Caldas celebrou Abril com uma “assembleia popular” frente à Câmara Municipal

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A sessão solene decorreu na Praça 25 de Abril

Sessão solene decorreu na Praça 25 de Abril, juntando largas dezenas de pessoas. A importância do 16 de Março foi comungada por todos os oradores, tal como a necessidade de continuar a lutar pela manutenção da liberdade

 

“O 25 de Abril foi uma revolução popular. É na rua que se deve festejar”. As palavras foram do presidente da Assembleia Municipal das Caldas, Lalanda Ribeiro, para destacar a cerimónia deste ano, que se realizou frente à Câmara e, para além das entidades convidadas, contou com a presença de algumas dezenas de pessoas a assistir. Na sua intervenção, Lalanda Ribeiro falou da liberdade e dos seus efeitos tanto a nível nacional como internacional e destacou a importância do 16 de Março de 1974 para o êxito da revolução que viria a acontecer pouco mais de um mês depois. A evocação do Golpe das Caldas foi, aliás, assunto comum a todas as intervenções.
O presidente da Assembleia Municipal destacou ainda o envolvimento das escolas caldenses nas celebrações do 25 de Abril, com a realização de trabalhos. “Isso é importante para que ganhem consciência que têm liberdade graças ao 25 de Abril e àqueles que saíram para a rua para que fosse possível que o povo português recuperasse a liberdade e a democracia”, salientou.
A data “mais importante da nossa história contemporânea enquanto país e nação” não pode ser dissociada do 16 de Março de 1974, corroborou o deputado do PS, Pedro Seixas, para quem o Golpe das Caldas deve ser encarado como o início do compromisso de Abril. “Não homenagear os militares que saíram desta cidade em torno da conquista de democracia é um erro histórico, mas sobretudo um erro moral”, afirmou. Pedro Seixas “convocou” todos a defender a liberdade e a estarem “atentos e, sobretudo, vigilantes às suas imperfeições”. Referindo-se à política local defendeu a criação de “pontes de diálogo entre todos, fazendo com que as decisões tomadas sejam de total transparência”.
“Se o 25 de Abril não tivesse existido poderia eu estar aqui a falar, perante vós como presidente de junta? Seguramente que não”, reconheceu Alice Gesteiro, representante do PSD na Assembleia, numa intervenção onde destacou a falta de direitos das mulheres na época. Considera que uma das grandes conquistas de Abril foi a emancipação das mulheres e o combate às desigualdades entre géneros. “Abril trouxe liberdade mas também respeito”, dois valores que Alice Gesteiro considera que não podem ser dissociados, lembrando que as pessoas nem sequer se podiam reunir sem que houvesse a desconfiança que estavam a conspirar. Reconhece que ainda há muitas situações a melhorar e que têm de ser os autarcas, eleitos pelo povo, lutar para pela manutenção da “liberdade, respeito, o direito ao trabalho pago devidamente, condições de vida e uma escola inclusiva”.
António Curado, representante do VM na Assembleia Municipal, começou por dirigir-se aos mais novos, que nasceram depois do 25 de Abril de 1974, para dizer que esse foi o “dia mais feliz que Portugal viveu no século 20, um dia de libertação e fim de uma ditadura de 48 anos. Naquela altura viveu-se a esperança de um mundo melhor e a alegria do povo na rua”. Tinha 16 anos e, ao pensar nos jovens de hoje, acalenta esperança que assumam novos desafios na defesa do coletivo, do ambiente, de um futuro ainda melhor. Na sua intervenção, António Curado falou dos direitos que Abril trouxe, entre eles a possibilidade de participação na vida coletiva e de escolher quem os representa nas autarquias. Referiu-se também à abertura à participação eleitoral de grupos de cidadãos e de movimentos independentes, como é o caso do VM, salientando que esta não pretende diminuir a importância dos partidos políticos mas antes alargar a participação política dos cidadãos.
“É nas ruas do concelho que, ano após ano, ao som de bandas, no hastear das bandeiras, quando as crianças cantam o hino nacional ou quando assistimos a um espetáculo ou prova desportiva, que renovamos a nossa esperança que abril se cumpra não só hoje como nos restantes dias do ano”, salientou o presidente da Câmara. Vítor Marques reconheceu, contudo, que 50 anos cumpridos do estado de direito democrático, as liberdades e garantias alcançadas não se devem tomar como “inatacáveis”, referindo-se ao quadro de grande instabilidade, que potencia o fosso entre ricos e pobres e que promove uma atmosfera de desconfiança em relação aos políticos. Também o poder local “ainda não está no patamar ideal”, mas considera que segue o “rumo certo” ao “atacar os grandes flagelos sociais e reforçar, na medida do possível, as funções sociais do Estado”. No caso das Caldas, a aposta estratégica no termalismo, saúde, reabilitação urbana, melhoria da imagem urbana, lançamento de políticas públicas de habitação e reforço da identidade local e cultural são alguns dos objetivos, concluiu.
A cerimónia, que começou com o tradicional içar das bandeiras e largada de pombos, contou com a participação do coro do Conservatório das Caldas e também da Tuna da Universidade Sénior, que interpretaram canções alusivas à liberdade e ao 25 de Abril.

2600 cravos de croché
Uma instalação com 2600 cravos de croché preenchendo as palavras 25 de Abril foi colocada na Praça 25 de Abril para assinalar o 50º aniversário da revolução. De acordo com Conceição Henriques, vereadora e presidente da Universidade Sénior, a intervenção artística, que compreende um trabalho de 2600 horas, demorou apenas cerca de dois meses a concretizar-se, envolvendo cerca de 60 senhoras. A autarca destacou a “generosidade e entusiasmo” com que as alunas se dedicaram à concretização do mural e ressalvou que “estes cravos são o que o 25 de Abril também simboliza, as mãos do trabalho, das pessoas que em conjunto se unem para um objetivo comum”.
Mas a intervenção pouco tempo esteve completa, pois os cravos em croché têm sido retirados da estrutura. A autarquia já está em contactos com a Universidade Sénior para que possa vir a ser trabalhada uma outra solução artística, para aplicar na estrutura, mas desta vez mais perene.
No dia 25 de abril à tarde decorreu o tradicional concerto pela Banda Comércio e Indústria no Largo do Termal e, à noite, um espetáculo no CCC. Para além desses momentos culturais, houve cerimónias e atividades em diversas freguesias do concelho. As comemorações do 50º aniversário do 25 de Abril irão prolongar-se ao longo do ano. ■