Calor prolongado atrasa vendas em lojas de vestuário e calçado

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Gazeta das Caldas
Botas, roupa quente e castanhas - três produtos que ainda estão à espera do tempo frio para serem vendidos
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O Instituto Português do Mar e da Atmosfera previa que a chuva chegasse ontem, dia 23 de Novembro, depois de mais de 20 dias seguidos sem qualquer precipitação num mês em que já costuma chover bastante. Os últimos dados do IPMA revelam também que o mês de Outubro de 2017 foi o mais seco dos últimos 20 anos e o mais quente desde 1931. Ao nível do comércio, este “Verão prolongado” veio beneficiar uns e prejudicar outros: se os restaurantes e cafés puderam rentabilizar por mais tempo as esplanadas e notaram mais gente nas ruas do que é habitual nesta altura, as lojas de roupa e calçado pouco conseguiram vender das suas colecções de Outono/Inverno.

Susana Durão só vendeu chapéus-de-chuva no primeiro fim-de-semana de Novembro, quando choveu intensamente e foram muitas as pessoas – habituadas que estavam ao calor – apanhadas desprevenidas pelos aguaceiros. “Aquilo que achamos que vai acontecer é que a chuva vai chegar em força na mesma altura em que começam as primeiras promoções, por isso vamos acabar por sair prejudicados”, refere a funcionária da Carpel, realçando que os guarda-chuvas sempre foram artigos que a loja escoou bem, mas que desde o ano passado as alterações climáticas vieram trocar as voltas às compras dos consumidores. Inverno após Inverno, são cada vez mais os chapéus-de-chuva que ficam em stock na Carpel: “tenderemos a encomendar menos artigos nos próximos anos”, sublinha Susana Durão.
Já Elisabete Rebelo, proprietária da Exclusive Boutique, só tinha vendido dois guarda-chuvas até segunda-feira passada. “Ainda hoje à hora de almoço vi pessoas de manga curta, como é que assim podemos querer vender artigos de Inverno?”, questiona a lojista, que não tem conseguido escoar peças como casacos, lãs grossas, botas e acessórios (gorros, luvas e cachecóis). Até há duas semanas, Elisabete Rebelo vendeu essencialmente malhas mais finas e sedas. “Temos feito promoções esporádicas, principalmente ao fim-de-semana, para compensar o decréscimo de vendas, basicamente vivemos dos descontos e isso dá-nos prejuízo”, acrescenta a responsável, salientando que esta é uma realidade que tem vindo a sentir nos últimos dois anos. Desde então, Elisabete Rebelo deixou até de ter peças em armazém: tudo o que encomendou para a colecção de Outono/Inverno está exposto.
Da loja Jonas, Sandra Pinto também confirma que as vendas baixaram em comparação àquilo que costumava vender em anos anteriores. Isto se tivermos em conta peças como casacos de pelo e fazenda, e camisolas de malha grossa. “Em contrapartida, vendemos mais peças de tecidos finos e sedas, por isso achamos que vamos conseguir recuperar”, explica a lojista, que notou uma recuperação das vendas nas últimas duas semanas e dá conta que já no Inverno de 2016 o cenário foi semelhante.
Em pleno Outubro, foram vários os pais que chegaram à Benetton das Caldas à procura de t-shirts e calções para os seus filhos. T-shirts Helena Casimiro ainda tinha em armazém, agora calções já os tinha vendido todos. “Posso dizer que perdemos um mês e meio de vendas que já não vai ser recuperável”, afirma a responsável, revelando que só nos últimos 15 dias atendeu clientes à procura de abrigos de Inverno. Com possibilidade de gerir a roupa que recebe todas as semanas, Helena Casimiro revela que tem cancelado com regularidade encomendas que já tinha planeado. “Sobretudo na loja de vestuário para adultos, noto que a própria marca começa cada vez mais a pensar em colecções de Outono/Inverno com peças mais frescas”, acrescenta.

CALÇADO É O SECTOR MAIS AFECTADO

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Mas se o sector do vestuário foi claramente prejudicado, mais afectado ficou o do calçado.
Maria João Luís, proprietária da sapataria Bomtom, conta à Gazeta das Caldas  que já regista menos 25% de vendas em relação ao ano passado. “Normalmente começávamos a vender botas no final de Setembro e em Outubro tínhamos imensa procura. Este ano tem sido o cúmulo, ao ponto de uma turista inglesa ter vindo à loja esta semana perguntar se tínhamos chinelos porque não veio preparada para tanto calor”, comenta Maria João Luís, que vai pela primeira vez aderir à Black Friday (moda recente em que na última sexta-feira de Novembro as lojas praticam promoções) para apelar ao consumo.
Na sua opinião, é preciso aceitar que a mudança do clima será permanente e, por isso mesmo, repensar a política dos saldos. “Se nada for feito, acabaremos por vender toda a colecção nas semanas dos saldos, o que resultará na substancial diminuição dos lucros”, acrescenta Maria João, que também este ano encomendou mais sapatilhas (calçado que é transversal a todas as estações) e menos botas.
Da sapataria Gianna, Clara Marques dá o mesmo feedback: “o calçado de Inverno chegou, as pessoas param para ver, até experimentam, mas não compram com a justificação que não chove nem faz frio”. A proprietária nota um decréscimo de 30% das vendas em relação a 2016 e reforça a ideia de que é necessário alterar o funcionamento dos saldos porque a mudança do clima veio para ficar. “Os clientes preferem esperar até Dezembro para comprar, e se isso já se notava noutros anos, este ainda foi pior”, acrescenta Clara Marques, defendendo que os descontos só deveriam começar no final de Janeiro, como antes se praticava.

“NINGUÉM QUER COMER CASTANHAS COM CALOR”

Querem-se quentes e boas, querem-se quando faz frio. É isto que pensa o cliente sobre as castanhas assadas. O Inverno tardio também tem afectado (e muito) este negócio, que o diga Miguel Pires. “Estou a vender um terço do que costumava vender nesta altura”, conta, realçando que a falta de água também afectou a quantidade das castanhas produzidas.
“Comprei castanhas para o Inverno inteiro, se por acaso precisar de mais já não encontro fornecedores que as vendam com qualidade”, acrescenta o vendedor, que só nos últimos sete dias começou a ter mais procura.
Mas se todos estes sectores se têm vistos prejudicados com as elevadas temperaturas, para a generalidade do comércio o calor é favorável porque traz pessoas à rua. Restaurantes, bares e cafés – principalmente os que têm esplanada – têm beneficiado da mudança de clima, embora o bom tempo tenha levado a uma adaptação das ementas. Pratos mais “pesados”, como o cozido à portuguesa, a feijoada e os guisados tardaram em chegar às mesas, enquanto as saladas e os grelhados ficaram nos menus por mais tempo.
O mesmo se pode inferir em relação aos vinhos – os brancos ainda vão fazendo concorrência aos tintos, até que o Inverno se imponha e estes últimos reinem até à Primavera.

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