Catalina Pestana de regresso às Caldas 40 anos depois da primeira colónia de férias para filhos de presos políticos

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notícias das CaldasCatalina Pestana esteve nas Caldas da Rainha para debater a Educação na Actualidade, numa iniciativa do Movimento Viver o Concelho.
A sala da Biblioteca Municipal encheu-se de gente para ouvir a ex-provedora da Casa Pia, que há quatro décadas esteve nas Caldas e na Foz do Arelho com a primeira colónia de férias para filhos dos presos políticos tal como recordou à Gazeta das Caldas, no final da conferência, realizada a 21 de Maio.

“Ser professor hoje é uma profissão de risco pois estes profissionais não estão preparados para o público heterogéneo que vai às escolas”. Palavras de Catalina Pestana que recordou que antes do 25 de Abril “estudar era um privilégio de poucos”. Com a Revolução, exigiu-se “o ensino unificado e sua democratização”, recordou a convidada. Só que afinal o ensino para todos “não correu assim tão bem” pois há jovens que estão nas escolas “por mil e uma razões, mas da lista não faz parte aprender”. E deu como exemplo os beneficiários do rendimento mínimo (ou pensões congéneres) que são obrigados a ter os filhos na escola. “Logo, em números redondos, são mais 27 mil estudantes no sistema educativo que lá estão obrigados”, disse Catalina Pestana.
Há jovens nas escolas portuguesas que frequentam a escola por outros motivos, “uns para comer uma refeição quente” e outros “porque é onde estão os seus amigos”, afirmou a convidada.
Em 1993 a convidada desenvolveu um estudo com Daniel Sampaio e concluíram que “todos gostam da escola, só não gostam é das aulas”, disse, acrescentando que “há algo que não soubemos ou pudemos transformar”.
Apesar de tudo, a convidada defende a escola democrática e considera que há alternativas para jovens com necessidades especiais. Estas necessidades não têm apenas a ver com deficiências, mas também com problemas sociais e indisciplina. No entanto, há no país equipas de professores preparados para estes jovens. “Há miúdos que têm que aprender a comportar-se”, disse.

“Sem preconceitos, nem certezas”

O essencial, no desenvolvimento de uma criança, “está na sua relação com os outros e em idade precoce”, comentou a oradora, que acrescentou que ao longo da sua carreira teve que explicar a 11 ministros da Educação a importância do pré-escolar.
Em casos de separação dos pais, Catalina Pestana considera que mãe e pai são igualmente importantes para a criança e que hoje “muitos pais usufruem dos seus direitos de paternidade em igualdade com as mães”. Até porque ambos são necessários ao crescimento equilibrado da criança, que é “um ser autónomo que nós ajudamos a crescer”.
A oradora afirmou que “não tem certezas nem preconceitos” quanto à adopção de pais homossexuais e que é preciso “avaliar caso a caso e optar pelo que é melhor para a criança”. Para a educadora “não há normalidade” e o que é bom “é o que for mais eficaz para a criança em causa”.
A ex-provedora da Casa Pia recordou que faz parte da Rede de Cuidadores – uma associação de defesa de crianças vítimas de maus-tratos (que surgiu em 2008 e em sequência do caso Casa Pia) e conta que a maioria dos miúdos abusados “tem uma pressa louca em ter filhos e demonstrar a sua masculinidade”. O problema  é que, no fundo, são “crianças mal acabadas pois há componentes da sua personalidade que ficaram tocadas para sempre”.
No final dos ano 90, Catalina Pestana dirigiu o Plano para a Eliminação de Exploração do Trabalho Infantil e fez questão de referir que há pais que colocam os filhos nos castings das séries televisivas, quando, na verdade, gravar uma novela “ainda consegue ser mais destruidor que o trabalho numa fábrica”.
Esta conferencia decorreu no âmbito do ciclo “21 às 21” e a próxima sessão que também decorrerá na Biblioteca, terá como convidado João Ermida, que deixou o mundo da alta finança – tendo feito carreira no grupo Santander  – para se dedicar a projectos de cariz social. É autor da obra “Verdade, Humildade e Solidariedade” e dá palestras em empresas e escolas de gestão.

As férias do filhos dos presos políticos…

A primeira vez que Catalina Pestana esteve nas Caldas foi em 1969. Tinha então 22 anos e veio acompanhar a primeira colónia de férias dos filhos dos presos políticos na Foz do Arelho, tendo o grupo ficado instalado na casa de Maldonado Freitas. A ex-provedora da Casa Pia recorda-se que as viagens entre a cidade e a Foz eram feitas “em autocarros públicos” e que durante as tardes, depois da praia, “vínhamos sempre passear para o Parque”.
Depois das Caldas, as colónias passaram a realizar-se no Baleal pois deste modo as crianças estavam mais perto de Peniche, em cujo forte estavam encarcerados os presos políticos. Muitos deles eram do Alentejo e antes destas colónias de férias as crianças só viam os parentes uma a duas vezes por ano.
“Estando aqui com eles de férias, podíamos ir vê-los todos os dias à tarde e nós revezávamos as visitas”, recordou Catalina Pestana, acrescentando como eram experiências únicas pois “muitos nem conheciam os seus pais”.
A ex-provedora contou que tinha então no concelho caldense um grande homem e amigo que marcou a sua a vida – o padre Felicidade Alves, natural de Salir de Matos e opositor ao regime. Depois deste ter deixado o sacerdócio e casado, Catalina Pestana era uma das convidadas do casal.
A oradora recordou que, ao longo dos anos, as Caldas da Rainha sempre “manteve uma forte actividade cultural”.

…e as Férias Cívicas de hoje

A associação cívica Movimento Viver o Concelho (MVC) vai realizar as primeiras Férias Cívicas que decorrerão nas Caldas, entre os dias 18 a 22 de Julho e que têm como público alvo jovens com idades entre os 12 e os 16 anos que normalmente têm poucas actividades organizadas no período da pausa escolar.
Segundo Teresa Serrenho, presidente do MVC, a iniciativa contempla visitas a Lisboa, à Casa do Gil, ao Museu da Electricidade e ao Oceanário, bem como à Resioeste, à sede do Teatro da Rainha, à Biblioteca Municipal das Caldas e a uma escola de vela na Nazaré.
O transporte será assegurado pela Junta de Freguesia de Nossa Senhora do Pópulo e o grupo terá o acompanhamento de responsáveis do MVC.
Como esta semana de actividades tem subjacente a ideia de participação cívica, nem os participantes nem as entidades que estão a participar no projecto cobram dinheiro.
As inscrições estão abertas até 18 de Junho e podem ser feitas através do e-mail viveroconcelho@gmail.com ou do telmv. 937254836.