Cinquenta anos depois do comando do Batalhão de Caçadores 158 ter marchado das Caldas para Angola, a 28 de Junho de 1961, os seus antigos elementos voltaram a reunir-se no quartel das Caldas (agora Escola de Sargentos do Exército) num encontro comemorativo que incluiu missa, uma homenagem aos já falecidos e um almoço.
No início da guerra colonial foi do Regimento de Infantaria nº 5 que seguiu para África a CCS (Companhia de Comando e Serviços) que comandou as restantes companhias que partiram de Abrantes, Amadora e Beja. Todos os militares desse batalhão seguiram no Vera Cruz, um dos navios que fazia o transporte das tropas de Portugal para as então colónias africanas.
Há 30 anos que alguns dos membros deste batalhão se reúnem anualmente em vários locais do país, mas em 2011 fizeram questão de voltar às Caldas da Rainha para mais um convívio entre antigos camaradas de armas e familiares.
Para assinalar esta efeméride foi descerrada uma placa comemorativa no edifício do comando da ESE.
Um dos organizadores destes encontros anuais, Manuel Alvéolos, é de Sintra e pertencia à companhia 164 do Regimento de Infantaria 1. “Eu organizo estes almoços há 30 anos porque tenho uma paixão por isto”, contou à Gazeta das Caldas.
Estiveram 28 meses em Angola e são muitas as recordações. “Houve muitas coisas desagradáveis e tristes, mas houve outras muito alegres e boas”, adiantou. Aos 73 anos, Manuel Alvéolos ainda se lembra dos intensos combates, mas prefere recordar-se dos momentos de convívio. “O melhor de tudo era quando chegava o avião com o correio. Era uma alegria muito grande”, disse.
Houve amizades que ficaram para toda a vida e todos os anos há “um grupo restrito de amigos do batalhão” que se reúne num almoço mais recatado. Um dos elementos desse grupo é o caldense Vítor Pina, que fez parte da Companhia 165 e fez questão de convidar o nosso jornal para estar presente neste encontro.
Vítor Pina tem 72 anos e é do Casal da Marinha (Santa Catarina). Como era escriturário, o antigo militar nunca esteve em combate, mas um dia apanhou um grande susto quando foi apanhar ananases com os seus colegas. “Havia uns gajos que começaram a despejar balas sem necessidade e eu comecei a pensar o que aconteceria se fossemos atacados porque estavam sem munições”, contou. Depois disso, nunca mais voltou a aventurar-se fora do quartel, onde cumpria a sua função.
Desembarque em Angola em Julho de 1961
Os homens do batalhão desembarcaram em Angola a 7 de Julho de 1961 e a 23 de Julho içaram pela primeira vez a bandeira do batalhão. “Vivia-se em Luanda um clima de guerra, a população não saía à rua sem levar na sovaqueira algo com que se sentisse ‘amparada’ na hipótese de continuarem a rebentar focos de revolução. Como vão, felizmente, ultrapassados esses dias amargos”, descrevia o capitão Rui Taveira, a poucos dias do regresso a Portugal, num livro sobre o batalhão.
Essa obra descreve os vários movimentos das várias companhias que compunham este grupo de militares, desde as escoltas aos apoios sociais à população local e às operações para abrir itinerários pelo território angolano. O livro também não esquece as primeiras baixas, que aconteceram a 22 de Agosto de 1961, em Zala.
Para sempre terão ficado os laços entre os militares. “Oficiais, Sargentos e Praças do 158 – ides deixar Angola, depois de dois anos de luta e sacrifício pela causa da Pátria. Regressais de cabeça erguida, porque cumpristes com o vosso dever e não atraiçoastes, por um só momento o legítimo orgulho de serdes filhos de Portugal”. A frase foi escrita pelo tenente-coronel Manuel Marques, comandante do batalhão, na hora de regresso dos seus homens a Portugal.