários nunca são demais”. Quem o diz é o comandante dos Bombeiros Voluntários da Benedita, António Paulo, destacando que são sempre bem vindos os interessados em colaborar com a associação humanitária.
Actualmente estão a decorrer recrutas com 14 elementos, sendo que metade destes irão ingressar já no corpo activo até ao verão.
A corporação da Benedita conta com 114 elementos.
Em Peniche, os bombeiros têm sido muito procurados por parte dos jovens, sobretudo desempregados, que vêem no ingresso nesta associação uma forma de ajudar o próximo e também de passar o tempo que têm disponível.
De acordo com o comandante José António Rodrigues, desde Janeiro que está a decorrer uma recruta com 12 pessoas. Daqui por um ano, os que concluírem esta formação irão ingressar na corporação como activos. Para além disso, existem 26 jovens, com idades compreendidas entre os 13 e os 17 anos, que andam a acompanhar a recruta, sem no entanto poderem vir a integrar já a corporação porque a idade mínima de ingresso é os 18 anos.
José António Rodrigues destaca que tem sido feito um trabalho de atracção dos mais novos para os Bombeiros, nomeadamente dos elementos da fanfarra.
Actualmente a corporação possui cerca de 60 soldados da paz. Nos últimos três anos perderam 20 bombeiros. Alguns deles emigraram e outros foram trabalhar fora do concelho e estão em situação de reserva.
F.F.