Quando Cavaco Silva chegou à Praça da Fruta na passada segunda-feira, dia 10 de Janeiro (passavam poucos minutos das 11h30) já muita gente o esperava. Uns queriam ver de perto o Presidente da República que apenas conheciam da televisão, outros queriam mostrar-lhe o seu apoio na candidatura às presidenciais do próximo dia 23. O resultado: um aparato de polícias, seguranças, apoiantes, jornalistas e transeuntes que se viram inesperadamente apanhados na confusão numa arruada que se prolongou por entre o mercado caldense e a estação de correios local.
O percurso foi feito devagar. A quantidade de pessoas que queria apertar a mão ao candidato ou que lhe queria dirigir algumas palavras e se ia amontoando assim o obrigou. E os recados começaram logo na Praça da Fruta.
Um dos primeiros a abordar o presidente foi um aluno do Colégio Rainha D. Leonor, que pediu ao presidente que fizesse alguma coisa contra o corte de financiamento ao ensino privado e cooperativo. O tema tem sido recorrente na campanha de Cavaco Silva, que nas vésperas se tinha deparado com alguns milhares de jovens reunidos em manifestação pelos lugares por onde andou em campanha (e que viria a repetir-se ao final desse mesmo dia em Leiria).
Bastou o candidato virar-se e logo um outro pedido. “Não tenha medo dele”, pedia uma senhora, referindo-se ao primeiro-ministro José Sócrates. E foi a rir que Cavaco Silva respondeu à senhora: “não tenho, é por isso que estou aqui”. Cavaco não falou aos jornalistas, mas não se esquivou dos populares que o abordavam e lhe conseguiam chegar, uns para lhe dizer que vão votar nele, outros para lhe darem conta das dificuldades que vivem todos os dias, a tentarem sobreviver com uma “pensão miserável”.
Mais tristes ficaram as vendedoras da Praça da Fruta, prontinhas para darem um beijo ao Presidente, mas que acabaram por o ver desaparecer da sua vista entre um amontoado de cabeças, objectivas de máquinas fotográficas e câmaras de televisão. “Não há direito”, dizia uma delas. “Queria que ele viesse à minha banca comprar umas peras e ele não veio”, queixava-se. Uns metros mais à frente, nova queixa: “ando aí às vezes à procura de um polícia que seja e não há e hoje estão cá todos”.
Entre apoiantes, caras conhecidas do PSD e CDS-PP, os dois partidos que apoiam a sua candidatura, Cavaco lá foi percorrendo à velocidade que podia a Rua das Montras, distribuindo cartões e sorrisos, acompanhado pela esposa, quase tão abordada como o actual Presidente da República. A chuva também não faltou, ainda que timidamente, nesta arruada, onde se cumpriu o já quase ritual de tomar café na Venezia, nas visitas políticas e acções de rua pelo centro da cidade.
Já na rua Heróis da Grande Guerra, Cavaco foi abordado por quem não se esquece que era ele quem estava a governar o país quando começaram a vir da Europa os fundos para que os agricultores deixassem de produzir. “Obrigadinha pelo que fez à agricultura. Agora andamos todos a passar fome”, gritou-lhe uma mulher. Cavaco Silva parou e disse à senhora que já no dia anterior tinha defendido mais apoio aos agricultores e que a região Oeste é a maior produtora de fruticultura do país, acrescentando ainda que dali seguiria para Alcobaça onde iria, bem a propósito, almoçar com agricultores. A senhora não se mostrou muito convencida com a explicação, mas o candidato lá seguiu recebendo mais aplausos, distribuindo mais cartões e colhendo algumas flores que lhe ofereceram.
Às 12h15 Cavaco Silva pendurava-se na porta do carro para, num plano mais alto, acenar aos apoiantes e simpatizantes que o acompanharam nesta arruada pelas Caldas e foi entre aplausos que seguiu rumo a Alcobaça, onde 15 minutos depois era esperado para almoçar por dirigentes políticos e agricultores.
Região é “exemplo para o resto do país” no sector agrícola
Em terras de Cister, o candidato garantiu que o sector da agricultura sempre lhe mereceu “a maior atenção” e confessou-se “o agricultor da família”, cuidando dos prédios rústicos que herdou depois da morte dos pais, onde produz laranjas, anonas e abacates que diz oferecer a amigos e instituições de solidariedade.
Neste sector, Cavaco Silva diz que a região “pode ser apresentada como um exemplo para o resto do país”, salientando “o esforço que aqui tem sido feito para construir uma agricultura moderna”, em particular nos sectores de horticultura e fruticultura, bem como na vitivinicultura.
O candidato afirmou que “o sector agrícola pode dar um grande contributo para resolver os problemas do país”, cujo défice alimentar ronda os 3.500 milhões de euros. É preciso “produzir mais, exportar mais e importar menos”, contribuindo para atenuar o endividamento excessivo de Portugal perante os países estrangeiros. “Para isso, bastava que existisse o tal apoio consistente e continuado à produção competitiva”, defendeu, ao mesmo tempo que falou da necessidade de se aproveitarem melhor os fundos comunitários destinados a agricultores e de não se desperdiçarem os apoios disponíveis.
Menos burocracia, mais atenção aos agricultores por parte dos governantes, (tendo o cuidado de salientar que não estava a falar do actual ministro da Agricultura, António Serrano), e união entre associações empresariais do sector agrícola e responsáveis políticos, “por forma a que os interesses nacionais sejam devidamente acautelados”, foram alguns dos apelos que deixou. A estes juntou um outro que tem sido constantemente feito por diferentes figuras nacionais: que os portugueses dêem preferência aos produtos produzidos em Portugal.
A este mesmo repto juntou-se também o mandatário para o concelho de Alcobaça da candidatura de Cavaco Silva, Jorge Soares, presidente da Associação de Produtores de Maçã de Alcobaça, que considerou que “não faz o menor sentido importar” os produtos agrícolas que podiam perfeitamente ser produzidos pelo país, sejam eles produtos hortícolas ou fruta, seja nas áreas da produção vínica e produção animal. Numa região de produção de maçã por excelência, Jorge Soares, lamentou que se importem “cinco mil camiões de maçã por ano”, cada um deles correspondente a um posto de trabalho que se poderia criar na região. E isto, garante, não acontece apenas com a maçã, mas com cerca de três dezenas de produtos.
Jorge Soares disse ainda que em Alcobaça, se as terras que se abandonaram nos últimos 20 anos, após a adesão à comunidade europeia, estivessem a produzir, seriam empregadas “mais de 1200 pessoas, penso que mais do que o desemprego que existe em Alcobaça”, defendeu.
Joana Fialho
jfialho@gazetadascaldas.pt