“O CHO é uma espécie de catálogo de como não se deve trabalhar em Saúde”

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Noticias das Caldas
O actual bastonário, Miguel Guimarães deixou claro que a fusão que resultou no CHO não beneficiou nada nem ninguém | N.N.

A Ordem dos Médicos (OM) é contra a fusão dos hospitais que determinou o CHO pois este acaba por ser “uma espécie de catálogo de como não se deve trabalhar em saúde”, diz Nuno Santa Clara, o novo presidente da sub-região Oeste da Ordem dos Médicos, que tomou posse a 9 de Março.
Presente na cerimónia esteve Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos que acha que o Governo deve corrigir as deficiências existentes nos hospitais se não quiser perder o que considera a jóia da coroa da democracia portuguesa: o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Já são 35% os portugueses que dele se afastaram e preferem os seguros de saúde.

Nuno Santa Clara é o novo presidente da sub-região Oeste da Ordem dos Médicos. Sucede a Pedro Coito, que liderou o então distrito médico oestino nos dois anteriores mandatos. Muito crítico em relação à fusão que permitiu a criação do CHO (que agrupa os hospitais de Caldas, Peniche e Torres Vedras), o novo presidente referiu a urgente necessidade “da alteração do estatutos jurídicos do hospital”, dado que assim não é possível agilizar a gestão. Por exemplo, não se pode contratar um especialista de um dia para o outro nem comprar uma garrafa de água. “É preciso, para isso, um visto do Tribunal de Contas e da Secretaria de Estado do Tesouro, do Ministério das Finanças, etc… Assim as coisas complicam-se”, disse.
Para Nuno Santa Clara, a fusão “saldou-se por um downsizing nos serviços hospitalares da região com uma diminuição de camas em todas as especialidades, com excepção da cirurgia geral”. Somam-se problemas logísticos e de interligação entre as unidades das Caldas e de Torres com consequências “gravosas”, para profissionais e doentes. “Continua a ser preocupante que não haja hoje transporte rodoviário directo entre Torres e Caldas”, disse.
Ao fim destes anos da fusão, “está tudo na mesma ou talvez pior nas urgências das Caldas e de Torres”, disse. Os profissionais e os doentes estão “indignados”, e hoje vive-se no CHO “uma espécie de catálogo de como os médicos não devem trabalhar e as condições em que os doentes não devem estar”.
Por outro lado, acha necessário “cativar os profissionais” e dar
-lhes condições para trabalhar de modo a que se consigam preencher as vagas dos concursos. “É preciso dar  às pessoas condições de desenvolvimento”, isso tem a ver “com o reconhecimento do mérito, algo que tem faltado e não só em relação aos médicos”, disse.
Sobre a prevista ampliação da urgência das Caldas, Santa Clara mostra-se céptico. “Quando comecei a trabalhar há 33 anos no Hospital de Torres Vedras, a urgência  era um décimo do que é hoje”, disse, acrescentando, que segundo a sua experiência, durante três ou quatro meses “alivia-se a pressão e, a seguir, o que era um caos mantém-se, só que com o dobro do tamanho”.

 

“SNS é a jóia da coroa da democracia”

Para o novo bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, fusões dos centros hospitalares raramente funcionam. “Temos mais exemplos desastrosos em Portugal como o do Centro Hospitalar do Algarve”, disse, acrescentando que a fusão “veio complicar a vida de quem lá vive”. Acabam por ter apenas um ou dois especialistas que não conseguem dar resposta à grande procura. Os protocolos com outros hospitais “desaparecem”, o que em termos práticos significa que “a população tem menos acesso aos cuidados de saúde”. Miguel Guimarães afirmou ainda que a OM vai trabalhar com as suas sub-regiões pois são estas que estão no terreno e conhecem as dificuldades. Depois, será feito o Relatório Branco, com o levantamento do que se passa em todo o país, que vai ser apresentado ao ministro de Saúde e tornado público.
“O governo tem a obrigação de corrigir as deficiências. Se não o fizer, vai deixar o SNS escorregar na rampa inclinada em que este se encontra”, afirmou  o bastonário, preocupado com percentagem de portugueses – que se situa entre os 35% e os 37% – que já recorre a serviços privados (seguros de saúde). “É uma situação que urge inverter se queremos manter a joia da coroa da nossa democracia: o SNS”, rematou.
Nesta sessão de tomada de posse dos orgãos regionais, foram dadas as boas-vindas aos  83 médicos internos que vão integrar o CHO e as USFs da região.

Conselho Sub-Região do Oeste

Presidente – Nuno Santa Clara
Vice-presidente – Ana Cristina Teotónio
Secretária – Isabel Ramos
Mesa da Assembleia

Presidente – Helena Almeida
Vice-presidente – António Dias
Secretária – Maria do Rosário Monteiro