Cavaco Silva elogia “responsabilidade social” dos 150 anos do Montepio das Caldas

0
705

No âmbito do Roteiro das Comunidades Locais e Inovadoras pela região Oeste, Caldas da Rainha foi contemplada com a visita do Presidente da República, que se realizou no passado sábado dia 8 de Maio. Sem ser considerada uma visita “oficial de pré-campanha”, Cavaco Silva fez questão de homenagear o “contributo social” que o Montepio Rainha D. Leonor tem proporcionado à população durante os seus 150 anos de existência. Já no dia anterior, o Presidente andou pelos concelhos de Peniche e Nazaré onde se manifestou “bastante satisfeito” com os programas estratégicos de desenvolvimento marítimo, adoptados por estes municípios.

Coube também à Santa Casa da Misericórdia das Caldas receber as honras da visita do Chefe de Estado na cidade. Pelas 15h15, a comitiva presidencial chegou ao local, mas a visita resumiu-se a uma reunião do Presidente com os responsáveis da instituição, que durou pouco mais de 45 minutos. À saída não houve declarações aos jornalistas.

A visita prosseguiu no Montepio Rainha D. Leonor, onde Cavaco Silva inaugurou uma placa representativa dos 150 anos da instituição. Seguiram-se os habituais discursos, que acabaram por ocupar grande parte do espaço de tempo que o Presidente da República tinha guardado para a visita às instalações do Montepio, que acabou por se realizar de forma apressada.

Sanches de Sousa, presidente do Montepio, relatou detalhadamente a história da instituição e não deixou escapar a oportunidade de fazer o alerta para os “riscos” dos grandes investimentos, tendo, no entanto, apelado à construção da farmácia social, projecto ambicionado pela instituição desde 2004 e “prometida por diversos governantes”.

Cavaco Silva salientou que o Montepio das Caldas é “uma boa combinação da responsabilidade com a solidariedade” e “um exemplo que deve ser reconhecido e replicado no nosso país”.

Sem poupar nos elogios, o Presidente acrescentou que esta “é uma instituição que nasceu dos cidadãos e que está exposta aos problemas sociais de uma região. Mostra claramente a vantagem da questão da proximidade na resolução dos problemas, pois é pelo conhecimento local que se consegue minorar o sofrimento daqueles que mais necessitam”.

No final da sessão, o presidente da Câmara, Fernando Costa, fez questão de oferecer lembranças da cidade ao Presidente da República e à Primeira-Dama.

PENICHE ELOGIADA PELA SUA APOSTA NO MAR

Esta jornada iniciara-se já na sexta-feira, na fortaleza de Peniche, no qual Cavaco Silva se congratulou com a Câmara Municipal “por ter aprovado uma estratégia”, no âmbito do desporto, educação e empreendedorismo, ainda antes de existir uma verdadeira agenda sobre o mar.

“Demonstrou visão e capacidade de aproveitar um recurso em benefício da população, sabendo mobilizar as condições de exploração do mar, que tomou como ponto de partida a estratégia nacional que tinha sido desenhada já há vários anos”, disse o Presidente da República, referindo-se aquele município.

“Num tempo de globalização e de integração, o país precisa de encontrar qualquer coisa que o diferencie dos outros países, tal como cada concelho deve aproveitar e valorizar os seus recursos próprios. E aqui em Peniche houve a sabedoria de perceber que o mais valioso recurso próprio é o mar”, prosseguiu, dando como exemplos de boas práticas o que tem vindo a ser feito nos portos, nos transportes marítimos e no turismo ligado ao mar, este último apontado como “bom exemplo de projecto, que a Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar [ESTM] tem desenvolvido”.

Na Nazaré, que visitou ainda durante a manhã, Cavaco Silva inaugurou os recifes artificiais no Porto de Abrigo, um projecto que vai contribuir para o incremento da produção biológica, promoção da biodiversidade marinha, protecção de juvenis e revitalização dos ecossistemas.

Dirigindo-se aos pescadores, o Presidente da República disse que “a profissão de pescador artesanal é a mais perigosa em toda a Europa e ainda por cima a sua remuneração é a mais baixa”. Contudo, espera que a atitude “de riqueza” que se está a tentar incrementar nos portugueses em relação ao mar “também se traduza na melhoria dos rendimentos dos pescadores”.

Ainda no primeiro dia do roteiro, Cavaco Silva visitou empresas que se enquadram no perfil das indústrias criativas e inovadoras, as quais apresentou como exemplos a seguir. O Grupo Vangest na Marinha Grande e a LN Moldes da Maceira, ambas fabricantes de moldes, o Grupo Meneses em Porto de Mós, que se dedica ao fabrico de estruturas metálicas e de produção de compostos químicos, e a ICEL, na Benedita, empresa especializada no nicho das facas e cortantes para aplicações profissionais, foram as empresas escolhidas.

Tânia Marques


Presidente insiste e Sócrates recua no TGV

Apesar do objectivo do roteiro presidencial ser o de enfatizar o progresso das indústrias criativas e inovadoras da região do Oeste, a questão das grandes obras públicas não foi deixada de parte. Na Nazaré, Cavaco Silva respondeu a Manuel Alegre (e indirectamente a José Sócrates) sobre a possível “intromissão” do Presidente nos assuntos governamentais.

“Nunca se deve falar sobre declarações do Presidente sem saber exactamente o que é que ele está falar. Na página da Presidência da República está lá aquilo que eu, como Presidente, disse em relação aos investimentos, e se for necessário lembrar, eu tenho boa memória”, ironizou Cavaco Silva.

O chefe de Estado disse que é necessário reavaliar tanto os investimentos públicos como privados, em especial na área dos bens não transaccionáveis que sejam de capital intensivo e que tenham uma componente importada. “Mas parece que algumas pessoas não quiseram ouvir a totalidade desta declaração, que é uma declaração que corresponde àquilo que os manuais de macroeconomia nos ensinam para um país que tem duas dificuldades em simultâneo: uma elevada divida externa e um elevado desemprego”, explicou o Presidente.

Sem querer comentar projectos específicos, Cavaco Silva deixou claro o seu receio pela construção do primeiro troço do TGV (Poceirão-Caia), embora tenha promulgado dias antes a lei de bases que permite aquela obra avançar através de um consórcio.

“O acto de promulgação não significa adesão a todas as normas de um diploma”, declarou. Eu sei distinguir aquilo que é a minha opinião e aquilo que considero ser a tarefa de um executivo. E nessa matéria considero que o executivo tem competências para tomar as suas decisões, mas a mim compete, analisar os diplomas e pedir esclarecimentos”, lembrou o chefe de Estado.

O que é certo é que no dia seguinte, apesar de ter assinado a adjudicação do primeiro troço do projecto do TGV, Sócrates recuou e admitiu reavaliar a Terceira Travessia do Tejo (imprescindível para que a alta velocidade possa, de facto, ligar Lisboa a Madrid),  o que, na prática, significa atrasar um projecto que tinha data marcada para 2013.

Entre os vários cenários abertos, é possível que seja necessário realizar novo concurso público para aquela ponte (estando em causa a inclusão ou não de um tabuleiro rodoviário numa obra que é essencialmente ferroviária) ou a reformulação do projecto e a sua adjudicação ao consórcio que apresentou melhor preço.

Está, contudo, mais ao menos assumido que o TGV em Portugal vai parar no Poceirão, ficando a ligação Lisboa-Madrid muito penalizada. Para o Oeste, a alta velocidade perde assim grande parte do seu interesse pois, mesmo que se consigam soluções tecnológicas para que os comboios de alta velocidade atravessem o Tejo e venham à estação do Oriente, o tempo de percurso ficará muito aumentado face às 2 horas e 45 minutos que inicialmente estavam previstos entre as duas capitais ibéricas.

Tânia Marques